Fundado no dia 28 de Julho de 2008, o Clube Desportivo dos Escorpiões de Viana, do bairro da BoaFé, uma das áreas de Luanda com elevado índice de criminalidade, enfrenta várias dificuldades para formar jogadores e tirar os jovens dos caminhos ínvios. Os esforços feitos pelo presidente do clube, Lúcio de Assis, têm dado vida desportiva à formação afecta ao referido bairro
Quem chega às imediações da Pracinha da Boa-Fé, no município “satélite” de Viana, em Luanda, depara-se com o campo pelado, sendo que nos dois pontos pode-se ver as balizas de ferro, de cor branca, implantadas no solo, e as redes de cor castanha.
A volta do palco onde centenas de crianças aprendem o ABC do desporto-rei, jovens de ambos os sexos assistem atentamente o trabalho orientado pelos treinadores.
O recinto, que parece não ter as dimensões exigidas para a prática do futebol onze, salta à vista um detalhe, pois, por trás da baliza, localizada na direcção Sul, há uma bancada ‘improvisada’ que permite acomodar os mais altos convidados sempre que há jogo ou treinos a doer.
No rés-do-chão do edifício em causa, para rentabilizar o espaço, a direcção do clube arrendou os compartimentos para a prática de actos de comércio de refeições e bebidas, havendo ou não treinos ou jogos.
Ainda assim, no local, a reportagem do jornal O PAÍS apurou que o valor arrecadado dos cinco ou quatro compartimentos serve para colmatar algumas necessidades como a compra de bolas e água potável para matar a sede dos jogadores, bem como dos treinadores.
Pavilhão multiusos em memória de Zezé Assis
Na zona Sul do campo, o clube conta com o Pavilhão Multiusos Zezé Assis, que visa homenagear o antigo internacional angolano de basquetebol que morreu em Agosto de 2007.
Basquetebol e andebol são as modalidades de sala praticadas no pavilhão que atende pelo nome do então campeão africano de juniores em 1980 do século passado.
As condições do pavilhão multiusos não são das melhores, visto que o piso é cimentado e cor azul, distante dos requisitos exigidos, mas ainda assim os atletas aprendem o ABC da modalidade.
No outro lado, pode-se ver a garagem onde está estacionado e avariado o único autocarro que servia para apoiar o clube nos jogos fora do seu reduto, num passado recente.
Sala de reuniões Isaac dos Santos A equipa de reportagem aproveitou também percorrer os meandros da sede social do clube de dois andares, que está a aproximadamente oito metros de distância do campo de futebol.
A sala de reuniões foi baptizada com o nome de Isaac dos Santos, então jornalista da Rádio Cinco, actualmente juiz de direito.
Na sede há uma sala onde consta os vários troféus que o clube já arrebatou desde 2008, ano da fundação, com maior ênfase para o Girabairro, Taça do Presidente, em 2014.
O troféu foi entregue ao capitão do clube pelo antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos (já falecido).
Voltando ao futebol, a sessão de treinos durou aproximadamente duas horas sob o olhar atento do mister Leonardo Teixeira “Folha”, tendo terminado com uma partida entre os juvenis e os juniores que estavam devidamente uniformizados, cujo resultado não estava em causa.
À medida que o jogo decorria foi possível ver pessoas e motorizadas de três rodas a passarem pelo rectângulo de jogo.
Ainda assim, não retirou a alegria da ‘rapaziada’, porque os atletas exibiam fintas e passes de encher os olhos dos moradores e amantes do desporto rei que assistiam ao embate.
O médio ofensivo do escalão de juniores, Joaquim Valente “Magoga”, de 17 anos, que tratava a bola com a alguma mestria, em função dos ensinamentos que adquiriu nos Escorpiões, recebia os aplausos dos presentes.
Magoga contou que tudo o que sabe hoje é graças à formação que recebeu no escalão de iniciado. “Estou muito grato por isso.
Ainda assim, vou continuar a trabalhar para realizar o meu sonho que passa em ser uma boa referência do nosso futebol”, garantiu.
O jogador, que já esteve em experiência no 1º de Agosto, disse que tem como fonte inspiração o antigo jogador do Petro de Luanda, Ricardo Job, tendo lamentado a falta de bolas.
Partilha da mesma opinião o médio defensivo do escalão de juvenis, Mariano Mário, de 15 anos: “apesar de ter outros membros na direcção do clube, o nosso presidente, Lúcio de Assis, precisa de mais apoios para que o clube possa ter melhores condições”.
Mariano Mário deixou uma mensagem aos jovens do bairro da Boa-Fé e arredores para saírem do mundo da delinquência. “Nós jovens adolescentes devemos estar mais inclinados para o desporto.
Não importa a modalidade”, sublinhou o atleta, que tem como “ídolo” o antigo jogador do 1º de Agosto, Ary Papel.