O presidente do Comité Olímpico Angolano (COA), Gustavo da Conceição, fez questão de assinalar em entrevista ao jornal O PAÍS que não vai se recandidatar para mais um mandato, no próximo ciclo olímpico (2024/2028), tendo justificado que deixará a instituição com sentimento de dever cumprido. Adicionalmente, o ex-internacional pelos hendecacampeões africanos abordou o estado actual do desporto nacional, sem perder de vista o escândalo de corrupção no futebol
Qual é o balanço que se pode fazer do plano de actividades referente ao exercício de 2022? Estamos no bom caminho, na medida em que conseguimos realizar um conjunto de acções que estavam previstas para este ano.
Repare que no ano passado, para além de fazermos as nossas reuniões estatutárias, normais e assembleias, relançamos o Projecto Olimpáfrica, localizado no município de Viana, na capital do país.
Vale recordar que, apesar das dificuldades que temos enfrentado nos últimos anos face à crise financeira que se vive no país, este projecto tem servido e bem para o desporto nacional.
Para um entendimento mais exaustivo, digo-lhe que a Associação Provincial de Atletismo de Luanda (APAL) tem vindo a realizar as suas actividades naquele espaço.
Naturalmente que precisamos de melhorar muita coisa, mas estamos satisfeitos com o que tem vindo a acontecer no Olimpáfrica.
Os Jogos Olímpicos de Paris’2024 estão às portas. O que lhe apraz dizer?
Estamos a nos preparar no sentido de termos uma boa participação no evento mundial.
De realçar que teremos, em breve, o chefe de missão angolana, Pedro Godinho, a deslocar-se à cidade de Paris (França) para começar a estudar as condições locais com objectivo de facilitar o acesso aos serviços, às legalizações, assim como conhecer e escolher o espaço ou a vila em que iremos ficar.
Podemos atingir patamares mais elevados nesta prova?
Em primeiro lugar, é necessário assinalar que ainda não temos uma modalidade apurada para o evento mundial.
O basquetebol seria o primeiro a garantir a qualificação. Mas não conseguimos. Vamos ver o que acontece no pré-olímpico, na qual teremos ainda o andebol que começa já no próximo mês, em Luanda.
Entretanto, o que se pode esperar das selecções nacionais nesta competição é, naturalmente, a superação.
Como deve saber, as olimpíadas devem constituir um momento de balanço daquilo que foram os quatro anos de preparação para os jogos.
E não devemos descurar que essa preparação é global, significa que não cabe apenas ao comité.
Penso que começa mesmo nas federações nacionais, visto que não temos os atletas connosco.
Mas temos acompanhado a evolução dos atletas inseridos nas fases de qualificação. Verdadeiramente, os indicadores são animadores.
Espero que as modalidades individuais e colectivas estejam preparadas para as qualificações. Vale sublinhar que temos boas expectativas com realce no taekwondo, atletismo, canoagem, natação e nas artes marciais.
Estão reunidas as condições de participação?
Não lhe posso dar pormenores sobre este assunto, pois só começaremos a pensar na criação de condições quando tivermos as modalidades apuradas para a competição.
Depois de terminar o mandato pretende recandidatar-se?
Não! Este é o meu último ano no Comité Olímpico Angolano (COA). Com toda a humildade digo-lhe que contribuí para o crescimento e formação de uma geração de dirigentes desportivos que hoje estão, verdadeiramente, maduros para segurar as responsabilidades que esta instituição apresenta.
Portanto, é com bastante tranquilidade que estou a fechar o meu último mandato.
Estou a fechar com um esforço de realizar o sonho do primeiro mandato que é de deixar o Olimpáfrica com uma escola e o Comité Olímpico com uma sede.
Espero conseguir. Saio com o sentimento de dever cumprido. Mas estou ciente de que devia ter feito muito mais.
A Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol falhou o apuramento directo aos Jogos Olímpicos. O que terá faltado?
Perdemos a oportunidade de garantir o apuramento directo às olimpíadas no Campeonato do Mundo da Ásia.
A selecção angolana esteve aquém do que era esperado. Na verdade, estivemos num grupo acessível.
Em condições normais, conseguiríamos a qualificação para a fase seguinte. Perdemos os jogos da fase de grupos por culpa própria.
Tirando o jogo com o Sudão do Sul, nas classificativas, nenhuma das selecções se revelou superior como tal. Não fomos dominados.
Pecamos nos lançamentos de dois e três pontos e isso acabou por ser determinante.
A ausência de Carlos Morais acabou por afectar o rendimento do grupo?
Não gosto de analisar o desporto, nem o basquetebol por aí, não só pela minha responsabilidade, como também pela minha formação.
Mas uma coisa é certa: se compararmos os dados estatísticos produzidos chegaremos à conclusão de que estivemos muito mal a nível dos lançamentos, quer a curta, quer a longa distâncias.
Perdemos um jogo com a República Dominicana, por sete ou oito pontos de diferença, e falhámos mais de vinte lances livres, o que, na verdade, é impressionante.
Tivemos um grande défice de lançadores. Não lhe consigo explicar se Carlos Morais teve influência negativa no grupo, pois desconheço.
O extremo-base do Petro de Luanda, Carlos Morais, é um jogador que contribuiu de forma substantiva para as vitórias da Selecção Nacional.
Não gosto de tocar nesses assuntos, deixo para os treinadores e federação.
Teremos uma palavra a dizer no pré-olímpico?
Acredito que teremos sempre uma palavra a dizer no quadro de uma estratégia que devemos traçar. Não podemos cometer os erros do passado.
Temos aqui uma excelente oportunidade para consolidarmos os processos, bem como criar mais estabilidade no balneário.
Vamos tentar a qualificação. Reconheço que teremos demasiadas dificuldades para garantir a qualificação por via do pré-olímpico, visto que o certame vai reunir selecções de enorme valia.
O préolímpico é um torneio de altíssimo nível. Como deve saber, as terceiras e quartas equipas do continente europeu e americano estarão neste torneio para lutarem pela qualificação.
Não devemos, em nenhum momento, subestimá-la.
“Não devemos compactuar com a corrupção. Isto é um atentado ao desporto”
Qual é o seu grau de relação com a FABOXE?
Não temos nenhuma relação institucional com a Federação Angolana de Boxe, pois é membro efectivo da AIBA.
Esta associação internacional de boxe deixou de ser reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional (COI).
Portanto, a direcção de Carlos Luís não deve apresentar atletas nos jogos olímpicos, visto que não é reconhecida internacionalmente.
Só iremos lidar com a federação que estiver ligada a Old Boxing, que é reconhecida pelo COI como interlocutor para apresentar atletas desta modalidade nas olimpíadas. Mas a minha relação com Carlos Luís é das melhores. Não há nenhum problema.
O que lhe apraz dizer sobre a suspensão do Petro de Luanda de todas as competições pela FAF?
Tenho acompanhado à distância. Mas temos de apelar à calma e serenidade. Não podemos condenar as pessoas sem antes termos as provas, até porque gozam da presunção de inocência.
Vamos aguardar a decisão do conselho jurisdicional da Federação Angolana de Futebol (FAF). Não devemos compactuar com a corrupção.
Isto é um atentado ao desporto. O desporto deve ser pautado pela transparência.
Deve haver um tratamento objectivo e responsável para que se possa condenar os verdadeiros culpados.
Angola está no CAN da Côte d’Ivoire… Exactamente! Estou satisfeito porque era um objectivo que tínhamos. É bom estar nesta montra.
O sonho de ganhar essa competição está sempre presente. Mas estamos cientes das nossas limitações.
Queremos uma selecção unida, competitiva e que represente bem o nosso futebol. Os jogadores têm de mostrar que no panorama desportivo angolano também há craques. Estamos a crescer.
Quando é que teremos o futebol a competir nas olimpíadas?
Gostaria muito de ter o futebol a qualificar-se para os Jogos Olímpicos. Não é difícil, mas temos ficado sempre pelo caminho, sem descurar a falta de apoios. É lamentável!