O presidente da Associação Provincial de Andebol de Luanda (APAL), Simão Filho assinala, em entrevista a este jornal, que o seu elenco tem desembolsado, anualmente, 5.000.000.00 (cinco milhões de kwanzas) para realização de provas.
Por outro lado, o dirigente considerou positivo o estado actual do andebol nacional, em ambos os sexos, sublinhando mesmo que “se os fazedores da modalidade no país dormirem à sombra da bananeira, perderemos a nossa hegemonia no continente Berço da Humanidade”
O que lhe apraz dizer sobre o estado actual do andebol nacional?
Considero positivo.
Entretanto, vamos recuar um pouquinho no tempo. Antigamente, a Selecção Nacional sénior, quer em masculinos, quer em femininos, era constituída por atletas do Campeonato Nacional, nomeadamente Petro de Luanda, 1º de Agosto e Progresso do Sambizanga.
Digamos que essas equipas detinham mesmo o monopólio sempre que chegasse o momento da convocatória para a disputa de uma determinada competição.
Não passava, rigorosamente, pela cabeça de ninguém que uma atleta do campeonato provincial, seja de Benguela, Namibe, Huíla ou Cabinda, fizesse parte da lista de convocadas para representar as cores da Selecção Nacional, isto é, nas provas cariz continental, bem como mundial.
Por outro lado, as selecções juniores e de cadetes, nas duas classes, eram constituídas apenas por atletas do Campeonato Provincial de Luanda.
Os provinciais da Huíla, Cuanza-Sul e Norte, Moxico, M a l a n j e , Cabinda, Benguela, só para citar, não d i s p u – nham de qualidade, por isso, nenhuma atleta atleta era c h a m a d a para integrar a selecção angolana. Admito que, naquela altura, não se fazia o trabalho que se tem vindo a fazer agora nas camadas de formação.
Actualmente, já temos atletas de outras províncias a actuarem no sete nacional.
Não há dúvidas de que tal facto vem sinalizar que o nosso andebol registou mesmo uma certa evolução.
Verdadeiramente, os clubes têm vindo a desempenhar um papel fundamental na formação das atletas.
Mesmo com poucos recursos, os clubes têm surpreendido. Por um lado, isto demonstra que os treinadores angolanos estão mesmo comprometidos com a modalidade.
Por outro, os nossos técnicos não ficaram presos no tempo. Pelo contrário, continuam a se aperfeiçoar nos mais variados domínios.
E isso deixa-me imensamente satisfeito.
Acredita que Angola pode vir a perder a sua hegemonia em África?
Vamos por partes.
Claramente que somos «papões» em África.
Nenhuma selecção africana consegue bater-se olhos nos olhos com a formação angolana.
É um facto.
Não temos concorrência nas provas sob a égide da Confederação Africana de Andebol (CAHB).
Estamos num patamar muitíssimo elevado, pelo que os títulos falam por si. Temos de nos orgulhar disso.
Mas é importante clarificar que só iremos perder a nossa hegemonia no continente berço se dormirmos à sombra da bananeira.
Para um melhor entendimento, vou me referir nos seguintes termos: temos de investir no homem, aumentar o número de equipas em todas as províncias do país, melhorar e aumentar as infraestruturas desportivas, assim melhorar os métodos de treinamento.
Repare que, nos últimos anos, a Selecção Nacional sénior feminina tem vindo a disputar finais com países diferentes.
Sabe o que isto quer dizer?
É simples.
Calma! Eu explico: isto significa que boa parte dos países africanos têm vindo a evoluir, cujo foco passa por retirar a hegemonia por parte do nosso país.
Em virtude disso, não devemos baixar os braços.
Pelo contrário, temos de continuar a trabalhar com elevado sentido de responsabilidade para continuarmos no topo.
Caso contrário, seremos ultrapassados pelo Egipto, Camarões, RDC, Tunísia, assim como Senegal.
De realçar que estes países têm vindo a fazer um trabalho de altíssimo nível nos escalões de base.
Sente que o governo tem valorizado a modalidade?
Não há dúvidas. Sou de opinião de que se o governo não tivesse estendido a sua mão à Federação Angolana de Andebol (FAAND), a Selecção Nacional, em ambos os sexos, não iria alcançar os feitos que estão escritos nas páginas do andebol africano.
Mas há aqui um ponto que merece mesmo ser sublinhado.
Digo, sem filtros, que o apoio que o governo tem vindo a endereçar à modalidade não vai ao encontro do que pretendemos.
Ou seja, os apoios são insuficientes face aos nossos desafios. Como deve perceber, a seleção angolana já não tem nada a provar em África.
Detemos a hegemonia.
Mandamos no continente berço.
Assim sendo, queremos marcar posição nas provas de cariz internacional, nomeadamente campeonatos do mundo e Jogos Olímpicos.
Neste momento, o nosso objectivo passa por competir de igual para igual com as melhores selecções do mundo.
E isto requer custos.
Entretanto, se o governo não intensificar os apoios junto do órgão reitor da modalidade no país, infelizmente, não atingiremos os nossos desideratos.
Se queremos mesmo competir olhos nos olhos com os «papões do mundo», o governo tem de desembolsar verbas para que a selecção angolana possa participar de torneios internacionais com selecções de altíssimo nível, no sentido de elevar os seus níveis competitivos.
Qual é o nível de relação entre a associação e federação?
Execpcional! O órgão reitor da modalidade no país tem nos ajudado em todos os domínios e isso deixa-me mesmo satisfeito.
Vale ressaltar que o apoio institucional, por parte da nossa federação, tem estado presente.
O elenco de José do Amaral “Maninho” nos tem apoiado em termos de metodologia, de acompanhamento, de programas, de planos de acção, seja a nível da formação, seja a nível da aquisição de material desportivo.
Verdadeiramente, temos uma federação que está comprometida com as associações e clubes. Não tenho dúvidas de que a federação continua a trabalhar com bastante afinco por forma a «andebolizar» o país.
Equanto às dificuldades que a associação tem vindo a enfrentar, o que lhe vem à alma?
Vou-lhe ser bastante sincero. Do ponto de vista funcional, não sabemos o que é passar por dificuldades, na medida em que a nossa federação, sob o comando de José do Amaral “Maninho”, nos tem dado o necessário, no que concerne à vertente financeira, sem perder de vista a nível de material desportivo.
Entretanto, a nossa grande preocupação prende-se no nível de organização do campeonato provincial de Luanda.
Não estou aqui a assinalar que estamos mal neste aspecto.
Percebemos que estamos ainda longe de chegarmos ao que se pretende.
Para que se possa melhorar o nível de organização das provas, visando conferir maior qualidade aos atletas em todo o país, temos de olhar com bastante atenção para as condições de segurança nos pavilhões, sem descurar o acesso dos adeptos aos recintos.
Por exemplo, o campo do Catetão (Petro de Luanda) não reúne condições para a prática do andebol.
Há alguns problemas com o piso que coloca em perigo a integridade física dos praticantes.
Qual é o valor que a associação tem gasto anualmente em provas?
Anualmente? Temos desembolsado aproximadamente cinco milhões de kwanzas.
Na verdade, este valor tem vindo a revelar-se suficiente face às nossas necessidades. Felizmente, não temos encargos com as equipas de arbitragem.
Assim sendo, os clubes têm a obrigação de custear as despesas inerentes à alimentação, hospedagem e transporte.
Os árbitros têm vindo, nos últimos anos, a merecer duras críticas por parte dos clubes em virtude das suas respectivas prestações. Sente que a arbitragem nacional carece de melhorias?
Não concordo com as pessoas que dispõem desta visão. Penso que os aficionados do nosso andebol têm de amadurecer um bocadinho.
Os adeptos e até alguns treinadores têm a ideia de que se é árbitro, então deve obrigatoriamente apitar bem.
Queremos que tudo corra na perfeição.
As coisas não funcionam desta maneira.
Partindo do princípio de que ninguém está isento de erros, então, as críticas que têm vindo a ser dirigidas aos nossos árbitros não fazem qualquer sentido.
Temos de colocar de uma vez por todas nas nossas cabeças que os árbitros são humanos, logo, também erram.
Reconheço que a prestação dos homens do apito não tem sido positiva.
Há equipas que têm vindo a ser prejudicadas por conta de algumas decisões.
A situação actual da nossa arbitragem não é negativa, nem mesmo positiva.
Carece de algumas melhorias, razão pela qual temos estado a promover diversos cursos de formação, capacitação e refrescamento dos árbitros.
O objectivo passa, também, por aumentarmos o número de árbitros e, daí, extrairmos a qualidade.