A população de Cabinda continua a enfrentar imensas dificuldades para conseguir passagens áreas na companhia de bandeira, TAAG. As lojas da TAAG estão quase sempre sem disponibilidade de bilhetes para as datas do interesse dos passageiros.
Está quase impossível arranjar uma reserva para uma viagem de emergência como óbitos, negócios, e compromissos profissionais. Entretanto, nas agências não oficiais conseguem-se facilmente reservas, mas a preços exorbitantes que chocam e violam frontalmente o decreto presidencial que determina a subvenção das passagens aéreas entre Luanda e Cabinda.
Aliás, a corrupção na TAAG já se tornou numa autêntica gangrena, pois dentro dos aeroportos o negócio das passagens aéreas está nas mãos dos ditos “muambeiros”, que estão sempre disponíveis para resolver a aflição de quem não consegue uma reserva por vias oficiais, mas a preços especulativos que variam entre 70 mil e 100 mil kwanzas.
Esta situação já tem estado a merecer denúncias por parte das populações de Cabinda, inclusive da parte dos deputados pelo círculo eleitoral de Cabinda em sede do Parlamento. Segundo Raul Tati, numa dessas ocasiões, estando o ministro dos Transportes na Assembleia Nacional, foi-lhe lançado o repto pelos deputados de Cabinda para pôr ordem na TAAG. Infelizmente, disse a nossa fonte, a desordem e a corrupção na TAAG não só persistem, como passaram a ser uma espécie de cultura instalada.
“Como é possível banalizar e violar o decreto presidencial sem quais- quer consequências políticas e judiciais?”, questionou Raul Tati, acrescentando que esse assunto é do conhecimento do Titular do Poder Executivo, pois, na recente reunião do PR com os delega- dos dos CAP do MPLA, um membro da delegação de Cabinda expôs o assunto com toda a gramática ao Chefe de Estado na qualidade de Presidente do MPLA.
Quanto à programação, de acordo com Raul Tati, este é um outro busílis da desorganização na TAAG. “Não cumpre os horários, altera constantemente os horários e cancela os voos na maior irresponsabilidade sem assumir o ónus dos prejuízos causados aos passageiros. Muitos compromissos profissionais e de negócios são simplesmente postergados sem ressarcimento.”
Constrangimentos por conta dos cancelamentos
Os constantes cancelamentos de voos é o “prato” do dia-a-dia dos passageiros que viajam de Cabinda para Luanda e vice-versa. O facto mais recentemente registou-se há dias com o cancelamento de um voo da TAAG (último ser- viço) no aeroporto de Cabinda Maria Mambo Café, a descontento dos passageiros.
Passavam já das 19 horas, passageiros a bordo, o avião da TAAG quase se fazia à pista de descolagem, quando foi comunicado o seu cancelamento por razões técnicas. “Fomos informados de que tínhamos que desembarcar por questões técnicas. Pensamos que fosse uma questão simples que poderia ser resolvida num instante”, contaram a este jornal os passageiros. Segundo eles, passaram 4 horas para os funcionários da TAAG informarem que o voo tinha sido cancelado para o dia seguinte.
O facto deixou os passageiros re- voltados, instalou-se um clima de tensão e muito deles sem possibilidades de retornar à casa, para os que vivem em Cabinda, dada a hora adiantada, 23 horas. Os passageiros que não residem em Cabinda tiveram de pernoitar, sem condições, no aeroporto. “Acho que na política da aviação em casos de cancelamento de um voo, as pessoas deveriam ser realojadas por conta da companhia”, argumentou um dos passageiros.
Edmundo Vargas Neto, cidadão brasileiro, estava no voo cancela- do e perdeu o avião de ligação para o Brasil. “Não nos foi dada uma informação correcta e não tivemos nenhum apoio”, lamentou Edmundo Neto, explicando que nesses casos a TAAG teria a obrigação de assumir a hospedagem, alimentação e todo tipo de assistência aos passageiros. “Isto não foi fornecido.
Falaram que tinham de ter uma autorização de Luanda, e a pessoa que autoriza já não estava lá e o supervisor não quis assumir a responsabilidade. Ficamos duas horas a aguardar essa informação de que não se poderia fazer nada.” E explicou: “
Essa é uma regulamentação internacional da IATA que após 4 horas de atraso ou de problemas técnicos ou de cancelamento a companhia é responsável pelo passageiro, fornecendo alimentos, hospedagem, transporte, tudo o que o passageiro necessita.
Isto não foi cumprido.” Para Maria Antónia, que naquele dia deveria efectuar a sua primeira viagem de avião, “tudo correu muito mal”, porque “não recebemos qualquer assistência, ficámos desamparados e cada um tinha que se virar.”
Para o passageiro Pascoal Sambo, o mais estranho é que, quando entrou em contacto com o apoio ao cliente ou com o pessoal da TAAG, alegaram que não existe nenhum protocolo em Cabinda para esse tipo de situações.
“O que acho ser muito estranho. Muitos de nós passamos aqui a noite sem alimentos, água e condições para a higiene pessoal.” A pior parte, confessou, é não ter uma informação que alimentasse alguma esperança sobre a viagem, já que havia compromissos para serem honrados em Luanda.
A situação obrigou a Associação de Defesa do Consumidor a intervir para amenizar a tensão dos passa- geiros e chamar à razão a companhia. Sobre o assunto, Gilberto Santos, coordenador executivo da ADECOR, afirmou que houve violação dos direitos dos passageiros por parte da TAAG, que deveria indemnizar os cidadãos afectados.
“Muitos desses consumidores não viram salvaguardados os seus direitos de acomodação, alimentação, comunicação gratuita, entre outros. O nosso pedido é que a TAAG, nesses casos, reponha de imediato o voo de reposição e assuma uma indemnização justa pelos da- nos causados, ou então a associação poderá intentar uma acção judicial contra a companhia.
Mais frequências
Cabinda é um destino onde a TAAG opera 4 voos por dia, 35 voos por semana e 2 mil e 500 passageiros transportados semanalmente. Apesar do aumento das frequências aéreas Luanda-Cabinda-Luanda, sendo uma das rotas domésticas mais lucrativas mesmo com a subvenção das passagens, a TAAG continua a prestar maus serviços aos passageiros.
O grau de insatisfação dos passageiros é elevado, mas não se sente nenhuma preocupação da parte da Mais frequências Cabinda é um destino onde a TA- AG opera 4 voos por dia, 35 voos por semana e 2 mil e 500 passageiros transportados semanalmente.
Apesar do aumento das frequências aéreas Luanda-Cabinda-Luanda, sendo uma das rotas domésticas mais lucrativas mesmo com a subvenção das passagens, a TAAG continua a prestar maus serviços aos passageiros.
O grau de insatisfação dos passageiros é elevado, mas não se sente nenhuma preocupação da parte da Preocupações com o novo aeroporto Uma outra preocupação que se coloca neste momento tem que ver com a transferência dos voos do- mésticos para o aeroporto internacional Agostinho Neto a partir de 10 de Novembro.
O que vai acontecer é que, com a Nova Divisão Política Administrativa do país, os passageiros sairão da província de Cabinda para a província do Icolo e Bengo, e depois terão de realizar outra viagem para a província de Luanda.
O mesmo irá acontecer no embarque para Cabinda. Com isso, está em vista uma logística dispendiosa para os passageiros dos voos domésticos, tendo em conta a inoperância e ineficiência do nosso sistema integrado de transportes.
“Temos plena certeza que vai ser mais um problema para os passageiros, que poderá ser agravado pelas horas tardias e madrugadoras dos voos da rota de Cabinda”, argumentou Raul Tati. “Como fazer para estar no AIAAN a fim de embarcar para Cabinda às 05h00?
E os passageiros que chegam de Cabinda à meia-noite? Será que a solução vai ser dormir ao relento e à mercê dos mosquitos?.” Uma série de preocupações que Raul Tati coloca e que “merecem uma explicação por parte do Executivo.”
Cabinda preocupa
O presidente do Conselho de Administração da TAAG, Miguel Carneiro, reconhece que Cabinda é uma província que preocupa, por ser um mercado que está na linha da frente na geração do Produto Interno Bruto nacional, onde operam as principais multinacionais do sector petrolífero.
“Entendemos que temos oportunidade para melhorar os níveis de serviço que prestamos aos passageiros que vêm e saem em Cabinda”, referiu o PCA da TAAG, que esteve em Cabinda em serviço. Dentro desse espírito, disse, uma infra-estrutura moderna e de primeira linha como o AIAAN fazia todo sentido ser inaugura- do do ponto de vista de voos comerciais nacionais com a ligação para Cabinda.
Segundo Miguel Carneiro, há características técnicas que colocam Cabinda num dos primeiros lugares em termos de importância da rede da TAAG, onde a companhia realiza cerca de 35 voos semanais com a transportação de mais de 2 mil e 500 passageiros. “Cabinda apresenta hoje uma oportunidade comercial.
Muito dos passageiros que estão na rota de Cabinda utilizam-na numa lógica comercial, o que cria um desafio enorme para a disponibilidade”, referiu o PCA da TAAG. Para melhorar o serviço da companhia em Cabinda, Miguel Carneiro disse que “algo está a ser pensado e a ser discutido” em vários fóruns para definir como se pode tornar o mercado de Cabinda cada vez mais acessível, oferecendo um produto mais competitivo do ponto de vista dos passageiros e do transporte aéreo da companhia.
“Tenho a certeza que, com a oferta desse novo aeroporto e a abertura do primeiro voo e das primeiras frequências a ligar Cabinda, se crie outra dinâmica e apetite para a inovação.” Quanto à preocupação da população de Cabinda em relação ao novo aeroporto, Miguel Carneiro justificou que os aeroportos são infra-estruturas de serventia e não de cidades.
“O AIAAN é um aeroporto de serventia à cidade de Luanda, portanto, há naturalmente todo um ecossistema de transporte público que o ligam ao centro da cidade de Luanda. O ecossistema de transporte rodoviário e ferroviário vai se adaptando à nova infra- estrutura.
Temos um grupo de entidades envolvidas nesse exercício. A TAAG é a entidade responsável pelo transporte aéreo e as outras entidades estão engaja- das nas outras áreas”, concluiu.