Apesar do Complexo da Cidadela Desportiva, em Luanda, não estar concluído como se previa, o Estádio de futebol e o pavilhão anexo número um continuam a ser a galinha de ovos dourados do espaço que viu nomes do desporto angolano e africano desfilar em várias modalidades, ainda assim actos de comércio e outras tarefas são praticados no gigante adormecido
Depois da Independência de Angola, proclamada a 11 de Novembro de 1975, o Complexo da Cidadela, localizado no Rangel, em Luanda, entrou rapidamente na agenda das actividades do desporto nacional.
Assim, o palco construído em 1972 do século passado e consequentemente reinaugurado em 1981, em sede dos Jogos da África Central, debate-se actualmente com muitos problemas nas suas infraestruturas.
Apesar de não estar concluído como se pretendia, o Estádio Nacional de futebol com capacidade para 50 mil espectadores, o pavilhão número um para modalidades de sala, projectado para seis mil almas sentadas, continuam a ser galinha de ovos dourados do Complexo.
À sua volta, os espaços são arrendados aos particulares para exercerem actos de comércio, assim como serviços administrativos e empresariais de pessoas colectivas privadas.
Aliás, é ponto assente e pode-se vislumbrar que o pavilhão número dois continua a cumprir a sua missão, a realização de provas de sala, mas não tem os mesmos serviços que o número um.
Para além das três infraestruturas em apreço, o projecto do Complexo da Cidadela Desportiva, contaria também com uma piscina olímpica para dar resposta aos campeonatos nacionais e internacionais.
O tanque olímpico, pelas políticas públicas definidas, à época, pela então Secretária de Estado de Educação e Desporto daria uma outra dinâmica à natação, assim como apoiar o Instituto Normal de Educação Física (INEF) nas aulas práticas.
Mas, até ao momento, o projecto da piscina olímpica não saiu do papel, visto que no espaço previsto foram construídos dois edifícios modernos com mais de 15 andares, e, cuja fachada principal ressalta para a Avenida Hoji-Ya-Henda.
Nos últimos anos, uma outra infraestrutura pública que se juntou ao Complexo da Cidadela Desportiva é a Galeria dos Desportos, inaugurada em 2014 pelo vice-presidente Manuel Vicente.
No local ora inaugurdo estão todos os troféus que o desporto angolano conquistou antes e depois da Independência nas demais modalidades que o país movimenta há mais de quatro décadas.
Para além dos troféus, a infraestrutura moderna conta com escritórios, cinemateca, biblioteca e uma sala de conferências para acolher eventos desportivos nacionais e internacionais.
Espaços que dão dinheiro ao Complexo da Cidadela
À volta do Estádio da Cidadela pode-se observar os espaços arrendados, mais de 20, entre os quais escritórios, uns abertos e outros encerrados, oficinas, lojas de material de contrução civil, incluindo a igreja Ministério o Poder de Deus.
Apesar do palco onde desfilaram nomes do futebol angolano e africano estar inoperante, os serviços à sua volta continuam a gerar receitas para o Complexo Desportivo, segundo uma fonte do jornal OPAÍS no local.
Assim, a mesma fonte explicou ainda que os particulares com o interesse em praticar actos de comércio num dos espaços, normamente, celebram contrato com a direcção do Complexo.
“O arrendamento depende muito dos metros que o cliente quer para desenvolver a sua actividade administrativa ou comercial, por isso os preços variam, mas as federações e associações desportivas por ser de utilidade pública não pagam alguma coisa”, adiantou a mesma fonte.
Os valores arrecadados pelo Complexo são declarados na Conta Única do Tesouro (CUT), visto que os outros órgãos do Ministério da Juventude e Desportos tem a obrigação de acompanhar o processo.
No local, a reportagem do O PAÍS tentou ouvir alguns arrendatários do Estádio, mas esses, por sua vez, escusaram-se a tecer qualquer tipo de explicação em relação ao modelo de arrendamento dos espaços.
Acto contínuo, os funcionários da catedral do futebol angolano, devidamente uniformizados, também “fintaram” a equipa de reportagem, respondendo que não tinham autorização para falar alguma coisa sobre o funcionamento administrativo do Estádio.
Degradação na ordem do dia
A relva do Estádio da Cidadela está apta para a prática do futebol, visto que no momento da reportagem do jornal OPAIS a equipa sénior do Atlético Sport Aviação (ASA) estava a treinar em nome do Campeonato Provincial.
Mas, a bancada central e outras, nota-se que estão a corroer-se no tempo, pelo que não se sabe que resposta se vai dar à Catedral do futebol angolano nos próximos meses.
No segundo anel, para além do mau estado das casas de banho, em lguns pontos, as fissuras são notórias e escorre água com algas verdes de um lado para o outro sem precedentes.
No palcard, que seria para informações e detalhes nos jogos, próximo ou à distância, vislumbramse ferros a sustentarem o mesmo e já em estado avançado de oxidação.
Pela relva, os jogadores, antes ou depois de uma partida, estão impedidos de se dirigirem aos balneários, porque a água, não se sabe se da chuva ou salobra, tomou conta do mesmo.
Para o efeito, os atletas são obrigados a dar a volta, visto que não corre água nas torneiras e a luz eléctrica é intermitente.
Porém, para as torres o ensaio deve ser feito com antecedência para não comprometer nas actividades que ocorrem à noite.
O esforço da equipa de limpeza do Estádio é de louvar, mas fica sem feito pelo facto de o espaço ser enorme e apresentar problemas estruturais desde que se identificou o problema nos pilares de sustentação e nas placas de betão, impedindo o uso do segundo anel.
Ponto de relaxe dos jovens
Pela sua dimensão e o seu estado de degradação, a olho nú pode-se ver que fica difícil controlar o Estádio da Cidadela, visto que algumas portas estão encerradas e outras abertas.
Por isso, os jovens, na sua maioria desempregados e com idades que vão dos 19 aos 30 anos, aproveitam-se das “oportunidades” que o Estádio garante para relaxarem e fazerem das suas.
Assim, Manuel Luís, 26 anos, disse à reportagem deste jornal que prefere passar o dia na Cidadela do que andar em vão pela cidade, aliás, lá ainda consegue alguma coisa de um dirigente naqueles dias bons.
“Aqui na Cidadela o ar circula melhor e prefiro ficar aqui e no final do dia, se ganhei alguma coisa, regresso à minha casa, no Cazenga, mais satisfeito”, disse o jovem.
Num outro ponto, próximo do pavilhão número um, os jovens chamam de placa, por ser o ponto onde os dirigentes e outros responsáveis levam os carros para lavar nas horas mortas.
E, isso faz do João Pindale, lavador de carros, cujos rendimentos aplica nos seus estudos e a renda de casa que paga no Sambizanga onde vive com outros amigos há três anos.
O jovem, natural do Huambo, 30 anos, no final de cada ano tira sempre um tempo para ir à sua terra natal visitar os pais, sendo que leva sempre alguma coisa para os confortar.
João Pindale fez saber que também prefere estar na Cidadela, visto que todos já se conhecem e uma vez ou outra é que há um estranho a querer desvirtuar os hábitos da maioria.
Demolição ou não
Em 2006, depois de estudos feitos por especialistas em resistência dos materiais no ramo da engenharia civil, concluiu-se que as fissuras estavam a ganhar terreno na catedral do futebol.
Por isso, a discussão sobre a sua demolição ou não foi levada à Assembleia Nacional, visto que é um bem púbico e é na Casa das Leis onde o povo está representado pelos deputados. Em sede da discussão, concluiuse que não era necessário demolir o Estádio, mas, sim ficar pela manutenção, visto que serviria ainda para dar resposta às competições locais.
Pavilhão número um também rende
O Pavilhão número um, para modalidades de sala, incluindo a disputa do Campeonato Nacional sénior masculino de basquetebol, também conta com alguns serviços no que concerne a arrecadação de valores para o Complexo.
Para além de outros serviços públicos desportivos, à sua volta há também empresas e escritórios de particulares que volta e meia contribuem para as rendas do complexo.
Os arrendatários no pavilhão deram curvas à equipa de reportagem deste jornal, negando avançar os valores inscritos na tabela de preços sobre o que se paga para um espaço.
Por sua vez, no pavilhão número ois pode-se inferir que garante mais rendimentos ao Complexo no que concerne aos arrendamentos, visto que, pela sua estrutura arquitetónica, não comporta espaços para serviços à sua volta.
O Clube de Ténis, contendo vários serviços como restauração também é um activo do Complexo da Cidadela, visto que ao pé da antiga entrada da FAF há um restaurante novo.
No Portão, ao pé da Galeria dos Desportos, na Rua Senado da Câmara, quem entra à direita, há também um espaço vedado que vende plantas, sendo que é de um particular, o jovem que lá estava em serviço escusou-se a prestar declarações, dizendo que o seu responsável não estava presente.
A intenção da Sonangol em ficar com o gigante
No ano passado, a Sonangol, em carta endereçada ao Ministério da Juventude e Desportos mostrou-se interessada em ficar com o Estádio da Cidadela e dar um outro tratamento.
Ainda assim, como resposta, o órgão de tutela negou-se, mas fontes ligadas ao assunto revelam a este jornal que o assunto não morreu, visto que deverá retomar nos próximos tempos.
A Sonangol é a patrocinadora oficial do Petro de Luanda, equipa que movimenta muitas modalidades, incluindo o futebol como cartão de visita dentro e fora do continente africano.