Foi nomeado num dia 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados. O que achou?
Foi só uma mera coincidência. Mas, antes disso, gostaria de agradecer à vossa presença aqui e dizer que as nossas portas estão sempre abertas. Sempre que precisarem de algum esclarecimento, estaremos aqui para isso mesmo. A si, aos seus leitores e ouvintes um abraço forte.
Já lá vão 10 meses desde que foi nomeado. Há um balanço que se pode fazer?
Há naturalmente. Como sabe, o nosso propósito é o de reorganizar todo o processo inerente à juventude e o desporto. Para isso, foram estabelecidas estratégias que passavam, em primeira instância, por trabalhar com todos os actores, todos os que estão envolvidos no desporto nacional, porque o nosso primeiro passo visava, em colaboração com todos estes actores, estabelecer o Plano Nacional de Desenvolvimento do Desporto. Foi um trabalho profícuo, trabalhamos com todos.
Esse trabalho culminou com o Encontro Nacional do Desporto, onde foi apresentado o documento de base e enriquecido por todos quanto assim o entenderam. Hoje, felizmente, já temos o Plano Nacional do Desporto aprovado.
Estamos agora a criar a base para, a partir de Janeiro do próximo ano, darmos início ao processo de reorganização do desporto escolar, comunitário, melhorar os índices de preparação e organização de todas as actividades inerentes ao desporto de competição, tratar das questões referentes à medicina do desporto e as infra-estruturas.
Portanto, é um processo que está em curso. Felizmente, com muita dinâmica, muita gente envolvida e com vontade de fazer.
Isso é muito bom…
Sabe que, quando aqui cheguei, em Fevereiro, tínhamos uma situação complexa: estávamos na iminência de ser suspensos pela Organização Mundial Anti-Dopagem (WADA).
Foi preciso trabalhar dia e noite para com a área jurídica da WADA e ultrapassarmos o que encontramos. Felizmente conseguimos, e agora estamos a tratar dos pressupostos inerentes à própria lei antidopagem.
Falemos de juventude. Na última reunião de auscultação do Plano Estratégico de Desenvolvimento Integral da Juventude 2024-2027, há uma frase enfática que utilizou quando discursava, sugerindo aos jovens que fizessem ouvir as suas vozes. Qual é a razão?
Naturalmente, porque os jovens têm que estar organizados. São uma peça relevante no desenvolvimento social do país. Eles precisam de estar organizados e apresentar as suas ideias.
É isso que é ouvir as suas vozes. Portanto, quanto mais fortes forem as organizações juvenis, mais fácil será intermediar o processo não só da sua formação, mas também do seu enquadramento social.
As contribuições recolhidas durante o processo de auscultação permitiram a visão das preocupações da juventude e as possíveis soluções?
Naturalmente, trabalhamos com as associações em particular, e depois ouvimo-las no colectivo. Portanto, sabemos bem quais são as principais preocupações da juventude, quisemos confirmar aquilo que nós pensávamos.
Não só conseguimos, como inclusive aprofundamos ainda mais algumas questões e, neste momento, o texto do Plano Estratégico de Desenvolvimento Integral da Juventude está pronto. Vamos remetê-lo até amanhã (sexta-feira 8 de Novembro) aos órgãos competentes do Conselho de Ministros.
Disse que tinha noção de quais eram as principais preocupações da juventude. O que veio a confirmar depois da auscultação?
São preocupações que nós vivenciamos no dia-a-dia. Têm a ver com a formação dos jovens, o primeiro emprego, habitação e outras dificuldades que enfrentam hoje que o próprio Estado tem que contribuir para ajudar a solucionar.
No domínio da formação, sabe que nós temos hoje um sem número de universidades, mas, ainda assim, não correspondem à demanda. Mas isso não é apenas no nível superior, porque vivenciamos o mesmo problema no nível médio.
É preciso continuar a trabalhar e a formar formadores no sentido de irmos paulatinamente melhorando os índices de integração destes jovens no sistema de ensino.
Por outro lado, as questões relativas ao primeiro emprego, que passam necessariamente pela criação de condições para albergar os jovens que são formados. Hoje, infelizmente, a realidade diz-nos que o nosso desenvolvimento económico não é de por si capaz de integrar todos os jovens que nós formamos.
E isso é, sem dúvidas, uma preocupação. Daí que temos de encontrar alternativas. Vamos encontrar alternativas com os próprios jovens.
Estamos a falar do empreendedorismo, do auto-emprego, para que eles próprios possam começar a criar condições para a melhoria da qualidade de vida que têm. É tudo um processo, não podemos pensar que nem aqui nem nos Estados Unidos o Estado tem capacidade de albergar tudo e todos.
Não fosse assim, os países desenvolvidos não teriam desempregados e pobres. Portanto, nós estamos numa situação mais difícil, porque o nosso desenvolvimento industrial, por exemplo, não é capaz de empregar o número de quadro que nós formamos. Temos um problema de base, que é o crescimento demográfico.
Enquanto o crescimento demográfico é 3.5 ano, o crescimento económico varia entre 1.5 e 2. Logo, o problema continuará se não fizermos de facto, a médio prazo, um desenvolvimento industrial significativo.
Como sabe, a própria agricultura já não alberga os números que albergava noutras décadas. Está cada vez mais baseada na tecnologia.
Quando falamos de tecnologia, robótica e outras coisas, falamos de redução de capacidade de empregabilidade. Então, temos que ter isso em consideração.
Quem vê o Plano Estratégico de Desenvolvimento Integral da Juventude nota, claramente, que os números apontam para um maior desemprego nas cidades do que no campo. Há uma estratégia para reverter isso?
Há um sem número de programas. Sabe que os problemas da juventude são transversais à governação. Portanto, todos os departamentos ministeiais acabam por ter uma fatia vocacionada para a solução dos problemas da juventude.
O que estamos a fazer agora e pretendemos fazer ainda é consolidar mais, no âmbito do PEDIJ, é consolidar o controlo de tudo quanto se faz em prol da juventude.
O ministério, enquanto órgão reitor, precisa de ter aqui toda a informação de cada um dos departamentos ministeriais e a própria área privada de desenvolvimento económico para sabermos de facto onde estamos e queremos ir.
É recorrente, porque os seus antecessores também o fizeram, a entrega de kits para os jovens. Quais são os resultados exactos destas acções?
O que temos recolhido das organizações juvenis é que há resultados positivos. Só que, como compreenderá, hoje fazemos um curso de formação profissional ou uma preparação básica de 100 jovens, a quem são atribuídos kits, se deste leque de 100 apenas 10 conseguirem se impor e crescer, então é muito bom.
Nem todos têm esta vocação. Isso é como tudo. Todos nós andamos, mas nem todos somos recordistas de 100 metros.
O mecanismo tem conseguido apurar quantos se têm imposto depois destes apoios?
Naturalmente, porque estes programas são orientados. Os jovens que recebem formação – e que por via disso lhes são atribuídos alguns kits – depois sabemos no retorno que eles são aqueles que se desenvolveram e os que ficaram no caminho.
Os números têm sido satisfatórios para o ministério?
Não, até por uma questão de base, porque grande parte deles não tem sequer esse preparo. Ou seja, estes jovens foram preparados para receber, não foram preparados para fazer. Então, esse mecanismo tem que ser alterado.
É por isso que estamos a trabalhar com as associações no sentido de perceber mais e melhor qual será de facto o rumo a seguir para dar esta auto-sustentabilidade a esse conjunto de jovens. Infelizmente, nem todos nós podemos ser empresários.
Eu não tenho ‘feeling’ para ser empresário. Se você me der uma empresa hoje, ela amanhã vai falir, porque, se vir alguém sem uma camisa, vou lhe dar a que estou a produzir. Então, nem todos nós temos ‘feeling’ para determinadas coisas.
Só que face às dificuldades da vida, todos nós queremos ser. Mas depois há triagem, porque estamos numa sociedade cada vez mais competitiva.
Costumo a dar este exemplo: no meu tempo de jovem, nós, com a 12.ª, classe tínhamos emprego garantido. O curso médio. Passados uns anos, já era necessário a licenciatura.
Grande parte de nós licenciou-se, mas a pirâmide foi crescendo. Depois já o mestrado. Hoje, no mínimo, se você quer acesso a emprego no privado, por exemplo, tem que ter esta maisvalia. Hoje, já só a licenciatura não é suficiente.
O sector privado exige muito mais. E daqui a dias estamos no doutoramento. Mas isso tudo porque a oferta é diminuta.
Se a oferta fosse maior, você não tinha este sufoco. Ora, a sociedade torna-se mais competitiva quando a oferta é menor.
Olhando para o plano, chama atenção os créditos bonificados, mas para se chegar a ele é preciso saber se estes jovens que vão receber estão conscientes de que o sector privado é a solução?
Estamos a prepará-los neste sentido. Aliás, em todas as conversas que temos, é preciso perceber que o Estado não pode engordar mais.
O Estado não tem capacidade para responder aos custos do emprego sozinho. Não é possível. O sector privado tem aqui um papel fundamental a desempenhar, mas o próprio sector privado também precisa de apoio para crescer. Então, é aquilo que nós dizemos: temos que estar de mãos dadas para podermos crescer todos.
Mas o senhor ministro concordará que muitos jovens hoje ainda acham que têm uma maior segurança no Estado do que no privado?
Muitos não pensam assim. Alguns pensam que é a solução para o momento. Tanto que um jovem biólogo, por exemplo, aceita um emprego numa área de administração, porque na sua área de especialidade não há emprego. Então ele vai seguir numa outra área. Vai basear-se naquela que é a sua formação académica e nada mais.
Sobretudo na docência?
Nós hoje não temos condições para dizer que este jovem está no sector público por amor à camisola. Não. Muitos deles têm outra visão, perspectiva e interesses, mas têm que se agarrar naquilo que surgiu no momento. Assim como muitos são professores sem vocação nenhuma.
Assim como muitos que fizeram cursos para os quais não têm o mínimo de vocação. Fizeram apenas porque foi a alternativa que surgiu ou a possibilidade, e se licenciaram naquele sector. Mas ele próprio não tem motivação para o exercício daquela profissão.
É o ministro que vela pela solução dos problemas que os jovens enfrentam neste momento. Quando se reúne com os jovens, seja a título particular ou através das associações, recebe estas queixas ou lamentações?
Naturalmente. Isso é fácil, até nas nossas casas ouvimos isso. Os nossos próprios filhos, às vezes, licenciam-se em áreas em que ou não têm vocação ou não têm interesse nenhum. É nas nossas famílias. Na minha, na tua… Essa é a realidade que nós vivemos. Sabe que até.
Tem acompanhado certamente o que se passa a nível da diáspora angolana, isto é, do jovem que sai de Angola para Portugal, mas também temos aqui os que saem das zonas rurais para as grandes cidades em busca de soluções e apontando o dedo ao Executivo. É um grande problema?
Quem está em funções no Estado tem que estar preparado para isso. Todos os dias, o desafio cresce. E temos que todos os dias ir encontrando soluções para minimizar os problemas. Agora, ninguém aqui tem uma varinha mágica.
Nós temos que ir encontrando soluções mediante o crescimento que o próprio país tenha. E aqui e ali ir encontrando soluções, algumas delas até imediatistas, sem grande solidez para o futuro, mas que no momento responde aquela necessidade concreta.
Por isso, temos que ser criativos, estar todos de mãos unidas e ir conversando, encontrando soluções aqui e ali.
O emprego é apenas uma das questões fulcrais, mas há outros itens: saúde, educação, a cidadania e até o ambiente. Hoje, quais são as prioridades do senhor ministro?
Já lhe apontei aqui. Digamos que o quadro que encontramos é desafiador. Temos que dar o máximo de nós próprios em cada um destes sectores para ir encontrando soluções.
A avaliação vamos fazer lá à frente, agora temos que ir criando condições para enquadrar socialmente estes jovens.
Falou aqui da saúde concreta dos jovens, o que tem a ver com a saúde reprodutiva e a sua própria saúde. Ora, estamos a criar mecanismos no quadro da saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, para que os jovens tenham salas próprias de atendimento, porque têm problemas específicos.
Isto já está enquadrado, já há hospitais onde há salas próprias para atender estes jovens. Então, paulatinamente, nós vamos criando estas condições.
Claro que não há uma varinha mágica que amanhã acordamos e está tudo resolvido. O Estado não pode continuar a ser o principal produtor da habitação.
Pode explicar melhor?
O próprio privado tem que sair dos grandes condomínios para a área social, para poder oferecer aos jovens alternativas.
O sector privado empenhou-se muito em fazer condomínios, mas só que são condomínios entre aspas, porque a maior parte não é. Mas são considerados de luxo. Isso não responde à demanda da juventude, porque o jovem não tem condições para ir lá comprar casa.
Portanto, o próprio sector privado tem que virar também para a criação de habitabilidade social, no sentido de com estes arranjos que nós vamos fazendo, subsidiando o privado, ajudando o jovem no crédito, para que, em conjunto, encontremos as veredas necessárias para se ir minimizando estas necessidades.
Por outro lado, a própria autoconstrução. Se hoje for ao Bengo, já há áreas vocacionadas. Aqui na periferia de Luanda há áreas vocacionadas, é preciso também os próprios jovens aproveitarem as oportunidades que vão surgindo.
Lançou-se um projecto na zona sul de Luanda, creio que no município de Belas, orçado em cerca de três milhões. Para um jovem que ganha pouco ou não tenha um emprego… Mas um jovem que não tem emprego não pode pensar ter uma T4.
Para um jovem que começou a trabalhar há pouco tempo é um grande quebra-cabeça?
Nós todos passamos por isso. Hoje vamos ter uma T2 ou uma T1. O problema é que se o seu amigo tem uma T4, você também quer ter uma T4. Mas esqueces que o teu nível de vida não é igual ao dele. Enquanto você ganha 100, ele ganha 600.
Então, você tem que se habituar a viver de acordo com as suas condições objectivas, porque o crédito não resolve tudo.
O crédito vai resolver no limite da sua capacidade. A capacidade é você poder ressarcir o crédito que está a receber. Lembrando que 2027 é daqui a pouco, quem olha para o PEDIJ menciona 10 mil fogos habitacionais sociais… Sim, muitos deles até já estão em construção. E 18 mil terrenos para a autoconstrução.
Ouvimos há dias situações de problemas de terreno no Huambo e, em Luanda, no Zango, por exemplo, quase todos os dias surgem diferendos por conta destes espaços. Já há garantias para estes espaços mencionados? Os espaços continuam a ser cedidos.
Vocês só gostam de ir buscar o lado negativo, vamos para o lado positivo: já viu que no Namibe há ‘N’ espaços que não estão a ser ocupados? Já viu? E outras províncias têm espaços.
Nós estivemos há dias no Uíge, onde se está a criar uma área significativa para a juventude, e num bom espaço felizmente. Tem hospitais, escolas e tudo aí.
Agora é preciso criar condições para que no regime de autoconstrução eles próprios desenvolverem os seus projectos, sendo que nalgumas áreas até já há projectos de base.
Ele não tem que gastar dinheiro com projectos, porque a própria administração até já o desenvolveu. Ele só tem que o construir e nada mais. Há muitas coisas positivas também, não é tudo negativo.
Entre haver o espírito de sacrifício, dizer que tenho de me levantar de manhã, fazer o que fazer o que for possível para depois de amanhã comprar mais 100 blocos ou tijolo para a minha casa, do que estar a dormir o dia inteiro, há uma diferença substancial.
Há muita gente a dormir o dia inteiro? Há muita gente que não faz nada para resolver os seus problemas. Essa é a realidade.
Os jovens têm acesso a estas informações todas que o Ministério da Juventude e Desporto possui? Têm.
Como é que elas são canalizadas para os jovens?
Nós temos os mecanismos de informação. Hoje até está mais facilitado, porque temos outros canais de informação. Mas, as próprias associações são veículos de comunicação.
Qualquer projecto que nós desenvolvamos, quer ao nível central quer ao nível local, as associações são envolvidas.
E elas sabem e trabalham com os seus associados. Só que também há muitas associações que têm poucos associados.
Há dias vi aqui uma associação cujo objecto é ensinar os jovens a atravessar a rua nas passadeiras…Cada um que faça o juízo que quiser.
Qual é o papel do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) na relação com o Ministério da Juventude e Desportos?
É uma relação profícua e diária. Agora, o CNJ tem o seu papel. Nós temos é que entender o CNJ como uma organização representativa das associações.
O CNJ em si mesmo não é uma organização, é uma associação representativa do conjunto de associações que nela se inscrevem.
Então, é neste papel que ela desempenha a sua acção. Quando queremos organizar qualquer coisa, veiculamos por via do Instituto Nacional da Juventude (INJ), do CNJ e sempre que possível da relação directa com as próprias associações.
Qual é o papel do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) na relação com o Ministério da Juventude e Desportos?
É uma relação profícua e diária. Agora, o CNJ tem o seu papel. Nós temos é que entender o CNJ como uma organização representativa das associações.
O CNJ em si mesmo não é uma organização, é uma associação representativa do conjunto de associações que nela se inscrevem.
Então, é neste papel que ela desempenha a sua acção. Quando queremos organizar qualquer coisa, veiculamos por via do Instituto Nacional da Juventude (INJ), do CNJ e sempre que possível da relação directa com as próprias associações.
‘Quantos países africanos construíram este número de escolas neste mesmo tempo? Nenhum’
Há mais bem ou mal geridas?
Há menos mal geridas, mas gostaríamos que fossem bem melhores.
O que o senhor ministro pensa quando vê, por exemplo, as casas da juventude que foram criados com um determinado propósito, mas o que se observa não é o que se esperava?
Por isso é que estamos a corrigir e a ir às casas da juventude. Neste momento, estamos num processo de reorganização da Casa da Juventude de Viana, porque se vilipendiou o objecto por que foi criada. Então temos que repor as coisas no seu lugar e meter gente que tenha sensibilidade para o problema.
E que ajude de facto por via da Casa da Juventude que tem condições para fazer coisas boas, mas é preciso que as pessoas que lá estejam sejam sérias.
Quem fala de Viana pode falar também do Kilamba Kiaxi?
Sim. E dos vários centros. Há outros que estão a funcionar bem. Há uns que chegaram a meio e também ainda não estão concluídos.
Estamos a trabalhar com os governos provinciais para concluir as casas da juventude que chegaram a meio. Há casas da juventude muito boas.
Felizmente, algumas serão inauguradas agora, particularmente a do Uíge, que é uma excelente casa da juventude. E estamos a trabalhar noutros projectos.
Neste momento, estamos empenhados em concluir o parque de campismo em Benguela, por exemplo. É uma área espectacular para os jovens poderem desenvolver ‘N’ coisas.
Hoje, os jovens criticam muito mais o Executivo e exigem mais. Como é que estão em termos de cidadania, um dos campos em que o ministério se foca no PEDIJ?
Essa análise não pode ser dirigida aos jovens. É muito mais profundo que isso. Temos que o dirigir às famílias.
E nós, face às dificuldades da própria vida, mas, pelo crescimento que temos, as famílias, muitas delas, estão desestruturadas. Esses jovens crescem sem princípios e sem valores, não têm referências. Então é um problema muito mais profundo e mais sério do que apenas apontar o dedo a estes jovens.
Quanto melhor for a qualidade de vida das famílias, mais elas se estruturam e melhores cidadãos vamos ter no futuro. Temos que ter esta consciência.
A própria situação social levou a que ‘N’ jovens fossem para a rua muito antes de terem qualquer preparação para encarar as dificuldades da vida. E estão aí.
A situação tende a piorar pelo que se vê?
Eu não acredito que seja assim. Acredito que o esforço que todos nós estamos a fazer vai minimizar aqui e ali alguns efeitos. Naturalmente, os problemas não vão acabar.
Recuando ao discurso de Setembro deste ano, durante a auscultação, o senhor ministro diz que o PEDIJ ‘está acima de qualquer documento político’. Há uma politização da juventude ou dos seus problemas?
Qualquer sociedade politiza os seus jovens. Depende é do que nós entendemos ser politizar. Hoje até o acto de educar é um acto político.
Portanto, a percepção que nos temos que ter com os fenómenos sociais é mais abrangente do que esta particularização das coisas.
Estava a lhe dizer que você pode fazer um esforço muito grande, mas se a família for desestruturada, se esse jovem não souber que a hora da refeição tem que se sentar à mesa com o pai e a mãe, o futuro está comprometido.
Se não tiver princípio, nem valores, o acumulo disso na sociedade são os actos que vemos por aí. Temos que ter esta perspectiva, não podemos esmorecer.
Acordo todos os dias e tento motivar a minha equipa para todos os dias olharmos de frente para as dificuldades e encontrar soluções.
Todos os dias temos que criar e fazer alguma coisa a bem desta juventude. Felizmente, nós temos uma âncora espectacular para o fazer: o próprio desporto. Hoje, não fosse o desporto, estaríamos numa situação mais grave.
Já chegaremos ao desporto. Como estão os nossos jovens a nível da educação?
Vou-lhe dar um exemplo: quantas escolas foram construídas nos últimos seis anos no âmbito do Programa Integrado de Intervenção aos Municípios (PIIM)? Estamos a falar de cerca de seis mil escolas. Continuamos a falar de cerca de um milhão de jovens fora do sistema de ensino.
Mas, ponho-lhe a questão de outra forma: quantos países africanos construíram este número de escolas neste mesmo tempo? Nenhum. Então, nós temos que ser realistas.
Estamos a fazer muito, no limite daquilo que o próprio Orçamento Geral do Estado permite, mas as dificuldades que o país tem hoje são imensas.
Estamos a fazer um grande esforço para aumentar a produção nacional, no sentido de reduzir a importação e com isso criar mais-valia. Mas isso é um processo. Isso não se resolve em 24 horas.
Perguntei há pouco sobre a empregabilidade nos centros urbanos e rurais. A questão da educação vem também com as vocações. O ministério tem orientado os jovens para áreas onde realmente se precisam quadros hoje?
Constroem-se PUNIV, por exemplo, e do outro lado há descontinuidade. Não é uma grande preocupação? Estamos a trabalhar em conjunto. Não é um problema do Ministério da Juventude e Desportos. É um problema do Executivo, abrange várias pastas.
Mas são os jovens…
Como eu disse aqui, são problemas transversais e tratados por diversos departamentos do Executivo. Então, temos é que trabalhar com estes departamentos – e estamos a fazê-lo – no sentido de que as políticas sejam convergentes.
Que as políticas de Estado derivem daquelas que estão aprovadas em Conselho de Ministros e que não haja tiro no escuro. Portanto, é essa nossa preocupação.
É concatenar todas as políticas que estão aprovadas nos diferentes sectores e fazê-las convergir com um projecto único.
O país não tem interesses particulares com a juventude no campo da empregabilidade?
Tem, como qualquer Estado. Quem vai assegurar o futuro do país são estes jovens. Agora, haverá jovens bons e menos bons.
Numa família não há só filhos bons, há sempre uma ovelha negra. Temos que ter esta flexibilidade e perceber que nem todos nós vamos ser doutores ou empresários, nem todos nós vamos ser ricos. As sociedades vivem assim.
O mais importante é que cada família tenha o mínimo para viver estruturada, tranquila, integrar princípios e valores que façam a Nação crescer. O resto é conversa.
Como se pode convencer os jovens a regressarem ao campo, porque muitos vêm para a grande cidade, como Luanda, por exemplo, mas vimo-los sem ocupações?
Já há alguns a irem. E, felizmente, já há bons projectos agrícolas dirigidos por jovens graças a Deus. Isso talvez seja um elemento motivador.
Sabe que o jovem que vem para a cidade e que fica na rua a vender chiclete, acessórios electrónicos, não tem mais perspectiva de ir segurar a enxada para ir ao campo.
Ora, o próprio campo tem que ser atraente. Não somos nós, digamos o Ministério da Juventude e Desporto, que vai executar isso.
Tem outros actores que vão executar. Mas há outros vectores que têm que ser integrados, no sentido de corresponder a esse anseio que todos nós temos.
Como lhe disse, também hoje há outras nuances que têm que ser integradas nesta avaliação, o próprio desenvolvimento tecnológico.
Vendo a educação, saúde e empregabilidade, hoje os nossos jovens tendem a delinquir mais ou menos?
Não posso fazer essa avaliação, delinquente há em todo o lado. O que é relevante é que o número de gente boa, que quer fazer coisas pela positiva, é de longe superior ao número de delinquentes. Agora, os delinquentes têm que ser tratados como delinquentes. Aqui como em todo o lado.
Em termos gerais no desporto, parece que está tudo bem?
Não esta nada bem… Era bom que estivesse tudo bem. Estávamos todos aqui a jogar andebol, mas essa não é a realidade.
Por isso é que existe um Plano Nacional de Desenvolvimento do Desporto. Para que o desporto tenha um resultado positivo a nível da alta competição, a nível do rendimento, é preciso que a base esteja consolidada, seja reprodutora.
É preciso nos escalões mais jovens alargarmos o número de praticantes, porque é dessa quantidade que vai aparecer a qualidade que vai sustentar o desporto de alto rendimento. Como sabe, a pirâmide é assim mesmo.
Vimos há dias o ministro wwno Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL)…
Sim, estamos a trabalhar no quadro do Planadesporto com os vários vectores. Há muito pouca gente que tem a percepção do quanto se faz de desporto na periferia de Luanda, porque as pessoas não vão para o interior dos bairros. Os que estão aqui na cidade não vão para o interior dos bairros.
Há 10 meses à frente do ministério, qual é a percepção que tem do desporto que se faz nos bairros?
Olhe, estou muito agradado. E vejo cada vez mais as pessoas entusiasmadas a querer fazer mais desporto, mobilizar mais crianças e fazer coisas no domínio do desporto que são salutares.
E aqui estamos a preparar-nos para constituirmo-nos em estímulos maior ainda para que esta base cresça de forma organizada. Hoje, é preciso perceber que não temos só futebol nos bairros.
Mas, para fazer futebol, tendo em perspectiva a melhoria da qualidade, nós também temos que trabalhar em infra-estruturas que correspondam à demanda. Em parceria com a Fundação BAI, fez-se o IMEL, estamos ainda a dar algum equipamento para melhorar o que foi feito.
Hoje, o Vila Clotilde não é o que era e está aí um bom exemplo do que pode ser um clube comunitário, com a pretensão até de jogar no desporto de competição.
Estamos a trabalhar noutras infra-estruturas, como por exemplo nas Formiguinhas do Cazenga. Neste momento, temos um grupo na Huíla a fazer outro levantamento e a procura também de parcerias para resolvermos um problema concreto no Bairro do Tchioco.
Portanto, são estas vontades que temos que ir mobilizando para fazer com que os jovens tenham melhores condições cada vez para a prática do desporto.
Hoje, o desporto é também um escape. Já lá vai o tempo em que nós jogávamos por amor à camisola. Hoje o desporto de competição é emprego.
Por isso disse há dias que as pessoas não têm noção dos níveis de empregabilidade que o próprio desporto oferece. Não é só o atleta, porque você tem lá o monitor, o treinador, fisioterapeuta e uma panóplia de pessoas que constituem este grupo de trabalho que estão empregadas.
Há dias fomos assistir a uma final no interior de Viana e vim de lá satisfeito. Primeiro, pelo nível de organização. Até a título de brincadeira – e com alguma seriedade metida no meio – VAR tinham. Prémio de jogo três milhões e meio de kwanzas.
É para ver que na comunidade as coisas funcionam. E não estão sempre a gritar ‘ó pai, ó pai, ó pai’. Encontram soluções.
Os miúdos bem equipados. Falta ainda algum material desportivo? Falta. É aí que o Estado deve entrar como complemento para aumentar os índices de motivação. Se a iniciativa está lá, as pessoas estão a fazer e querem, então o Estado tem que surgir como estímulo.
Na década de 80, o desporto escolar era um facto. O que mudou para que não haja uma verdadeira competição nesta fase em que não grandes torneios entre as escolas, tanto a nível de base ou médio?
É o que lhe estava a dizer: é uma questão de organização. Quando nós na década de 80 e metade ainda da década de 90 dirigíamos o desporto escolar, nós partíamos de uma premissa, que era respeitar toda a cadeia de progressão necessária. Então, havia primeiro os jogos inter-turmas, depois o inter-escolas.
Desse inter-escolas faziam-se as selecções que iam jogar nos municípios, depois as selecções provinciais que vinham às finais das várias modalidades.
Mas havia um calendário a que os professores de educação física estavam obrigados. Como lhe disse, a infra-estrutura escolar cresceu exponencialmente.
Você em Luanda deve ter 20 vezes mais escolas do que tínhamos em 80. Portanto, é um processo mais difícil de organizar. Em contrapartida, muitas das infra-estruturas desportivas que havia nas escolas pudéssemos de lado e deixamos que elas se degradassem, a ponto de não poderem ser usadas.
E algumas acabaram também ocupadas ou não, senhor ministro?
Algumas entraram nos processos de negociação para sobrevivência de alguns. Há dias estivemos perante uma situação caricata: um pavilhão que está dividido porque de um lado do campo se faz festas. É esse espírito que tem que acabar.
E isso é da responsabilidade de quem? Não é do ministério. É das administrações municipais lá onde as infra-estruturas foram feitas.
Esses administradores também têm que ser responsabilizados. Você não pode segurar num pavilhão que está vocacionado para a alta competição e fazer naquilo um alojamento de deslocados. Isso não se faz em nenhuma parte do mundo.
Nós queremos sempre ser sui generis pela negativa. Isso causa transtornos ao desenvolvimento. Agora mesmo, o que está a acontecer em Espanha, veja onde é que estão a colocar as pessoas? Em escolas. Ninguém está a ir pôr gente em pavilhões, no autódromo ou no estádio de futebol. É a nossa maneira de estar que muitas vezes dificulta o desenvolvimento.
Nós enquanto responsáveis e dirigentes que adoptámos medidas erradas. E muitas vezes conscientemente, sabendo que estamos a errar.
Então, estas pessoas têm que começar a ser responsabilizadas pelos seus actos e não estarmos a chorar sobre o leite derramado. Não pode ser…
Falando em infra-estruturas: a Cidadela hoje é um activo ou um passivo?
É um activo ainda, graças a Deus. Não fosse a Cidadela, estávamos com a corda no pescoço.
Já lá esteve enquanto ministro?
Onde?
Na Cidadela? Risos… Essa pergunta é desnecessária, desculpe lá. A Cidadela é quase a nossa casa.
E aquelas empresas?
Isso já está tudo a ser tratado. Hoje vai à Cidadela e não vai encontrar aquilo que encontrava há dois meses. Porque constituímos comissões de gestão não só para a Cidadela, como para todas as infra-estruturas da responsabilidade do ministério.
Foi o passe intermédio que encontramos para pôr ordem em algumas situações. E estamos a resolver com um princípio básico: as infra-estruturas do desporto devem servir exclusivamente o desporto.
Vai ou não ser cedida ao Petro de Luanda?
Vai. Estamos a negociar com a Sonangol. Naturalmente, creio que está claro que visa apoiar em termos de infra-estruturas o Petro Atlético de Luanda.
É um processo que está em curso, nós estamos a tratar, porque, como sabe, não basta só entregar a Cidadela. Há uma série de questões que têm de ser salvaguardadas, desde logo aquilo que diz respeito ao desporto.
É preciso que a Cidadela Desportiva, independentemente de ter uma gestão, porque ela vai ser requalificada, o próprio estádio, os pavilhões.
O primeiro pressuposto, independentemente disso, é que a Cidadela tem que continuar a servir o desporto nacional.
Depois resolvermos o problema daqueles que são os inquilinos legais e legítimos que estão na Cidadela. Estou-me referir aos comités olímpicos e às federações nacionais.
Não basta dizer que se entregou, estas entidades têm que ser acolhidas nalgum espaço. E para isso, essas condições têm que ser criadas a montante.
Felizmente, o Comité Olímpico está agora a terminar a futura sede. Faltam meia dúzia de dias para a obra estar concluída. Mas depois temos o Comité Paralímpico Angola, temos cerca de 24 federações que funcionam na Cidadela Desportiva.
Para essas todas, nós temos que arranjar acomodação. E para isso, temos que negociar com quem vamos fazer o acordo de cedência de exploração da Cidadela. Portanto, este trabalho está em curso.
Como está o INEF?
O INEF é uma infra-estrutura do Ministério da Educação. Dentro de poucos dias, eu e a minha colega ministra da Educação vamos visitar as infra-estruturas do actual INEF e vamos equacionar o problema que temos ali.
Hoje não é só o INEF, estamos preocupados também com instituições do ensino superior que têm o curso de Motricidade Humana ou de Educação Física.
Também estamos a fazer um plano para ver como é o currículo destas instituições. Estou muito céptico em relação a instituições de ensino superior que dão curso de educação física que não têm infra-estrutura desportiva.
Sabe que o Planadesporto encontrou uma resposta. Elas têm três anos para encontrar infra-estruturas próprias.
Caso contrário?
Serão encerradas. É o caminho a seguir. Você não pode formar médicos sem laboratório de biologia, anatomia ou de fisiologia.
Não é possível formar um médico assim, tal como não é possível professor de educação física quando ele não conhece sequer um espaldar, não tem um cavalo com arções.
Ele não sabe sequer que estes aparelhos existem. Então, o básico tem que existir. Como é que você quer ser um professor de educação física se uma das cadeiras básicas é a ginástica e não tens um pavilhão, um ginásio onde você tem o equipamento todo de ginástica.
Onde pode aprender o gesto técnico da ginástica, para poder transmitir aos seus alunos. Temos que ser sérios. Você não pode ter um treinador hoje que não tenha noção de fisiologia de esforço, que não tenha a percepção dos limites de carga física.
E isso se estuda. É a fisiologia e a anatomia que dão estes dados. Se não formos coerentes, não estaremos a formar quadros de qualidade de certeza.
Quando andávamos no liceu, os nossos pais diziam que vosso quinto ano de hoje, a nossa quarta classe era melhor.
Hoje se diz que aqueles que eram quadros médios no INEF foram melhor do que quadros que estão a ser formados na universidade. Mas isso é cíclico, também são as guerras das gerações. Não podemos aceitar que isso seja real, temos que ser coerentes nas decisões que tomamos.
O Centro Alto Rendimento em construção no Bengo será para servir só aquela zona?
Não. Primeiro, o Centro de Alto Rendimento do Bengo é um centro vocacionado para o desporto paralímpico. Ponto final.
Para isso, estão a ser criadas infra-estruturas com todos os acessos e condições para os nossos atletas paralímpicos. Entretanto, dado ao nível de desenvolvimento do desporto paralímpico, nós consideramos ser possível haver aqui uma abertura para que o outro comité, por via das suas federações nacionais, possa usar aquele espaço.
O internato que lá está tem capacidade para cerca de 300 camas. Portanto, podemos pôr lá o desporto paralímpico sem dificuldade nenhuma, mas pôr também outras selecções nacionais a usufruir daquele espaço.
Ele vai ter as quadras polidesportivas, piscina, campo de futebol, uma área de ténis. É polivalente e pode albergar aí as diversas nuances do desporto sem dificuldades.