O grupo, fundado em 1999 na vila de Dala Kixinge, no município de Cahombo, província de Malanje, tem-se dedicado, desde muito cedo, a difundir os ritmos da sua província através dos seus cantos e danças produzidos por instrumentos musicais tradicionais, baseados numa linha musical denominada “diémbe”, rítmica típica de suas origens culturais, especificamente da etnia cultural Mandongo.
Formado por cinco integrantes, dois dos quais deficientes visuais, o agrupamento começou a dar os primeiros passos no mundo da música em finais do ano 2000, em Luanda, onde os mesmos residiam, após deixarem a terra natal devido ao conflito armado que na altura assolava aquela província situada na região norte do país.
Actualmente, com mais de duas décadas de existência, o conjunto, que tem como integrantes Kanjila (vocalista – deficiente visual), Zango Damassa (guitarrista e criador das composições, deficiente visual), Kandomba Ximbica (corista e porta-voz do grupo), Bernardo (percussionista) e Puto Laranjinha (dicanza), tem como ambição maior expandir os ritmos de Malanje para as restantes 17 províncias do país e resgatar a mística de ser referência no mercado no diz respeito aos ritmos folclóricos nacionais.
Em entrevista ao OPAÍS, Kandomba Ximbica, porta-voz do grupo, disse que o conjunto está a trabalhar arduamente para resgatar a sua marca no mercado e levar o folclore malanjino para as demais províncias, assim como para outros palcos internacionais.
“Nós ainda temos muito para dar, o trabalho aqui não pára, apesar da falta de apoio não estamos parados, queremos levar a nossa marca para toda Angola e, quem sabe, para outros países”, disse o artista em representação do colectivo.
Ximbica disse que ainda que a intenção é expandir a marca dos “Tunjila” ao mais alto patamar do mercado musical, quer nacional, quer internacional. “Ninguém cultiva produtos no campo só para ficar com ele, a nossa intenção é expandir as nossas músicas para todo o mundo.
Hoje em dia, já tem várias formas de espalhar os trabalhos através dos bloggers e plataformas digitais, então queremos levar a marca dos “Tunjila Tuajokota” de Malanje para toda Angola e para o mundo”, reiterou.
Duas décadas de persistência
Desde a sua fundação, o grupo Tunjila Tuajokota tem resistido às dificuldades que se impõem no dia-a-dia, preservando os ritmos ancestrais durante os quase 25 anos de existência.
Em véspera de assinalar 24 anos de existência, já no mês de Outubro, o grupo reafirma a sua persistência no mercado musical, firmando-se como um exemplo e referência para as novas gerações no que a promoção e preservação da música folclórica da região norte do país dizem respeito.
Ao longo dos 24 anos de existência, o grupo já brindou o público angolano com vários temas musicais que se tornaram sucessos e que, até hoje, fazem parte das memórias vivas dos amantes dos ritmos folclóricos da terra das Quedas de Kalandula.
Visando reforçar a sua “histórica” marca no musical nacional, o grupo está agora engajado em novos projectos musicais que visam sustentar a marca no mercado e dar mais visibilidade aos seus trabalhos, apesar de não estar veiculado a nenhuma produtora.
Ximbica informou que “os meninos de ouro de Malanje”, como são carinhosamente tratados pelos populares, estão a preparar um novo álbum que já conta com várias músicas promocionais gravadas, aguardando por financiamento para ser editado e de seguida posto no mercado.
Falta de apoio ‘trava’ lançamento do novo disco
O porta-voz fez saber que o álbum está a ser preparado há quase cinco anos, mas a falta de patrocínio tem feito com que o processo de produção e edição do disco não seja concluído até agora.
“Estamos a preparar um novo disco, aliás, esse mesmo disco já começámos a preparar há alguns anos, mas a falta de patrocínio já é que está a nos dificultar.
Já fizemos uma boa parte, fizemos as gravações, masterização, então falta o passo da edição e conclusão para ver se o trabalho chega, ainda este ano, nas mãos dos nossos fãs”, adiantou o artista responsável pela criação dos refrões de maior parte das músicas do grupo.
Sublinhou ainda que, apesar de ainda não ter data de lançamento devido à ausência de financiamento, o conjunto está engajado na promoção do álbum, levando as músicas promocionais aos vários palcos em que tem passado desde 2022.
“O grupo está a trabalhar de forma autónoma, porque não temos produtora, nem patrocínios, dependemos de alguns apoios pontuais, mas patrocinador oficial como tal nunca tivemos.
Se aparecer alguém disponível seria uma grande valia para nós, porque temos ainda muitas músicas para os nossos fãs, mas sem patrocínio é complicado”, lamentou.
Entre as músicas que poderão constar do novo trabalho discográfico, já vão fazendo parte do “habitat” musical dos fãs temas como “mano João” e “virou pincho”, este último é tido como música promocional do álbum.
Expandindo os ritmos em Festivais
Embora estejam a deparar-se com dificuldades diversas, sobretudo a falta de patrocínios, o conjunto continua engajado na sua missão de difundir os ritmos da sua terra natal para os grandes palcos da capital do país e não só.
Durante a sua participação na terceira edição do Festival Balumuka, realizado de 15 a 19 do mês em curso, no Palácio de Ferro, em Luanda, onde estiveram como “convidados especiais”, Tunjila Tuajokota voltou a testar a sua sagacidade musical, contagiando o público com seus nostálgicos temas musicais.
Com os seus típicos e habituais instrumentos musicais, nomeadamente a cambanza (guitarra tradicional), a dicanza (também conhecido como reco-reco), a marimba tradicional e o batuque, o conjunto protagonizou um espectáculo de matar as saudades, levando o público a reviver os temas que marcaram a trajectória do grupo ao longo dos 24 anos de existência.
Em palco, o grupo brindou os presentes com históricos temas como “Mana Mena”, “Amor”, “Lili”, “Kala-Kanga”, “Vizinha Nganga”, “Adelina”, e outros que fizeram parte do repertório apresentado pelo conjunto naquela que é sua segunda participação consecutiva naquele festival, que visa enaltecer os ritmos e os instrumentos musicais de exaltação das raízes africanas.
Ximbica destacou como positiva a participação do conjunto no festival e referiu que actividades daquele género têm servido de “balão de oxigênio” para dar mais vida e visibilidade à música folclórica que, no entender do artista, vai sendo cada vez mais esquecida nos grandes eventos musicais que acontecem um pouco por todo o país.
“Foi a segunda vez que fomos convidados para actuar no festival e estamos muito agradecidos à organização por se lembrarem sempre dos Tunjila Tuajokota.
Esse tipo de actividades nos dá mais ânimo para nós que cantamos este estilo, porque, se formos a ver, quase já não convidam artistas desse estilo nos grandes espectáculos, então acho que a organização deve continuar para que nós também possamos nos sentir valorizados na nossa cultura”, assinalou.
“Apoios são sempre bem-vindos, porque as necessidades são imensas”
Recentemente, o conjunto beneficiou de um apoio em valor monetário e bens alimentares, assim como de bens materiais, com destaque para cinco residências para abrigar os integrantes do grupo.
A acção solidária foi protagonizada pelo político e empresário Bento Kangamba que se solidarizou com a carência do conjunto, após visitar a província durante um jogo entre o Kabuscorp do Palanca e o União de Malanje, numas das jornadas do Campeonato Nacional, Girabola-2023/24.
Comentando sobre o acto, Ximbica frisou que foi um gesto inesperado por parte do grupo. Disse que o conjunto ficou (e continua até agora) profundamente agradecido pelo apoio do político e dirigente desportivo que, na ocasião, também prometeu apoiar o lançamento do novo álbum do grupo.
Sem rodeios, o porta-voz afirmou que “toda a ajuda é bemvinda” para tornar o colectivo cada vez mais forte e animado para dar continuidade aos seus trabalhos com menores dificuldades possíveis.
“Toda ajuda é sempre bemvinda, como sabemos o grupo tem dois integrantes que são deficientes visuais, eles enfrentam várias dificuldades, não têm outras profissões, dependem inteiramente da música. Toda vez que há pessoas disponíveis para apoiar é de louvar e agradecer”, expressou.
Quanto ao apoio prometido pelo empresário e presidente do Clube do Palanca para o lançamento do disco, o mesmo disse que o grupo continua a aguardar, garantindo que, tão logo se cumpra, virão a público informar para não parecerem ingratos.
Discos já lançados
Os mais de 20 anos de existência, repletos de sucessos, alguns fracassos e muita experiência no mundo musical permitiram ao grupo lançar no mercado quatro álbuns, nomeadamente Yosso Ikuma (2007), Kiucamba Kiutobessa (2009), Kiaxa Acuco (2015) e o álbum remix “Yosso Ikuma-II” (lançado em 2017), com alguns temas repetidos e outras versões adaptadas, com a produção do DJ Ecozinho.
Este ano, caso surjam os apoios necessários, o grupo poderá concretizar o sonho de ver o seu quinto disco no mercado, marcando assim a celebração do vigésimo quarto aniversário do grupo e a preparação para os 25 anos de existência a assinalar-se no próximo ano, e que prevê ser celebrado com um concerto na terra natal do agrupamento musical.