Em meio à crise de emprego e à dificuldade financeira, deixando de lado a vergonha e o preconceito, nos Mulenvos de Baixo, se ergueu, por meio de 5 cooperativas de recolha de lixo, a Associação dos Jovens Catadores de Materiais Recicláveis, que hoje conta com 3500 membros que sustentam as suas famílias se dedicando a essa actividade que tem crescido a cada dia que passa
O lugar se chama Cacuaco. É neste município de Luanda, no distrito dos Mulenvos de Baixo, onde, em 2020, um grupo de jovens, assolados pela miséria causada pelo desemprego, encararam no lixo do bairro que parecia não ter fim o caminho para sustentarem as suas famílias. Assim, recolher e comercializar resíduos sólidos recicláveis se tornou a actividade diária desses jovens que sonhavam com uma vida melhor.
Das campanhas de limpezas no seio do bairro e recolha do lixo porta a porta, se ergueu, no ano seguinte, através da constituição de 5 cooperativas, a Associação dos Jovens Catadores de Matérias Recicláveis, que hoje acolhe 3500 associados, divididos em 67 cooperativas em cinco províncias do país.
Apesar de que, um levamento feito pela associação, se conseguiu apurar que há mais de 1000 catadores que trabalham de forma individual nas ruas e dentro do aterro sanitário dos Mulenvos, pelo facto da formalização de uma cooperativa junto da Agência Nacional de Resíduos estar no valor de 1.625.000,00 kwanzas.
Manuel Lourenço Salvador é o presidente da Associação dos Jovens Catadores de Matérias Recicláveis (AJOCAMARC) e dirigente de uma cooperativa que controla 200 catadores. Saído de um bairro que paira delinquência, olha para trás, e agora para o horizonte, consegue nitidamente perceber o quanto a sua vida se transformou na recolha dos montículos de lixo que passeiam pelos municípios de Luanda.
“Eu e mais 10 jovens estávamos a passar mal pela falta de emprego, então aproveitamos a carência de saneamento básico que Luanda tinha para realizarmos campanhas de limpeza na nossa comunidade e os vizinhos nos pagavam por isso.
Este dinheiro servia-nos de sustento. Depois achei que deveríamos legalizar a actividade, então fui aconselhando outros jovens a criarem cooperativas” disse. Desde aquela altura, o pai de família, fazia sol ou chuva, sem máscara ou sem luvas, mas sempre com um saco, se colocava na rua em busca de resíduos para vender, sem, no entanto, ter grande noção do que vinha na frente.
Actualmente, com um notável orgulho, realça o facto de, apesar da actividade estar ainda enrolada no preconceito, ela tem gerado renda para inúmeras famílias, inclusive revelou que a cooperativa que dirige tem a responsabilidade mensal de pagar cerca de 8 milhões de kwanzas para os salários dos catadores. “Eu, como presidente da associação, sou a prova de sucesso fruto dessa actividade.
Tenho casa própria, carro e outros negócios, fruto da valorização dos resíduos, e garanto que os resíduos irão gerar muitos ricos em Angola” frisou. Hoje em dia a associação já logrou muitos benefícios.
Há várias cooperativas com contratos com o governo das províncias onde estão para o suporte no mantimento de saneamento básico. Por outro lado, no âmbito do Projecto de Apoio ao Crédito (PAC), seis cooperativas receberam crédito de cada 40 milhões kwanzas.
No plano do Projecto de Inserção Social dos Catadores de Resíduos Sólidos (PICAR), além receberem materiais de trabalho, têm tido também formações com apoio do INEFOP.
Embora reconheça os apoios que têm recebido, o presidente da AJOCAMARC quer mais administrações municipais a contratar as cooperativas para atenderem as zonas cinzentas, acção que já tem feito com o apoio dos moradores. Pede também a concepção de meios de trabalho para o catador que está a começar.
Neste momento, o maior desafio da associação é ter o primeiro centro de valorização de resíduos em Luanda, onde todos eles serão aproveitados e reintegrados para apoiar o sector industrial e os municípios na prestação de serviços de investigação e aplicação de soluções reais na área da valorização de resíduos.