A modalidade tem vindo a atravessar uma fase negativa e enfrenta desafios significativos, tanto que a prática está restrita na capital do país. Uma das razões reside no facto de a Associação Provincial de Motocross de Luanda (APML) ser a única que tem movimentado este desporto, enquanto nas demais regiões do país a prática não se faz sentir.
No entanto, a associação também tem realizado as provas fora de Luanda, mas apenas em ocasiões especiais, como festa de aniversário de uma província ou por intermédio de um convite.
Por outro lado, a falta de massificação deste desporto tem sido evidente, uma vez que existem poucos clubes e pilotos, sem descurar as infra-estruturas que não oferecem condições dignas para a realização de competições.
Além disso, os altos custos associados à organização de provas e à manutenção das motos constituem barreiras adicionais que afastam novos praticantes. Muitos jovens com pretensões de se aventurarem no motocross não têm acesso aos recursos necessários, facto que tem colocado a modalidade em estado de estagnação.
Noutra vertente, a falta de patrocínios e apoio institucional também limitam o desenvolvimento deste desporto. Frequentemente, os atletas precisam de arcar com as próprias despesas para participar nas competições, o que tem desmotiva- do a participação e a formação de novos talentos.
Em contrapartida, os clubes e pilotos ouvidos por este jornal pedem maior valorização da modalidade para que a mesma possa ganhar o seu espaço, tanto a nível nacional quanto internacional.
APML defende investimento na modalidade
O presidente da Associação Provincial de Motocross de Luanda (APML), Osvaldo Gouveia, fez questão de assinalar que a modalidade enfrenta, actualmente, uma situação «muito crítica», lutando para se manter activa diante de sérias dificuldades financeiras.
No entanto, assinalou a este jornal que um dos maiores obstáculos enfrentados pelo seu grupo de trabalho são os elevados custos operacionais. Sublinhou que organizar cada prova demanda cerca de 7 milhões e 440 mil kwanzas, dificultando a sustentabilidade de um campeonato com 16 provas.
Osvaldo Gouveia apontou também que a falta de um patrocinador oficial torna a situação ainda mais complicada. Acrescentou que tem solicitado pequenos patrocinadores, mas têm sido escassos devido ao momento conturbado que o país atravessa do ponto de vista eco- nómico e financeiro.
Além disso, destacou que os gastos com máquinas e a manutenção do circuito constituem custos adicionais. Osvaldo Gouveia referiu que, neste momento, o seu elenco conta com 56 pilotos divididos em quatro classes, designadamente 65 cm³ (formação), 85 cm³, moto 4 e Open.
Salientou que os troféus das competições custam 580 mil kwanzas cada, além das despesas relacionadas à segurança durante os eventos. Apesar das dificuldades financeiras e logísticas, Osvaldo Gouveia mostrou-se optimista quanto ao futuro do motocross, enfatizando que continuará a trabalhar sem mãos a medir para o seu crescimento.
“O estado actual da modalidade a nível nacional é crítico porque só é praticada em Luanda. Somos a única associação e temos enfrentado serias dificuldades. Os apoios não têm surgido, porque as empresas também têm enfrentado problemas financeiros. No entanto, se as dificuldades continuarem não conseguiremos nos manter”, disse Osvaldo Gouveia.
Fernas Baptista: “não é possível viver do motocross”
O piloto da Transchipeta de Benguela, Fernas Baptista, considerou positivo o estado actual do motocross em Angola, creditando o crescimento da modalidade à liderança de Osvaldo Gouveia na Associação Provincial de Motocross de Luanda.
“O estado actual do motocross é muito bom depois de a associação ter sido assumida por Osvaldo Gouveia. A modalidade tem crescido muito no nosso país e isso é visível após a abertura da escolinha de motocross localizado no Circuito Jorge Varela”, começou por dizer.
O actual campeão da classe Open também ressaltou que o governo tem prestado apoio à modalidade.“O nosso governo tem apoiado o motocross. A título de exemplo, o fim do campeonato provincial de Luanda terá lugar em Benguela e o governo provincial tem criado todas as condições para o êxito da prova, sobretudo na construção da pista e outros aspectos inerentes à prova”, explicou.
Entretanto, Fernas Baptista aproveitou a ocasião para fazer uma observação sobre a realidade financeira dos atletas, ex- plicando que não é possível viver desta modalidade, por- que não há apoios. De realçar que a última prova do calendário da associação provincial de Luanda disputa-se na cidade das Acácias Rubras, no dia 9 de Novembro próximo, e visa homenagear os feitos desportivos de Fernas Baptista.
No entanto, Fernas Baptista referiu-se nos seguintes termos: “A sensação é boa tendo em conta que estou a caminho de 19 anos de carreira tanto nacional quanto internacional. Nunca fui homenageado. Na verdade, é muito bom ser homenageado em casa”, finalizou o piloto.
Fábio Pereira: “ainda somos crianças no motocross”
O piloto do Team Jacaré, Fábio Pereira, destacou a este jornal que a modalidade «evoluiu muito» nos últimos dez anos. No entanto, apontou que ainda há um longo caminho a percorrer para que o motocross se consolide plenamente em solo angolano. “O motocross evoluiu muito comparativamente há dez anos.
Mas não podemos esquecer que ainda somos crianças nesta modalidade”, começou por referir. Apesar dos avanços, Fábio Pereira não hesitou em sublinhar os desafios que ainda persistem no motocross.
O atleta apontou a falta de investimento e patrocínios como obstáculos para a realização de competições dignas de registo. “Não há investimento sério e patrocínios para que haja condições para a realização de provas. É preciso mais apoio, por- que é um desporto muito difícil de realizar”, lamentou.
Erikson de Carvalho: “A situação do motocross a nível nacional é preocupante”
O piloto da província da Huíla, Erikson de Carvalho, destacou os desafios enfrentados pelo motocross em Angola, afirmando que a modalidade vive uma fase negativa, com a prática restrita à capital, Luanda. Segundo o piloto, embora o motocross esteja bem organizado a nível provincial, a situação a nível nacional é “muito preocupante”.
Para participar nas provas, disse que tem desembolsado 250 mil kwanzas apenas em viagens, sem contar as despesas relacionadas à manutenção da moto de competição. Erikson de Carvalho enfatizou a necessidade urgente de promover a massificação da modalidade, além do investimento na formação de novos talentos para garantir um futuro mais promissor para o motocross em Angola.
“A nível provincial estamos bem, por- que o elenco de Osvaldo Gouveia encontra-se bem organizado. Mas a nível nacional precisamos melhorar muito. A falta de massificação é o principal problema”, disse Erikson de Carvalho.
POR:Kiameso Pedro