Os familiares de Ludmila Gomes, de 31 anos, supostamente assassinada na última segunda-feira no bairro da Mapunda, arredores da cidade do Lubango, apontam a briga pela partilha de um imóvel inacabado, construído pela vítima, como sendo o principal motivo da morte da sua ente querida. O crime foi praticado pelo ex-marido, um efectivo da polícia, de quem se encontrava em via de separação já há quase um ano
A revelação foi feita ontem, em exclusivo ao jornal OPAÍS, por Vanessa Lupeke, prima da vítima, que foi a última pessoa com a qual a mesma falou na manhã da última segunda-feira, antes de ter sido baleada por Benjamim de Limas, efectivo da Polícia Nacional colocado na Unidade de Reacção e Patrulhamento (URP), na Huíla.
À nossa reportagem, Vanessa Lupeke revelou que a relação dos dois nunca foi saudável, apesar dos dois filhos gerados pelo casal. Segundo conta, Ludmila Gomes é herdeira de uma herança de seu pai, já falecido e antigo funcionário da Sonangol, de quem terá recebido um enorme património, por via do qual aplicou uma parte na compra do terreno onde está a ser erguida uma residência, cujas obras arrancaram antes da separação do casal.
De acordo com a nossa interlocutora, o marido, que sempre usou dos bens herdados pela vítima, nunca aceitou o facto de a mulher ter tido a iniciativa da construção da residência. Pelo que, depois da separação, exigiu a venda da mesma, alegando que também resultou dos seus esforços.
Em função disso e por conta das ameaças que sofria por parte do ex- marido, segundo conta, os familiares de Ludmila Gomes a aconselharam que aceitasse a proposta deste, para que se evitasse o pior.
Vanessa Lupeke diz que, na ocasião, haviam aconselhado Ludmila a não marcar encontros com o pai dos seus filhos sem que estivesse mais alguém, ao que ela anuiu.
“Ontem [segunda-feira, 19], eu estava na Cahama em serviço, quando ela me ligou para dar a conhecer que iria à obra, a pedido do Chinês”, contou.
Afirmou que a sua prima não hesitou, porque o ex-companheiro terá anunciado que manteve contacto com alguém que estava interessada em adquirir o imóvel nas condições em que se encontra.
No entanto, para fecharem o negócio, era imperioso a presença do casal, pelo que optou por dar-lhe a conhecer, ainda que via telefónica, para informar a família se eventualmente algo lhe acontecer. “Não se passaram 20 minutos, ela ligou novamente e disse: Vanessa, o Chinês me matou.
Eu questionei: como assim, te matou? Ela respondeu dizendo que ele disse que haveria de me matar”, recordou o diálogo que manteve com a malograda, minutos antes da sua morte.
Vanessa conta que Ludmila, sua prima, a pediu que fosse urgente- mente ao encontro do casal, ao que ela anuiu. “Daí liguei para o meu esposo e ao SIC a pedir que fossem urgente para o local. Acontece que todos chegaram ao mesmo momento e se depararam com a situação”, revelou.
Por outro lado, a nossa interlocutora disse que a convivência do casal nunca foi saudável, tendo-se agudizado com a separação, o que originou a paralisação da obra iniciada pelo casal com dois filhos menores.
Vanessa Lupeke informou que as ameaças de morte que a sua prima sofreu da parte do ex-marido foram dadas a conhecer ao Serviço de Investigação Criminal (SIC) na Huíla, que registou a ocorrência, mas não tomou qualquer medida a respeito. “Eles eram um casal.
No próximo mês, Setembro, completariam um ano desde que se separaram. Quem comprou o terreno foi a minha irmã, mas, no acto da compra, ela fez uma procuração a dizer que o terreno ficava em nome dos dois, porém, foi ela quem comprou o terreno e começaram com a obra”, frisou.
Acrescentou de seguida que, “depois da separação, havia muita guerra, muita ameaça de morte por causa desta obra, da parte dele. Dizia que ninguém poderia ficar na casa, porque ele ajudou e trabalhou para a mesma”.
Vanessa conta que, certo dia, Benjamim de Limas invadiu a casa da mãe dos seus filhos, com o propósito de receber os documentos da obra. Facto que ficou registado através de uma queixa-crime apresentada ao SIC.
“Por causa desta situação, de ameaças, eu própria disse-lhe que o melhor seria vender a obra e cada um seguir o seu caminho, só que ele não concordava com a separação”, frisou. Para a nossa interlocutora, não restam dúvidas de que o efectivo da Polícia a atraiu para lá e mandou os guardas da obra saírem para efectuar os disparos.
“Ele fez o que fez. Só queremos que se faça justiça”, apelou. A mesma opinião é partilhada pelo esposo de Vanessa Lupeke, Maike Lupeke, que foi quem transportou os dois corpos para o Hospital Central do Lubango, no intuito de recuperar a vida dos dois, uma vez que na hora ainda apresentavam sinais vitais.
“Quando chegamos ao local, encontramos os dois com vida. Ao lado, havia uma pistola e algemas. Antes, ela já tinha sido ameaçada pelo marido com uma pistola e nós a proibimos que fosse sozinha ao seu encontro. O único erro foi ela ter ido sozinha”, desabafou.
Hospital Central do Lubango nega-se a falar do estado de saúde do autor dos disparos
O agente afecto à Unidade de Reação e Patrulhamento (URP), acusado de ter matado a ex-mulher, encontra-se a receber assistência médica e medicamentosa no Hospital Central do Lubango.
Em função das informações que circulam nas redes sociais sobre o suposto falecimento de Benjamim de Limas, autor dos disparos que vitimou Ludmila Gomes, a nossa equipa de reportagem contactou a direcção do Hospital Central do Lubango, só que não foi bem-sucedida.
O responsável de Comunicação e Imprensa do Hospital, João Kupessala, não quis prestar qualquer informação a respeito, alegando que só o faria na presença de advogados e dos agentes do Comando Municipal da Polícia Nacional do Lubango.
A Comandante da 8.ª Esquadra da Mapunda, 1.° sub-chefe Alzira Intya, confirmou, no princípio da noite de ontem, a ocorrência do crime de homicídio ocorrido na sua zona de jurisdição, concorrido com tentativa de suicídio.
POR:João Katombela, na Huíla