Stephany Ferreira (Feio) e Daniel António Vicente (Pélvio) são dois jovens, amigos e colegas de trabalho, de um grupo de sete pessoas que perderam a vida na madrugada do último Domingo, na estrada principal da Camama, quando uma carrinha do grupo Carrinho embateu contra um grupo de pessoas que se encontrava a comercializar e a conviver no passeio
O“chão caiu” para a família de Stephany Ferreira, de 26 anos de idade, o jovem que nasceu no Marçal, mas passou grande parte da sua vida no distrito urbano da Samba, tendo, a posteriori, passado a morar na Camama com os pais e os irmãos. O segundo filho entre sete, que deixa uma filha de oito anos, conheceu a morte no local do acidente. Segundo a tia, Inocência Lança, Stephany era um jovem carismático, de trato fácil.
Onde quer que fosse fazia muitos amigos, e prova disso é que, na zona onde residia com a avó, na Samba, também decorre um óbito, para além da casa dos pais, em Camama 1. O malogrado trabalhava numa empresa privada como entregador de produtos diversos, fez o ensino médio de ciências biológicas e almejava continuar os estudos. Tia Inocência, com lágrimas nos olhos, disse que tomou conhecimento da morte do sobrinho por volta das 4h30min do dia do acontecimento, quando recebeu a ligação da sua irmã.
A irmã tinha recebido um grupo de amigos de Stephany, dizendo que o seu filho tinha sido atropelado mortalmente. No local, já com o pai e mais um irmão, viram o corpo estatelado de Stephany e outras vítimas. O corpo do seu filho era o único que estava coberto e, quando destapou, eis que se deparou com um cenário arrepiante: a cabeça do jovem estava completa- mente fracturada. Inocência Lança conta que, na Segunda-feira, a família recebeu uma equipa de advogados que prestam serviço à empresa Carrinho, que manifestaram o desejo de ajudar nas despesas do óbito. “Fizemos a nossa proposta, das despesas que necessitamos, e aguardamos o feedback deles, até porque pretendemos realizar o funeral amanhã [Quarta-feira]. A par disso, recebemos também uma equipa da administração distrital com o propósito de ajudar”, conta.
Pélvio estava no momento alto da sua vida
Stephany estava no ambiente normal, tal como acontecia nos outros finais de semana, depois do trabalho, com os amigos. Neste dia, que não difere dos outros, estava com o amigo e colega Pélvio. Daniel António Vicente (Pélvio), de 27 anos de idade, nasceu no município do Cazenga, mas cresceu na Camama, sendo um dos primeiros moradores, quando a sua mãe foi para lá viver. Se ainda estivesse em vida, Pélvio comemoraria os 28 anos de idade no próximo dia 27 de Maio. Tal como o colega Stephany, é também segundo filho dos seus pais, no grupo de quatro irmãos, deixa uma viúva e dois órfãos (rapaz de sete anos, e menina de três).
Caetano Bemba, o seu irmão, disse que o trabalho que desenvolvia corria bem, uma vez que recentemente foi promovido a chefe de equipa. Ele vivia na casa da mãe, com a esposa e os filhos, e depois da promoção tinham planos de, neste mês, arrendarem uma casa. A mulher, quase que sem voz, apenas disse à nossa reportagem que o cidadão era um bom pai para os seus filhos, mesmo diante de algumas dificuldades, priorizava sempre as crianças. Ainda no Sábado, o malogrado foi ver os filhos e a mulher que estavam a passar uma temporada em casa dos avós maternos. À data dos factos, Pélvio pretendia levar as crianças, mas a mulher sugeriu que ficasse para a próxima Sexta- feira, uma vez que já se fazia tarde e haveria de enfrentar dificuldades de transporte.
“Depois de chegar a casa, pedi que fizesse uma vídeo-chamada, de modo a confirmar que chegou em segurança. Por volta das 23 horas, ligou novamente para reclamar por não ter aceitado que saísse com ele e os filhos. No gozo, pedi que desligasse o telemóvel e me deixasse dormir. As quatro horas, o telemóvel volta a tocar, e era a minha cunhada com a triste notícia da morte do Pélvio”, lamenta. Segundo Caetano Bemba, também dois advogados do grupo Carrinho contactaram a família e predispuseram-se em ajudar nos gastos necessários do óbito.
O irmão lamenta o silêncio por parte da administração. A mãe, inconsolável, apenas apela por justiça. “Meu filho que lhe criei com tanto sacrifício, o pai lhe deixou com dias, o que eu vou fazer com os meus netos, quem irá cuidar deles, quem matou o meu filho também me matou”, chora a mãe.
POR: Stela Cambamba