As duas amigas, de 17 e 18 anos, moradoras da localidade 13 Km, arredores da comuna da Arimba, município do Lubango, pretendiam mudar de vida, por acharem que a situação na qual se encontravam não era das melhores. Insatisfeitas com a pobreza, decidiram consultar uma curandeira que terá orientado as duas amigas a trazerem sangue humano.
A curandeira, supostamente usaria o sangue nalgum ritual capaz de trazer a prosperidade desejada. Leni Kulica, a adolescente de 17 anos de idade e uma das acusadas, disse que a consulta com a suposta quimbandeira começou no princípio do ano, quando a criança ainda não tinha nascido.
“Nós fomos trabalhar numa lavra, depois a minha amiga, a Manguinha, me disse que estamos a passar mal, que esta vida não está boa e que devíamos ir à casa da avó Florença receber a riqueza.
Quando chegamos lá, ela tirou um embrulho com um pó, nos esfregamos e deu-me duas raízes para colocar na cabeceira da cama, sem que ninguém descobrisse”, conta.
A par do que fizeram inicialmente, foi-lhes pedido o sangue humano, pelo que a jovem conta que esperaram pelo nascimento do bebé, uma vez que não tinham coragem de matar a mãe gestante (mais conhecida por Liambei).
Sem precisar o período exacto dos factos, a acusada contou que, depois do nascimento do bebé, dirigiram-se à residência em que se encontrava, e começaram por remover tudo que pudesse facilitar a família no reconhecimento dos seus rostos.
“Quando chegamos na casa da Liambei, a Minguinha e a tia Florença retiraram a lenha da fogueira, e desligaram a lanterna, para que não houvesse luz e fôssemos reconhecidos. Retiramos o bebé da cama em que se encontrava com a sua mãe, sem ela dar conta.
Chegamos na minha casa, adormecemos porque estávamos cansadas, e depois não vi como o bebé desapareceu”, detalhou.
Ao verem que o seu objectivo não tinha sido alcançado e o tempo estabelecido começava a escassear, as duas amigas foram novamente atrás do bebé, que já estava com a mãe.
Surpreenderam a mãe, num dos rios da localidade em que viviam, e a atacaram com instrumento contundente (pedra), tendo-lhe causado a morte imediata.
Leni Kulica disse que depois de terem matado a mãe, ficaram com o bebé ao colo, enquanto decidiam terminar com as recomendações dadas pela suposta quimbandeira, que passavam pela coleta do sangue da vítima.
“A avó Florença nos deu uma jarra plástica onde ela pediu para colocarmos o sangue. Eu levei a jarra e a Minguinha levou a faca. A Minguinha introduziu a faca nos órgãos genitais da vítima, e o sangue começou a escorrer.
Tirei a jarra e coloquei o sangue, peguei no bebé e fui para casa” revelou. “Minguinha” nega envolvimento no crime Conceição Bibiana Domingos, mais conhecida por Minguinha, que também está detida e acusada de ter participado no crime, nega estar envolvida neste sacrifício.
A jovem, que por sinal também está grávida, diz ser inocente, porém, admite que conhece Leni Kulika, pelo facto de viverem na mesma localidade, mas não têm qualquer intimidade.
“Ela chegou na minha casa com o bebé ao colo e me disse que devíamos levar na avó Florença. Disse-lhe que não conheço nenhuma avó Florença, mas ela atirou o bebé no chão e pôs-se a correr.
O meu irmão seguiu-lhe e quando a alcançou, começaram a lutar’’, porque esta exigia que dissesse onde está a mãe daquela criança. De tanta insistência, viu-se obrigada a mostrar onde estava o corpo da mãe do bebé.
‘‘Eu sou inocente, nem vi a tal senhora morta, e estou a conhecer a avó Florença aqui na cadeia”, afirmou. Por seu lado, Florença Ricardo, de 60 anos de idade e suposta quimbandeira, que só se comunica na língua local Umbundo, disse que também não conhece as duas jovens detidas, já que entre a sua residência e a das meninas existe uma longa distância.
A anciã disse que vive na comuna da Arimba desde 1990, e nem conhece os familiares das duas jovens. Florença Ricardo informou que só se apercebeu do crime em que está a ser acusada depois de ter sido detida pela Polícia Nacional, na comuna da Arimba.
“O que acontece é que esta jovem, que foi entrevistada primeiro, não me conhece e nem eu a ela. Espantei-me que, numa madrugada, a Polícia bateu-me a porta, algemaram-me sem qualquer explicação e trouxeram-me nesta esquadra, onde encontro as duas jovens, que me acusam de quimbandeira, quando sou apenas uma camponesa”, revelou.
Por: João Katombela, na Huíla