A equipa de reportagem do jornal OPAÍS deslocou-se ao Projecto Ondjo Yeto, nas Casas Azuis, no município de Talatona, em Luanda, para constatar “in loco” como centenas de crianças e jovens aprendem a jogar basquetebol na Escolinha de Formação Desportiva Joana Miguel.
Assim que a equipa de reportagem chegou ao local, despertou atenção dos futuros craques, em masculino e feminino da bola ao cesto, que ensaiavam penetrações, dribles e condução da bola sob o olhar atento da ‘mister’ Neusa dos Santos e do coordenador técnico, Mário Belarmino Chipongue.
Apesar de o campo ter piso de cimento e não ter as medidas exigidas internacionalmente, não impede os jogadores de trabalharem com alegria. O campo, com piso pintado de verde, sendo que as linhas divisórias são brancas, tem duas ta-belas “chumbadas” na parede.
Entretanto, na parede onde está cada uma das tabelas, por baixo, há colchões para não colocar em risco a integridade física dos ‘garotos’.
À medida que decorria a reportagem, foi possível constatar que o recinto tem uma secretaria e WC, um bebedouro de água, funcional, e uma máquina para a prática de exercícios físicos. No entanto, o campo tem cobertura de chapa de zinco, o que obriga a que as sessões de treino sejam feitas num período não muito quente.
Apesar de as condições não serem das melhores, a Escolinha de Formação Desportiva de Basquetebol Joana Miguel está a formar futuros craques da modalidade da bola ao cesto que sonham um dia representar as cores da Selecção Nacional e jogar na NBA, como revela o menino Abel Miguel, de 13 anos.
Abel Miguel, que estuda a 8.ª classe, disse à nossa reportagem que tem passado mais tempo na escolinha, onde tem conciliado bem os estudos com o basquetebol.
O menino revelou que já aprendeu muitas coisas sobre o basquetebol na Escolinha Joana Miguel, como, por exemplo, fazer uma penetração, lançamento à curta e à longa distâncias. Abel Miguel, que actua na posição de base, sonha jogar no basquetebol profissional, no Petro de Luanda, equipa que domina actualmente o basquetebol angolano.
Para isso, tem consciência de que é imperioso trabalhar arduamente. Partilha da mesma opinião Manuel Gomes, de 18 anos: “escolhi praticar basquetebol nesta escolinha, porque tem bons professores”. Manuel Gomes, estudante da 11.ª classe, que frequenta o curso de Construção Civil, revelou que foi bem recebido pelos colegas que diariamente pensam coisas positivas.
O adolescente, que actua na posição de poste, tem como fonte de inspiração Aboubakar, atleta do Petro de Luanda, e Carlos Morais, atleta que recentemente ajudou os tricolores a conquistarem a Liga Africana de Basquetebol (BAL).
Quem não escondeu a satisfação pelo facto de estar na escolinha é o jovem Leonardo Miguel Tavira, de 16 anos. Fez saber que a escolinha Joana Miguel não está a formar só jogadores, mas também homens para a sociedade.
O extremo, que frequenta a 9.ª classe, aconselhou os jovens que vivem nas imediações do Projecto Nandó, Casas Azuis, Casa da Juventude, Praça do Sábado e Kididi Kiami para praticarem basquetebol, visto que é um desporto bom, tendo acrescentado que o desporto faz bem à saúde.
Por sua vez, Rebeca Bonifácio, de 16 anos, contou que chegou há um ano na escolinha, por intermédio do convite de uma prima. A poste Rebeca Bonifácio pretende partilhar o conhecimento sobre a modalidade com as outras meninas dentro do campo: “aqui não aprendemos só a jogar basquetebol, mas, sim, a sermos disciplinadas com as outras”.
Já Sara Pascoal, de 14 anos, garantiu que foi uma amiga quem fez o convite para jogar basquetebol.
Escolinha de Formação Joana Miguel na mira do 1.° Agosto
O coordenador técnico da Escolinha Joana Miguel, Mário Belarmino Chipongue, fez que saber que o 1.° de Agosto, que tem como presidente de direcção Gouveia de Sá Miranda, já manifestou interesse em fazer parceria com o projecto.Ainda assim, o antigo jogador relevou que é possível a escolinha caminhar sozinha: “vamos formar, depois passar os nossos talentos para outros clubes. Vamos procurar fazer protocolo.
Na formação, o que acontece é mais a cedência de material desportivo (bolas, cones e coletes) e não pagamento monetários na transferência de atletas”. Mário Belarmino Chipongue afirmou que o escalão de mini-basket tem muitos talentos que estão a ser cobiçados por alguns clubes, mas isso deve passar por um protocolo do patrono do projecto.“Colocámos à disposição os contactos do mentor da escolinha, porque sair um ou dois jogadores depende somente do patrono, Jorge Rufino, uma pessoa que ama o desporto”, explicou.
Mário Belarmino Chipongue: “é o primeiro projecto desportivo a nascer na Sapú 2”
O coordenador técnico da Escolinha Joana Miguel, Mário Belarmino Chipongue, contou que a ideia da criação do projecto surgiu do patrono da instituição, Jorge Rufino, ou seja, é também uma instituição de âmbito educacional, que é o Instituto Técnico de Saúde Joana Miguel.Mário Belarmino Chipongue explicou que o projecto era apadrinhado por Miguel Lutonda, antigo jogador da Nocal, Atlético Sport Aviação (ASA), 1.º de Agosto e da Selecção Nacional.
O responsável garantiu que o facto de viver nas imediações do Instituto de Saúde manifestou interesse em ajudar a desenvolver o projecto na comunidade, uma vez que é o primeiro projecto a nascer na Sapú 2.
O antigo jogador, que representou Angola nos Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney, na Austrália, sublinhou que o projecto abriu no dia 4 de Fevereiro do ano passado, tendo lembrado que começou com oito crianças e agora congrega 160 atletas, em ambos os sexos, nos escalões de minibasket, sub-12, sub-14 e sub-16.
Depois da inauguração, Mário Belarmino Chipongue realçou que a escolinha começou a realizar torneios internos em que convidavam outras equipas e núcleos, ou seja, era uma forma de dizer que a Escolinha Joana Miguel está presente no panorama desportivo.
Mário Belarmino recordou que foi a convite do presidente da Associação Provincial de Basquetebol de Luanda (APBL), Carlos Júlio, que a escolinha começou a participar em torneios de mini- basket, em datas comemorativas como o 18 de Maio, dia do basquetebol. “Este ano, vamos abrir o escalão de sub-19. Como o estatuto já está bem definido, a escolinha será transformada em clube”, avançou.
Escolinha tem boa relação com encarregados dos jogadores
Mário Belarmino Chipongue, coordenador técnico da Escolinha de Formação Desportiva Joana Miguel, garantiu que a relação é boa com os encarregados de educação dos jogadores.
O dirigente relevou que a cada trimestre a escolinha realiza reuniões, de modo a passar informações de que é imperioso o acompanhamento dos meninos, o que tem motivados os mesmos a assistir aos treinos e jogos da escolinha.
Mário Belarmino Chipongue assegurou que os encarregados participam anualmente com 15 mil kwanzas, valor que serve para cobrir algumas despesas como a compra de bola, equipamento, cones, só para citar algumas.
O processo de admissão é praticamente gratuito, visto que o candidato deve apenas apresentar atestado médico, fotocópia do Bilhete de Identidade ou Cédula Pessoal e duas fotografias tipo passe.
Após concluir o processo, o atleta está em condições para cumprir as sessões de treinos que no período da manhã decorre das 07:30 às 10:45, ao passo que de tarde vai das 14 horas às 16:30, sob olhar atento de cinco treinadores.
Projecto com dificuldades para recrutar meninas
O mentor e patrono da Escolinha de Formação Desportiva Joana Miguel, Jorge Rufino, revelou à nossa reportagem que a maior dificuldade neste momento é a construção de um campo maior.
Jorge Rufino fez saber que as obras estão para breve, cuja zona em que estará o futuro recinto não foi avançada. “Estamos a aguardar somente a licença de obras. A outra dificuldade é a questão da formação dos nossos coaches”.
O dirigente assegurou que a escolinha sobrevive graças aos próprios provenientes da entidade promotora.Mário Belarmino Chipongue, por sua vez, acrescentou ainda que recrutar meninas para os escalões de sub-14 é muito difícil, mas aos poucos o número já satisfaz a escolinha.
“Acho melhor não avançar números”, fechou-se em copas. “Precisamos de parceiros que apoiem a nossa escolinha para maior visibilidade na comunidade, de modo que possa atrair os pais a mandarem mais filhos ao nosso projecto, que tem tirado também os meninos dos maus caminhos”, solicitou.
Quanto ao material desportivo, Mário Belarmino Chipongue afirmou que a Escolinha Joana Miguel não está mal, mas, ainda assim, carece de mais apoio.