Sem pensar no reembolso de 120 milhões de kwanzas, valor despendido para a construção do Centro Desportivo de Alto Rendimento de Lanfica, no Zango 3, nas imediações da terceira paragem, em Luanda, o antigo pugilista e mentor do projecto, Simão Muanda, contou, à reportagem deste jornal, que está focado em melhorar as condições de estágio das selecções e clubes de lutas no país
Quando se fala do Distrito Urbano do Zango, localizado no município de Viana, na capital angolana, o que vem à mente da juventude, bem como dos muitos mais velhos é que o bairro tem uma relação intrínseca com outras acções menos boas e muita adrenalina.
Mas, a equipa deste jornal foi ao Zango 3, nas imediações da terceira paragem, constatar “in colo” as nuances do Centro Desportivo de Alto Rendimentos Lafinca (CDARL), recinto que está totalmente concluído.
No dia da reportagem, o sol brilhava, a área estava quente, mas já é um clima da praxe no Distrito Urbano do Zango, segundo os moradores.
Ainda assim, o ambiente climático descrevido não intimidou a equipa deste jornal de percorreu o recinto de 15/30 metros quadrados.
O CDARL tem três dormitórios, igual número de WC’s ladrilhados, climatizados e equipados com camas de dois andares.
Os dormitórios têm a capacidade para albergar vinte e seis atletas masculinos e femininos.
O recinto, que futuramente será palco de estágio de selecções nacionais, estrangeiras e clubes, tem um ringue, espaço para montar o tatame, um ginásio, refeitório, sala de espera e uma recepção.
Diferente dos comuns, o ginásio do centro não reúne máquinas para a musculação, mas, sim, para ajudar na resistência dos luadores, nomeadamente de judo, boxe, Artes Marciais Mistas (MMA), ju-jitsu, karaté-dó e outras disciplinas.
Apesar de o calor forte que se fazia sentir naquele dia, encontramos no Centro Desportivo de Alto Rendimento Lafinca, que será inaugurado nos próximos dias por um responsável da Administração de Viana ou do Governo de Luanda, dezenas de pugilistas de clubes federados a realizarem combates de carácter particulares.
Por essa razão, o mentor do projecto e antigo pugilista da década de 90, Simão Muanda, revelou que o sentimento é de total satisfação, porque, em Abril de 2022, ano em que jornal O PAÍS reportou as obras, só havia homens e máquinas a labutarem.
Simão Muanda disse ainda que o sonho tornou-se realidade, acrescentando que está atento às necessidades que assolam o desporto, no diz respeito às condições de estágio para os atletas de lutas.
O também tri-campeão africano da Zonal VI, na categoria de 91 kg, sublinhou que a construção do centro de estágio é, também, uma forma de retribuir ao Governo por tudo quanto ganhou no desporto, em particular no boxe.
Simão Muanda confidenciou à nossa reportagem que o objectivo é tornar o projecto nacional, por isso espera ter alguns membros do Governo no acto da inauguração.
O antigo pugilista explicou que esteve presente no centro um responsável da Administração Municipal de Viana para formalizar o convite junto da direcção do Governo provincial.
Simão Muanda “queima” 120 milhões kwanzas
Quanto ao orçamento investido no empreendimento desportivo, Simão Muanda revelou que gastou 120 milhões de kwanzas, tendo sublinhado que não criou o projecto para fins lucrativos. “Para recuperar o valor supracitado num projecto como este não é em 10 ou 15 anos.
Por isso, não estou a pensar em lucro como tal”, começou por dizer. O mesmo responsável descartou a possibilidade de um dia vender o projecto.
O também empreendedor no ramo de segurança considerou que, não só o boxe, mas o desporto de combate são vistos como enteados, porque quando se fala em obra de execução de desporto apenas se menciona estádios ou pavilhões.
“As modalidades de combates não treinam em pavilhões e estádios.
Nós treinamos em ginásios abertos e fechados”, apontou.
Questionado se o centro de estágio vai acolher alguma delegação no Africano de judo, em Abril próximo, Simão Muanda assinalou que ainda não foi contactado, mas garantiu que o presidente da referida federação, Hermenegildo dos Santos, tem conhecimento da existência deste projecto.
”O presidente de Federação de Judo tem conhecimento, mas ainda não visitou o recinto. Na inauguração, vamos convidar todas federações de lutas”, assegurou.
Simão Muanda realçou que tem “quase a certeza” de que em Angola não tem um espaço do género, que pode ter todos atletas de combate concentrados num único lugar.
“As luvas, sacos de pancadas , o ringue e outros materiais desportivos estão no centro.
Nós produzimos”, sublinhou.
Cubano “lapida” diamantes angolanos
Para massificar o boxe, Simão Muanda criou o clube Lafinca, às ordens do treinador cubano Reincl Machín, acrescentando que a equipa não vai aparecer tão cedo nas competições provinciais e nacionais.
“Neste momento, temos dois atletas que já podem representar o clube. Um deles é meu filho que está comigo num projecto desde os seus 15 anos.
No futuro, os dois pugilistas estarão prontos para representar as cores do clube”, avançou.
Anselmo Muanda, de 18 anos, da categoria de 75 kg, contou que decidiu viver no centro para ser um pugilista de qualidade, tendo assumido o desejo de seguir o exemplo do seu pai, que no passado brilhou em vários ringues do país e do continente “Berço da Humanidade”.
“Só vou para a casa aos sábado, mas domingo de tarde regresso ao centro para dar sequência aos trabalhos”, explicou.
Já o treinador cubano, Reincl Machín, louvou a iniciativa de Simão Muanda: “o centro tem melhores condições comparado com recintos que estão fora de Angola no quesito desporto de combate”.