O especialista em recursos marinhos, Fastudo Quaresma Pacheco, encoraja o Ministério das Pescas e Recursos Marinhos a proibir, temporariamente, as actividades pesqueiras com embarcações de arrasto, por estarem a destruir a biomassa.
“Só para ver, foi feita a veda recentemente, mas, até hoje, o quadro não mudou e, por causa disso,tinha de se redefinir as políticas todas com um conjunto de medidas que devem ser tomadas, sobretudo proibir a pesca por grandes arrastões.
Aliás, o resultado indesejado da veda do carapau deve impor proibição da pesca por arrasto”, disse o engenheiro pesqueiro, tendo adiantado que a busca de soluções tem de abranger todos os profissionais do ramo.
De acordo com Fastudo Quaresma, a falta de resultados satisfatórios da veda do carapau deve-se às deficientes políticas, porque para um grupo de pescadores foi proibido, mas para os chineses, com as embarcações de arrasto, não.
“A questão não tem a ver com a vontade de fiscalizar, mas com as políticas que são gizadas que levam que a fiscalização seja imponente. É necessário rever-se a agenda nacional de pesca, buscar consenso, sentar para definir bem as políticas”,asseverou o técnico marinho.
Mudar a legislação pesqueira, ao ponto de a nova impor mais rigor na questão do licenciamento é o que defende o interlocutor de OPAÍS, porque, segundo ele, se a nossa biomassa está fraca,há necessidadede poder já proibir as grandes multinacionais que aparecem em Angola. “E a explicação é muito simples.
Perante ao enfraquecimento da biomassa, temos que proibir. As licenças que são passadas para os expatriados, como os chineses e outros, que têm meios e técnicas muito avançados e destrutivos que sugam tudo, comprometem e destroem a biomassa”, denunciou o engenheiro, tendo acrescentado que até a cadeia alimentar e o ambiente de desova das espécies marinhas são destruídos por esses navios de pesca.
Questionou, igualmente, como é que o quadro da biomassa vai alterar, quando existe grandes violações nas baías, sobretudo nos mares de Luanda e nas da costa mais a norte de Angola.
A agenda nacional de pesca pela qual o entrevistado muito clama é que deve criar o Instituto Nacional de Pesca vocacionado a velar pelo controlo da biomassa. “Até agora o Ministério das Pescas e Recursos Marinhos não apresentou um relatório convincente do resultado da última veda do carapau.
Apegaram-se mais nas questões climatéricas. Isso revela a intenção de procurar outras causas para se justificar o fracasso da medida ora estabelecida”. Actualmente, há certas espécies que, de forma tímida, tendem a aparecer, como a sardinha palheta e os ´judeus´, soube este jornal de Fastudo Quaresma, que contesta o facto de essas espécies não fazerem parte da cadeia de pescado da maior parte da costa angolana.
O especialista em recursos marinhos admitiu que, em função das correntes frias de Benguela, que não são de hoje, há alguma influência, mas recordou que, mesmo com esse factor, antigamente, havia carapau com alguma fartura.
Nas contas dos contratempos, “referiu-se de um período recente em que a África,mais concretamente o litoral do Atlântico, ficou infestado com o limo, grandes quantidades de micro-organismos, também provocados pela invasão dos rios.
“Mas tudo isso já passou e as quantidades requeridas do pesca- do não aumentam”, observou. Para ele, a Baía-farta perdeu muita hegemonia na questão da pesca, de tal forma que se tornou um campo fértil de estudo para os especialistas que abordam, nas suas monografias, sobre a escassez do pescado.
Finalmente, considerou que, no real quadro das actividades pesqueiras de Benguela e da Baía-farta, em particular, tendem aparecer algumas quantidades de pescados, que vão surgindo ali e acolá, mas que não correspondem à perspectiva desejada pelos consumidores, comerciantes e consumidores.
Carapau e sardinha, espécies que mais se desenvolvem
O engenheiro pesqueiro esclareceu que, do ponto de vista das ciências marinhas e pesqueiras, a sardinha faz parte da família dos clupeidae e o carapau da dos heterotrópicos ou carangidae, e essas duas família, de acordo com a influência que tem com as temperaturas e de outros elementos para o Atlântico, sobretudo cá na República de Angola, são as duas famílias que mais se desenvolvem em termos de desova.
“Porque as nossas águas, sobretudo a partir das palmeirinhas (Luanda) até à foz do rio Kunene, nós vamos ter aí dois elementos, um para os clupeidae, mais concretamente para a sardinha, a sardinha lambuda, palheta, a poió e a sardinela, as mais pequenas, que povoam o mar do Namibe, em Angola, e, do Marrocos, em África”, informou.
Na família dos heterotrópicos, destacou o carapau macoa, o charro amarelo e charro catarina. Ainda assim, para Benguela, há o carapau do mar do Norte e o da foz do rio Kunene, que é um pouco mais desenvolvido, devido a sua cadeia alimentar. Uma espécie é mais escura do que a outra.