O estado actual do basquetebol nacional, em ambos os sexos, tem preocupado os fazedores da modalidade, em virtude da perda de qualidade nos escalões de formação. Os agentes ouvidos por este jornal exigem mudanças a todos os níveis para que Angola possa regressar ao topo da modalidade
O basquetebol serviu de instrumento para que os angolanos se livrassem das «amarras» do colono português na década de 70.
Apesar da guerra colonial ter causado muitas perdas humanas, o trabalho que era feito nos escalões de formação nunca diminuiu significativamente.
Mesmo após o alcance da Independência Nacional em 1975, a escassez de verbas devido à conjuntura económica da época nunca foi tema de discussão pelos fazedores da modalidade, uma vez que o amor à modalidade era a nota dominante.
Tal facto permitiu que os angolanos se destacassem internacionalmente, conquistando onze títulos do Afrobasket, com Jean Jacques da Conceição, Gustavo da Conceição, Paulo Macedo, e uma geração mais nova, anos depois, com Miguel Lutonda, Armando Costa, Aníbal Moreira, Olímpio Cipriano, Milton Barros, Carlos Almeida e outros.
Às mãos de Mário Palma, Vitorino Cunha e Valdemiro Romero tornaram-se as grandes referências do basquetebol no continente.
No entanto, o amor que boa parte dos treinadores de formação tinham na altura pela modalidade desmoronou, tendo contribuído para que a Selecção Nacional sénior masculina tivesse deixado de ser potência no continente africano, já que os escalões de base serviam como combustível para a selecção de seniores.
Entretanto, este jornal ouviu treinadores das camadas de formação que consideraram a falta de investimento e de incentivo como factores que contribuíram para a perda de hegemonia do conjunto nacional no «continente berço».
Carlos Dinis diz que mais atletas devem competir no estrangeiro
O timoneiro do Atlético Sport Aviação (ASA), Carlos Dinis, salientou a este jornal que o trabalho desenvolvido nas categorias de formação tem perdido qualidade devido à falta de investimento dos clubes.
O dirigente salientou que o basquetebol de formação encontra-se votado ao esquecimento por parte dos clubes, visto que os atletas, especialmente dos 10 aos 18 anos, têm treinado em condições precárias.
O técnico entende que as equipas não têm cumprido adequadamente o papel de apostar nos escalões de formação, colocando em causa o desenvolvimento da modalidade.
Carlos Dinis referiu ainda que a falta de incentivos financeiros para os treinadores também tem influenciado no declínio da qualidade do trabalho realizado nas categorias de formação.
O ex-basquetebolista ressaltou que alguns clubes têm trabalhado apenas com uma ou duas tabelas, o que tem condicionado significativamente a evolução dos atletas.
“Como vais ter qualidade se tens atletas a percorrer quilómetros para chegar ao local de treino? Não faz sentido.
Isso impede que o atleta assimile os conhecimentos”, começou por dizer. Carlos Dinis atribuiu parte do fracasso nas categorias de base ao facto de os angolanos terem se acomodado e não acompanharem as mudanças e evolução da modalidade ao longo do tempo.
Para que a Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol possa regressar à ribalta, Carlos Dinis sugere como uma das soluções a concessão de bolsas de estudo no exterior para os atletas das categorias de base.
Na visão do antigo internacional pelo cinco nacional, isso permitiria que os atletas dessas categorias elevassem os níveis competitivos, o que tem sido uma «missão impossível» em solo angolano devido às condições precárias em que se encontram os clubes. “Temos de colocar mais atletas a jogar nas competições estrangeiras.
Uma das soluções passa pelas bolsas de estudos, sendo que o governo é chamado a intervir. O trabalho que é feito nos escalões de formação é deprimente. Temos de passar a mandar crianças a evoluir no estrangeiro.
Com isso ganharíamos muita coisa. Enquanto não fizermos isso, continuaremos na corda bamba”, disse.
Relativamente às condições de trabalho do clube afecto às Linhas Aéreas de Angola (TAAG), Carlos Dinis revelou que a situação actual é perclitante.
Instado a justificar as suas declarações, Carlos Dinis referiu-se nos seguintes termos: “Estamos a lutar para subsistir. A situação actual é mesmo perclitante.
O clube tem treinado sem tabelas. Muito lamentável. Desta forma não podemos atingir os nossos objectivos”, lamentou.