José Sebastião Manuel: “Há uma maior tolerância ao erro e à ilicitude, infelizmente”

Tendo em conta as últimas detenções de funcionários públicos de diversas instituições, realizadas por especialistas do Serviço de Investigação Criminal (SIC), sob coordenação da Procuradoria-Geral da República (PGR), o jornal OPAÍS manteve uma conversa com o frei José Sebastião Manuel, director do Centro de Ensino e Investigação de Ética da Universidade Católica de Angola, sobre ética na gestão do bem comum. Nesta primeira parte da entrevista, o também coordenador das Cadeiras Éticas e professor de Ética Empresarial faz uma incursão sobre as causas da falta de sentido patriótico por parte de alguns gestores Públicos e sugere saídas para se tornar a sociedade mais ética

Há quanto tempo existe o Centro de Ensino e Investigação de Ética na Universidade Católica de Angola?

Do ponto de vista formal, o Centro de Ensino e Investigação de Ética na Universidade Católica de Angola existe desde 2018. Agora, do ponto de vista de conteúdo de trabalho, existe ali desde mais ou menos 2015 ou 2016.

À semelhança do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC), o Centro de Ética também tem realizado estudos científicos relacionados às questões éticas e torna-os público?

Também, embora limitados. Isto é, já houve uma época em que se fez mais porque, na altura, havia alguns apoios. Isto foi, sobretudo, um pouco antes de o Centro ter sido formalmente constituído e nos primeiros anos de constituição do Centro.

De lá para cá, publicações de grande volume não têm tido muita possibilidade de fazer. Têm sido mais conferências, eventos académicos, eventos envolvendo vários actores do mercado em Angola e menos publicações físicas, propriamente ditas, até por causa da importância financeira que envolve. Infelizmente, não temos tido suficientes apoios justamente para isso, sobretudo porque tudo tem de ser eticamente consistente.

Tendo em conta as informações sobre crimes económicos que têm sido divulgadas no nosso país, apraz-me colocar a seguinte questão: falta ética aos nossos gestores públicos e privados?

Esta é uma questão muito interessante. Fala do nosso país, mas permita-me que comece por alargar um pouco o assunto. Porque a Ética tem a ver com o ser humano e com seus actos. Os actos humanos são o reflexo do ser, passe o pleonasmo, do ser humano, da sua natureza. Então, a questão Ética é pertinente em todos os lugares e, neste sentido, é universal. Mas, evidentemente, está marcada por um contexto particular, nas diferentes geografias.

E, no caso de Angola, olhamos para os factos e os analisamos, tendo como chave aspectos como a nossa própria natureza de seres humanos, a nossa idiossincrasia, ou pelo menos os ideais que dizemos que alimentamos, como o respeito pela vida, toda a relevância da interação comunitária, toda a relevância de um conjunto de pré-condições que achamos que tornam possível a vida humana, seja de cada pessoa individualmente considerada, pessoa física, seja das comunidades, seja mesmo a de todos os outros seres que tornam possível a nossa vida.

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