O jornal OPAÍS saiu à rua para ouvir alguns cidadãos sobre a subida do preço dos autocarros públicos, tendo a sua maioria sido unânime em dizer que a medida os surpreendeu, pois contavam que o aumento seria de 50 e não de 100 kwanzas.
A situação está difícil para mui- tos, como é o caso da estudante de enfermagem, Lukénia António, que terá de aumentar no valor semanal (5 mil kz), que recebe da mãe, para custear o transporte. Vive em Viana e estuda no distrito urbano da Ingombota, no Instituto Técnico de Saúde de Luanda.
Para economizar o dinheiro do transporte, muitas vezes, tem que andar longa distância a pé, e o autocarro que sai do Largo 1.º de Maio – Viana tem lhe facilitado a vida. Com esta subida vertiginosa do preço do autocarro, as coisas se complicaram do seu lado.
A jovem, que é órfã de pai, cuja mãe tem mais duas filhas para cuidar, apesar de ter a irmã mais velha que faz pequenos negócios para ajudar a mãe nas despesas, tem registado muitas dificuldades. “A minha mãe faz trabalhos domésticos e o salário não dá para acrescentar mais no dinheiro de táxi para as duas filhas que fazem o mesmo percurso”, disse.
Pelo facto, Lukénia apelou ao Estado que revisse o valor actual do autocarro, de modo a baixar, ou mesmo voltar a custar 50 kwanzas, pois esta situação poderá levar a que “muitos sonhos dos jovens sejam interrompidos”. Com alguma pressa, Jacinto Albertino se dirigia para a fila do autocarro, para não perder o lugar, mas aceitou tecer a sua opinião sobre a subida do preço dos autocarros, tendo dito que não foi coerente.
O cidadão defende que deviam ser registadas vá- rias etapas da subida, com alguma antecedência, e a população se acostumaria. Defende ainda que este tipo de subida deve ser feita no final do mês, quando grande parte dos funcionários já tem salário.
“De 50 para 150 kwanzas não é certo, pelo menos seria 100 kwanzas”, disse ele, que vive e estuda no Zango e tem de vir ao centro da cidade fazer o estágio prático.
Não ver a subida como totalmente negativa
Na paragem dos autocarros da Mutamba, à espera do autocarro que vai para o município de Belas, encontramos a dona Adelaide Fortunato, que já tinha conhecimento que o preço do transporte público iria subir, mas ficou indignada com a subida do autocarro.
Adelaide Fortunato conta que nas primeiras horas da manhã teve que sair do Benfica para o Rangel, e todas as segundas-feiras normalmente faz este percurso, mas não tem sido fácil. Parou na paragem de autocarro e pensa em seguir viagem com o transporte público, mas considera que não fará muita diferença.
Com um rosto triste, lamenta a difícil situação económica que a população está a viver, e também apela ao Estado que trabalhe melhor, pensando no povo e não apenas nos seus interesses. “Este povo que está a sofrer é o mesmo que lhes colocou no poder e, actualmente, a população está a enfrentar um sofrimento inexplicável”, disse.
Apesar de não ter mais filhos estudantes, que é uma das classes que vai enfrentar grandes dificuldades, tem ainda os seus sobrinhos que durante a semana fazem o uso dos transportes públicos, por dia passaram a gastar perto de dois mil kwanzas só em transporte.
A nossa entrevistada aconselhou que todo o governante deve buscar Deus, mais no verdadeiro sentido da palavra, não apenas por questões políticas; a nível do país se vê muita falta de amor ao próximo, falta de interesse e humanismo. Diferente dos outros entrevistados, José Nicolau disse que a subida do preço do autocarro não é, de todo, negativa, pois se olharmos para o facto de esta situação vir a interferir na melhoria dos salários dos funcionários das respectivas operadoras de transporte.
Por outra, contou que o custo de vida subiu, sobretudo na alimentação, e a população não deixou de adquirir os alimentos que estão a custar muito alto. José Nicolau espera que o salário da população venha a subir, para que tenham algum poder para suportar as despesas diárias e o custo de vida apertado que se regista actualmente.
Quem contradisse Nicolau é Domingas Muchito, que estava na paragem de autocarro acompanhada com a filha. Esta cidadã disse que o valor da subida do preço dos autocarros não é normal, porque a situação financeira da população está débil. É de opinião que o aumento não deves- se ser superior aos 100 kwanzas, uma vez que nos mercados tudo está a subir sem o devido controlo e a população está sem recursos para custear as suas despesas.
“O governo iria fazer diferente, não igual ao mercado informal. Pessoas há que saíam de casa com apenas 100 kwanzas, onde usavam o 50 para chegar ao 1.º de Maio e o mesmo valor para regressar, e com a subida do preço não sabem como se movimentar, pois os 100 kz não ser- vem para apanhar algum transporte”, sustenta