Em entrevista a este jornal, o presidente da Federação Angolana de Esgrima (FAE), Nuno Pereira, falou do processo de evolução, dos desafios e das dificuldades por que a modalidade olímpica tem enfrentado. O responsável federativo garantiu que o objectivo do órgão reitor é massificar e expandir a esgrima em todo o país, acrescentado que qualquer pessoa pode praticar a modalidade
O presidente da Federação Angolana de Esgrima (FAE), Nuno Pereira, fez saber ao jornal O PAÍS que a modalidade de combate, que surgiu nos séculos XVII e XVIII, está a evoluir a bom ritmo.
Para o dirigente, o órgão que dirige tem estado a trabalhar de forma árdua com as associações provinciais, em função disso Luanda, que é a maior praça deste desporto, conta agora com três clubes, nomeadamente Thouro Esgrima, Vila Esgrima e Fae.
No seu terceiro ano de mandato, Nuno Pereira revelou que conseguiu expandir a esgrima nas províncias de Luanda, Malanje, Cabinda, Huambo, Benguela, Cuanza-Norte e Huíla.
Apesar de existir três tipos de especialidades, o responsável afirmou que Angola desenvolve a vertente de espada.
“Não é que a espada seja menos técnica, mas é a especialidade mais fácil de se aprender, uma vez que permite caminhar para outras áreas”, sublinhou.
Ainda assim, o antigo esgrimistade uma equipa de Portugal assegurou que a intenção da federação é desenvolver as outras duas especialidades, nomeadamente florete e sabre.
Quanto à aquisição de equipa mentos, Nuno Pereira garantiu que a FAE tem estado a apoiar os clubes e os atletas, tendo acrescentado que os esgrimistas podem adquirir os materiais deste desporto de combate no exterior, uma vez que o país ainda não comercializa materiais deste desporto de combate.
“O equipamento para a prática da esgrima pode custar entre 200 a 400 dólares. Deixa-me frisar que a modalidade pode ser praticada por qualquer pessoa”, disse.
Nuno Pereira quer massificar e expandir a esgrima
Quanto ao processo de massificação e expansão da esgrima, o antigo atleta da modalidade avançou que a federação enviou uma carta ao Petro de Luanda, 1º de Agosto, Kabuscorp do Palanca e Interclube no sentido de abrirem núcleos.
“O certo que é nenhuma das equipas supracitadas mostrou interesse.
De seguida, fomos ter com o Vila Clotilde, clube este que nos abriu as portas”, contou.
Nuno Pereira lamentou o facto de os clubes “grandes” declinarem o convite.
Na sequência da entrevista, Nuno Pereira revelou que os próximos desafios, que começam em Setembro, passam por participar nos campeonatos africanos e mundiais de cadetes e de juniores, uma vez que foi definido como prioridade as classes de iniciação.
“Continuamos a trabalhar no processo de massificação e de formação de treinadores.
Neste momento, temos dezasseis técnicos, mas apenas dois têm o nível-5, que é a categoria máxima da Federação Internacional da Esgrima (FIE)”, sublinhou O presidente da Federação garantiu que estão em negociações com os homólogos de Portugal e do Brasil para formar treinadores angolanos.
“Para frequentar o curso de técnico de nível-5, a Federação Internacional exige ao candidato o domínio da língua inglesa. Neste quesito reside a dificuldade de muitos treinadores de níveis inferiores”, explicou.
Esgrima “espreita” calendário escolar
Para o presidente da Federação Angolana de Esgrima (FAE), Nuno Pereira, a massificação da esgrima e de outras modalidades passa pelo desporto escolar.
“É importante apostar no desporto a partir da base, isto é, na escola para fazermos futuros campeões, o contrário será muito difícil.
Temos de habituar as crianças a cultivarem o gosto pelo desporto a partir do ensino primeiro”, aconselhou.
Para sustentar a sua posição, Nuno Pereira foi buscar o exemplo do basquetebol para dizer o seguinte: “Angola dominou a modalidade da bola ao cesto porque os primeiros campeões saíram das escolas e das ruas. Depois foram aprimorar os aspectos técnicos e tácticos”.
Nuno Pereira e o futuro
A faltar um ano para o fim do mandato, o presidente da FAE, Nuno Pereira avançou que se vai recandidatar para o quadriénio olímpico 2024/2028, com o objectivo de dar sequência aos projectos.
Em caso de vitória nas próximas eleições, o dirigente assumiu que lutará para qualificar a Angolapara os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos da América.
“Acredito que com mais trabalho será possível garantirmos o apuramento, mas exigirá do governo mais investimento. Aliás, é mais fácil medalhar nas provas individuais em relação as colectivas”, perspectivou.
FAE “queima” Kz 10 milhões no Nacional
Para organizar um campeonato nacional, o líder da Federação Angolana de Esgrima, órgão fundado a 15 de Agosto de 2015, Nuno Pereira revelou que gasta 10 milhões de kwanzas, valor que inclui a alimentação, transportação e alojamentos dos clubes.
Nuno Pereira fez saber que o órgão que dirige tem apoio institucional e financeiro do Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD).
Ainda assim, o dirigente federativo realçou que a federação tem também recebido apoio financeiro de uma empresa privada. “A dificuldade reside no custo de bilhetes de passagens para o exterior do país.
Por exemplo: Íamos para o Africano no Ghana com aproximadamente onze elementos, mas o custo de bilhete de passagem rondava 11 milhões de kwanzas, valor superior ao que recebemos do MINJUD anualmente”, disse.
Nuno Pereira é de opinião que haja uma redução nos custos, porque a selecções nacionais vão representar as cores da bandeira angolana.
Por isso, o responsável defendeu que essa situação deve ser revista.
Luanda acolhe Nacional este mês
A província de Luanda acolhe, nos dias 25 e 26 deste mês, o Campeonato Nacional de esgrima, em ambos os sexos, prova que estava inicialmente agendada para a província do Cuanza-Norte.
“Infelizmente, não tivemos resposta do governo daquela província” Huambo, Huíla, Cabinda, Malanje, Cuanza-Norte e Luanda, anfitrião, são as províncias que já garantiram presença.
Histórico de uma modalidade olímpica
A esgrima é um desporto de combate em que os competidores, esgrimistas, utilizam armas brancas para atacar e defenderse.
Em França, no período do absolutismo (séculos XVII e XVIII), havia competições de luta com a utilização de sabres e espadas.
Em 1896, a esgrima passou a fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos. Uma luta de esgrima tem a duração de três assaltos com três minutos cada um.