Novamente o Paraíso. Desta vez, prende as atenções das autoridades sanitárias após registar os primeiros casos de cólera, no dia 7 de Janeiro.
Nas primeiras horas da última segunda-feira, dia 13 do mês em curso, foi de agitação neste bairro, isto porque a população recebeu a visita da ministra da saúde, Sílvia Lutucuta, acompanhada de vários membros de outras instituições para averiguar a real situação dos moradores. Junto do único posto de saúde do bairro Paraíso, mas conhecido por posto do FAS, viam-se as forças da ordem pública, uns na estrada, outros na viatura.
Do lado direito, foi montada uma tenda destinada a distribuir lixívia para a população desinfectar a água que consome, de modo a evitar a disseminação da cólera.
Falando em representação do povo, o vice-presidente da comissão de moradores do bairro Paraíso, Jacinto António Kibene, conta que inicialmente a localidade era habitada apenas por deslocados de guerra oriundos da província do Uíge e alguns da parte Sul do país.
O bairro cresceu e as questões básicas não foram salvaguardadas, pois o saneamento básico é feito com os coordenadores dos quarterões, moradores e as igrejas que têm realizado campanhas de limpeza.
Depois da campanha, o lixo é depositado no contentor e aguardam-se três dias para que a em- presa ELISAL passe e recolha. São contemplados com esta recolha os moradores que estão na entrada do bairro, onde tem o contentor, mas os que vivem no interior, propriamente nas imediações da vala que se encontra na Recolix, até o PUNIV, não têm um local fixo ou ideal para depositar o lixo.
Os resíduos sólidos são colocados junto a uma vala de drenagem. É ali onde reside o problema, pois quando chove, este lixo junta-se com a água e, com a agravante de não existir um abastecimento eficaz de água potável, aparecem as doenças. No que concerne ao abastecmento de água potável, Jacinto Kibene conta que o bairro Paraíso tem uma conduta de água localizada na zona Maria do Céu.
Desta ligação, apenas 800 residências beneficiam-se do líquido precioso. Têm também um chafariz para população, mas não é suficiente para atender os 152 mil habitantes que vivem no bairro. Por isso, os apelos vão para as entidades máximas, no sentido de encontrarem solução da preocupação que os aflige, que entendem que será ultrapassada quando interligarem a conduta que não está ligada na totalidade, que sai do posto de abastecimento do centro dos Mulenvos, passa no interior do bairro Paraíso, até ao posto de saúde do FAS.
Se resolverem esta preocupação, a situação da falta de água no bairro Paraíso será ultrapassada. Jacinto Kibene frisou que a administração municipal tem conhecimento, tendo em conta que as 800 ligações domiciliares foram feitas com a intervenção da mesma, que contactou uma empresa privada para a execução do trabalho e tem minimizado a carência da água na região.
“Porém, o problema que temos do surto de cólera encontrou a falta de água a nível da província de Luanda. A administração está a trabalhar com a EPAL e estão a abastecer água no bairro, onde alguns tanques estão a ser reabastecidos”, disse Jacinto Kibene.
População disponibiliza reservatórios para minimizar a carência de água
Numa primeira fase, foram cadastrados 17 tanques, no quarteirão número 6, que vai ao PUNIV.Na segunda fase, foi registado igual número, actualmente estão a ser notificadas as zonas que fazem fronteira com a área onde foi diagnosticado o surto, Q22, Q28, Q19, Q27, Q37, Q7, Q35, Q9, Q8 e Q1, no centro do bairro onde estão a ser montadas as tendas para assistir os doentes da cólera.
Em suma, o abastecimento de água nestas localidades está minimamente acautelado, mas não cobre as necessidades, uma vez que a água nos reservatórios não faz 24 horas, em função do número de habitantes, cada família leva no máximo três bacias de água.
Outra preocupação que aflige os moradores do bairro Paraíso é a necessidade de construção de mais um posto de saúde, que trabalha 24 horas por dia, isto porque não têm uma instituição de saúde que acode a população no período noturno e com maior capacidade de atendimento. Marinela Domingos, moradora do bairro da Cerâmica, afirma que a população não está preparada para enfrentar a patologia, porque o saneamento não é levado com seriedade, não se regista recolha de lixo com regularidade, e quando cai chuva há muitos charcos.
As casas que têm água canalizada, algumas não correm e, nas que jorram, a água é salobra. “A nossa maior preocupação é o abastecimento de água potável e lixívia, para assegurar a higienização nas nossas residências”, finalizou, Marinela Domingos.
Média diária de três casos de cólera
Daniel José, administrador do posto de saúde do bairro Paraíso, disse à nossa reportagem que desde a semana passada que a unidade sanitária começou a registar casos suspeitos de cólera. Até o dia 13 de Janeiro, os técnicos registaram 12 casos, entre os quais um positivo, e os 11 foram encaminhados para a área específica, tendo em conta que o posto não tem condições para dar seguimento à patologia.
Para os doentes que são atendidos nas consultas externas com sintomas de cólera, como diarreia e vómitos, foi criada uma área reservada para estes casos, onde é feita a reidratação e avaliado com urgência. Em função do estado de desidratação grave e imunidade leve, o serviço de emergências médicas é accionado e o paciente encaminhado para o hospital municipal do Cacuaco.
No posto de saúde do bairro Paraíso já foram atendidos todas as faixas etárias, desde crianças, jovens e adultos, pelo facto, todos os cuidados primários para combater a patologia estão assegurados, desde o abastecimento de água e os produtos para manter a higiene da unidade sanitária.
Segundo Daniel José, esta fase que estão a vivenciar no centro é delicada e as informações devem ser redobradas, pelo que, todos os dias, antes de começarem a jornada laboral, fazem palestras para além da habitual que têm feito, sobre as medidas de prevenção da cólera. As patologias mais registadas no centro de saúde do Paraíso são o paludismo, doenças respiratórias agudas, infecções cutâneas (doenças dermatológicas), doenças diarreicas agudas e gastrite.
Na unidade sanitária são atendidos em média 180 a 200 pacientes. Daniel José referiu que, quanto aos casos suspeitos de cólera, por dia são reportados em média três casos. Lembrou que o centro de saúde do bairro Paraíso trabalha das 8 às 15 horas, mas em função dos casos de cólera que tem vindo a reportar nestas últimas semanas, o horário se estendeu para as 18 horas. Trabalham na instituição sanitária oito técnicos de saúde, dentre os quais um de diagnóstico terapêutico e sete na área de enfermagem.
A unidade sanitária não conta com nenhum médico, assim sendo, o responsável apela a quem de direito que enquadre no seu quadro de recursos humanos, pelo menos, dois médicos e acrescente mais um técnico de enfermagem.