Fundado em 1982, o Clube Desportivo Maculusso, localizado na Avenida Comandante Che Guevara, na capital do país, vive, nos últimos anos, situações adversas em termos financeiros, razão pela qual clama por apoios. Em entrevista a este jornal, o vice-presidente daquela agremiação, Januário dos Santos, mostrou-se insatisfeito com o facto de o seu elenco se sentir impossibilitado de dar melhores condições de trabalho às jogadoras, assim como à equipa técnica
O Desportivo Maculusso, que vai celebrar no dia 12 de Agosto do corrente ano o seu quadragésimo primeiro aniversário, teve um papel digno de realce na afirmação da Selecção Nacional sénior feminina de basquetebol no continente berço, assim como a nível mundial.
De acordo com o vice-presidente, Januário dos Santos, o Maculusso, que movimenta as modalidades de andebol e basquetebol (ambas em femininos), produziu atletas como Teresa Gonçalves, Catarina Camufal, Felizarda Jorge (ex-Interclube) e Nacissela Maurício (ex-1º de Agosto) que, actualmente, desempenha as funções de vice-presidente da Federação Angolana de Basquetebol (FAB).
As atletas citadas contribuíram para que o combinado nacional conquistasse os Afrobasket’s de 2011, disputado na cidade de Bamako, no Mali, assim como, em 2013, em Maputo (Moçambique).
Adicionalmente, a qualidade daquelas atletas permitiu que a selecção angolana tivesse terminado na décima segunda posição nos Jogos Olímpicos de Verão de Londres, em 2012.
Por outro lado, o Maculusso não ficou apenas pelo basquetebol.
No andebol, passaram atletas como Natália Bernardo, Marcelina Kiala e Luísa Kiala que levaram o nome do andebol nacional ao mais alto nível.
Prova disso, contribuíram mesmo para que Angola vencesse os Africanos de 2006, 2008, 2010, 2012 e 2016.
O dirigente fez questão de assinalar que o clube movimenta no andebol os escalões de iniciados, juvenis e juniores.
No basquetebol, reforçou, o Desportivo do Maculusso reúne quatro escalões, nomeadamente iniciados, cadetes, juniores e seniores.
Referiu que a sua direcção não cobra nenhuma taxa de ingresso no clube.
Mas não está em equação o aumento de modalidades, uma vez que a situação financeira do clube inspira imensos cuidados. Instado a revelar os critérios de ingresso no clube, o braço direito de José Paim referiu-se nos seguintes termos: “Quem pretende ingressar no Maculusso terá de apenas fazer-se acompanhar do bilhete de identidade ou cédula.
Não cobramos valores monetários”, garantiu Januário dos Santos, tendo acrescentado:
“É melhor que o atleta comece a aprender o ABC do basquetebol ou andebol aos oito anos, visto que é neste período que se consegue verificar se esta ou aquela criança pode vir a revelar-se uma boa atleta”, sinalizou.
Vice-presidente do Maculusso, Januário dos Santos
“Estado actual do basquetebol é deprimente”
Oresponsável não tem dúvidas de que a situação actual do basquetebol feminino é deprimente.
Januário dos Santos acredita que o trabalho que se fazia no consulado do ex-presidente José Eduardo dos Santos, nos escalões de formação, era «muito melhor» em relação ao que se tem feito actualmente.
O dirigente disse, sem «papas na língua», que, naquele período, o executivo estendia o seu apoio ao desporto, nomeadamente na construção de estádios, bem como pavilhões.
“Naquele período, José Eduardo dos Santos olhava para o desporto como um símbolo nacional”, começou por dizer.
Agora, considerou, o desporto, em particular o basquetebol feminino, foi entregue à sua sorte.
Salientou que o Presidente da República, João Lourenço, pouco tem feito para mudar o quadro actual do desporto., por isso acredita que não seja um homem do desporto.
“O nosso basquetebol está pobre.
Antigamente, os treinadores trabalhavam por amor. Precisamos de mudar o quadro. O nosso governo não gosta de desporto”, rematou.
“O Maculusso vive tremendas dificuldades”
O dirigente disse que o seu “staff” debate-se com demasiadas contrariedades para manter vivo o projecto, na medida em que dispõe apenas de um patrocinador.
Trata-se da Sistec Soluções.
Januário dos Santos fez questão de sublinhar que a empresa angolana de Sistemas, Tecnologias e Indústrias tem endereçado, anualmente, uma «fatia» para a equipa destinada às despesas no Campeonato Nacional sénior feminino de basquetebol, vulgo “Liga Azule”.
Para além disso, salientou que a entidade empresarial tem apoiado o clube com material desportivo.
Mas alertou que os apoios são insuficientes face às dificuldades que o clube tem vindo a enfrentar nos últimos anos.
Sem filtros, Januário dos Santos assinalou mesmo que os treinadores e atletas têm recebido baixos salários, tendo acrescentado que tal situação tem deixado o seu elenco com uma pulga atrás da orelha.
O responsável diz ter solicitado imensas vezes apoios junto de entidades públicas e privadas no sentido de dar a «volta ao texto», mas sem sucesso.
“Não ficarei tranquilo enquanto me sentir impossibilitado de dar melhores salários, para além de condições de trabalho às jogadoras, assim como à equipa técnica”, disse Januário dos Santos.
Adicionalmente, assegurou que o clube não tem desembolsado sequer um cêntimo para disputar partidas fora de casa, quer no basquetebol como no andebol.
O dirigente revelou que as formações do 1º de Agosto e Interclube têm cedido os seus pavilhões ao Desportivo do Maculusso para realizar os jogos a título gratuito, visto que não dispõe de condições para pagar o aluguel que ronda cerca de 200.000.00 (duzentos mil kwanzas).
“Os preços são elevadíssimos e não temos condições para pagar um aluguel”, asseverou. Após ter feito questão de prestar aquelas declarações, o nosso entrevistado quase teria ficado com lágrimas nos olhos, chegando mesmo a tecer rasgados elogios à direcção de Carlos Hendrick e Alexandre Canelas, respectivamente.
O responsável aproveitou a ocasião para reconhecer que o clube entral das Forças Armadas Angolanas tem vindo a fazer um trabalho de grande nível nos escalões de formação, isto é, na classe feminina, a julgar pelo número de atletas que têm vindo a ser convocadas para os compromissos da Selecção Nacional.
Noutra vertente, lamentou o facto de o clube dispor somente de um «autocarro» para a realização de viagens.
Entretanto, salientou que o referido meio de transporte encontra-se entregue a uma empresa de manutenção de automóveis.
Disse que, neste momento, o seu elenco tem feito o aluguer de viaturas para que as equipas de basquetebol e andebol não percam os desafios por falta de comparência nas provas sob a égide das federações de basquetebol e andebol. “Vivemos grandes perturbações.
Já solicitamos patrocínios, mas sem respostas. Felizmente, temos feito os jogos fora de casa sem gastar um cêntimo. Inter e 1º de Agosto nos têm ajudado imenso. Ambas as direcções são bastante solidárias.
Mas, sem desvalorizar outras equipas, tenho mesmo de admitir que a direcção militar tem vindo a fazer um trabalho extraordinário”, disse Januário dos Santos. Salientou ainda que o recinto que possuem não reúne condições para a prática de ambas as modalidades, por falta de cobertura e o piso que não oferecer segurança às atletas. “Queremos um pavilhão com cobertura. Pelo menos piso de tartam. O piso actual não permite uma melhor mobilidade das atletas”, assentou.
Histórico
O maior registo do Desportivo Maculusso, liderado por José Paim, terá sido em 2008, no Campeonato Africano de Basquetebol, que teve lugar, na cidade de Maputo, em Moçambique, ficando em quarto lugar.
O segundo feito foi alcançado em 2011, na décima sétima edição do Campeonato Africano dos Clubes Campeões de Basquetebol, disputado, na cidade de Lagoa, isto é, na Nigéria, que se disputou de 4 a 10 de Setembro.
Na prova, que contou com a participação das selecções do Interclube, FIRST Bank, FIRST Deppwater da Nigéria e Ports Authority do Quénia, o Clube Desportivo do Maculusso (GDM) terminou na quarta posição com apenas três pontos.
O emblema, na altura, sob o comando técnico de Januário dos Santos, disputou o certame nas vestes de finalista vencido da Taça de Angola, visto que o Interclube terá feito a «dobradinha» ao conquistar o Campeonato Nacional e a Taça de Angola.
A nível interno, o Maculusso terminou na terceira posição no Nacional da bola ao cesto referente à temporada passada que culminou com a consagração do Interclube.