No Matadouro do Km 30, em direcção à Catete, o gado bovino é abatido sem a observância das normas elementares de sanidade, e os serviços veterinários são invariavelmente ignorados, colocando um perigo eminente à saúde pública.
POR: Ireneu Mujoco
Num Sábado, por volta das 6 horas, fizemo-nos à estrada em direcção ao Mercado do Km 30, em Viana. A manhã mostrava-se cinzenta, mas lá fomos à busca de factos. Aliás, o pretexto da incursão era constatar ‘in loco’ o abate de bovinos e a comercialização da carne. Não foi nada saudável o ambiente que testemunhámos: animais sendo mortos de qualquer maneira, no chão, sem água corrente e sem higiene alguma. É nessas condições que os vendedores, maioriamente mulheres, adquirem a carne para, a retalho, comercializá-la imediatamente, num local vizinho, em barracas.
Todos os dias assim acontece. No Matadouro do Km 30, os abates são ininterruptos. “Não há repouso para a limpeza. Aqui fazem-se abates todos os dias”, revela-nos um jovem proveniente da Chibia, província da Huíla, que aparentava 19 anos de idade. O mesmo conseguiu escoltar, de camião, um lote de 30 cabeças de gado bovino. “Nenhum escapou. Todos os animais chegaram em segurança”, reforçou. Ambrósio Lukoki é o seu nome de baptismo, que nada tem a ver com o antigo dirigente do MPLA. Ao lhe manifestarmos a intenção de comprar um bovino, levou-nos imediatamente ao recinto da escolha, no exterior do matadouro.
Lá postos, assistimos numerosos animais já colocados na linha de abate, sendo que, um de cada vez eram abatidos sem a certificação da sanidade da carne por um veterinário do Ministério da Agricultura. Incrédulos, regressámos à casa. No dia seguinte, Domingo, estávamos novamente no local. O cenário era simplesmente desolador. O Matadouro do Km 30 pertence ao Grupo Funga, que pelo abate de animais arrecada taxas num valor aproximado aos 7 mil Kz por cabeça.
“É muito dinheiro que serviria para organizar os serviços”, apontou um funcionário público, avançando que “o Estado perde muito dinheiro com esses abates anárquicos e a venda de carne ao ar livre, sem higiene nem a intervenção dos serviços veterinários”. Esta fonte indica ainda que existem em Luanda outros locais mais higiénicos, como os talhos ou ainda o Matadouro do Songo, a caminho do Museu da Escravatura. A precaridade do Mercado do ‘30’, há bastante tempo vem sendo alvo de denúncias. Porém, não se sabe por que motivo ainda não foram tomadas as devidas medidas.
O ex-governador de Luanda, Higino Carneiro, havia prometido uma “mão pesada” na desordem instalada naquelas paragens, mas nada foi feito. Veremos o que fará o novo governador da capital do país, Adriano Mendes de Carvalho. O PAÍS procurou ouvir a direcção do matadouro, tendo para o efeito abordado um funcionário, este que pouco ou nada referiu sobre os serviços. Salientou apenas que esforços estão em curso, visando “organizar melhor a área de abate”, cujo carácter rudimentar reconheceu.