A informação consta do estudo lançado ontem, em Luanda, com o tema “Pesquisa sobre o Impacto da Violência Doméstica na Vida da Mulher”, que foi elaborada a partir de dados colhidos em cinco províncias, de Fevereiro a Março do presente ano.
O objecto da pesquisa foi obter uma amostra sobre o impacto da violência doméstica na vida das mulheres, para uma melhor com- preensão deste flagelo e, com isso, obter base para outras acções que possam contribuir para a diminuição dos casos registados neste país.
De acordo com Suzana Mendes, coordenadora da pesquisa, este trabalho teve uma duração de dois meses, incidiu sobre as cinco províncias de Angola com mais evidências de violência contra mulheres, nomeadamente Lunda- Sul, Luanda, Benguela, Bengo e Huambo. Destas, a Lunda-Sul lidera a lista, seguida da cidade capital, Luanda.
Um total de 568 mulheres, com idades compreendidas entres os 18 e os 60 anos, respondeu ao inquérito da organização, permitindo verificar que a violência psicológica foi a mais apontada, com 34% dos casos, seguida da agressão física, com 32%, o abandono familiar, com 24%, mulheres sem-abrigo, com 7%, e abuso sexual, com 3%.
Segundo os resultados da pesquisa sobre o “Impacto da Violência Doméstica na Vida da Mulher”, estes actos são praticados, na maior parte das vezes, por familiares das vítimas, sobretudo os maridos.
“A pesquisa centrou-se na aplicação de um questionário às mulheres, para além da metodologia de análise dos dados disponibilizados oficialmente. Para a questão se já sofreu violência doméstica, a Lunda-Sul aparece na frente com 65% dos casos; Luanda com 63%; Benguela com 54%, Bengo e Huambo com 43% cada”, disse.
Quanto às denúncias, muitas são as mulheres que, mesmo sofrendo a agressão, não apresentam queixa às autoridades. Outras não conseguiam, principalmente quando se trata de violência psicológica, dizer que sofreram este tipo de violência por falta de entendimento de determinado comportamento como violência.
Os dados divulgados pelo FMJIG revelam ainda que “o medo da reacção do agressor, dependência económica e reacção familiar” são os principais motivos que levam as vítimas a calarem- se diante de uma situação de violência. A percentagem de mulheres que não denunciou ocupa 76% e apenas 24% fez a denúncia às autoridades.
“Outrossim, o sentimento de culpa ou de pensar que ela mesma é quem provocou aquela situação de agressão; o medo de perder o sustento, uma vez que o agressor é quem garante isso, bem como pensar que aquilo que sofreu não constitui agressão, são algumas das justificações apresentadas”, acrescentou.
Uma das questões levantadas pela pesquisa é que 38% destas pessoas ouvidas relataram terem sofrido múltiplas formas de violência, há casos de uma mesma mulher que sofreu de violência física, psicológica, patrimonial e sexual. “Tivemos um caso de uma mulher que se viu obrigada a mudar de província e residência, por ter sofrido todo tipo de violência, e também para fugir do marido agressor”, sublinhou Suzana Mendes.
O estudo também veio a confirmar que os homens são aqueles que mais praticam violência doméstica, com 74% praticado pelo marido, 5% pelo ex-marido, 6% pelo pai, 2% de outros familiares.