Segundo a coordenadora da Comissão Nacional para o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Paula Henriques, o legado de Castro Soromenho tem alcançado a comunidade académica, uma vez que suas obras têm sido estudadas desde o ensino secundário.
Devido às características literárias de seus textos, é analisado tanto nas disciplinas de Língua Portuguesa quanto de História. No ensino superior, sua obra tem predominado especialmente nos cursos de Língua e Literatura.
Em representação da União dos Escritores Angolanos (UEA), Hélder Simbadi afirmou que a instituição tem aproveitado de forma exemplar este programa de homenagens, o que tem contribuído para a valorização do legado dos escritores angolanos.
Destacou que a UEA realiza regularmente actividades de reconhecimento, como debates e conferências no programa Maka à Quarta-feira, que também abordam figuras como Castro Soromenho.
“Castro Soromenho e outros são os nossos precursores, que iniciaram a literatura angolana há muitos anos”, afirmou com satisfação. O também professor e crítico literário defendeu que o reconhecimento de Castro Soromenho como membro honorário da UEA é uma honra mais do que merecida, dado que é um dos clássicos da literatura angolana.
Embora seja uma figura controversa, sendo reivindicado por três literaturas — a portuguesa colonial, a moçambicana e a angolana —, o autor tem uma abordagem única e autêntica em suas obras, onde retrata a realidade angolana de uma forma que a distingue das produções portuguesas da mesma época.
Helder Simbadi destacou que o estilo de Castro Soromenho é marcado pela utilização de elementos da poesia tradicional africana, o que o torna singular e distinto dos escritores portugueses.
Acredita que o legado de Soromenho se mantém vivo, sendo uma referência essencial nos estudos sobre a periodização da literatura angolana e a construção do romance.
Um escritor que transcende o seu tempo
Alexandre Sacukuma, investigador em literatura e professor no ISCED da Huíla, destacou que a homenagem a Castro Soromenho é uma iniciativa extremamente positiva, pois o escritor transcende o seu tempo e traz reflexões que ainda são muito válidas nos dias actuais.
“A actividade, além de seu valor simbólico, é importante pelo contexto, pela posição do escritor e pelo legado que ele deixou para uma geração como a nossa”, afirmou Sacukuma.
Sacukuma sugeriu que as obras de Castro Soromenho sejam mais estudadas desde o ensino primário, de forma que os alunos, mesmo que não leiam o autor directamente, possam conhecer seus valores — como a luta pela igualdade e respeito ao próximo — por meio de outras formas de expressão, como teatro ou artes visuais. Isso ajudaria a transmitir os ideais defendidos por Soromenho a uma geração mais jovem.
Trata-se de uma actividade conjunta entre a Comissão Nacional para o Instituto Internacional da Língua Portuguesa e a Academia Diplomática Venâncio de Moura. “Hoje, estamos a homenagear Castro Soromenho, que nasceu no mês de Janeiro”, destacou a responsável.
A coordenadora explicou que o programa sofreu uma pequena alteração, pois em Dezembro não foi realizada a homenagem, que deveria ter sido dedicada ao escritor Cordeiro da Mata, tendo sido agendada para Janeiro.
Por isso, a homenagem a Castro Soromenho foi deslocada para Fevereiro. “A partir de agora, o calendário será reajustado e o programa voltará ao ritmo habitual. No próximo dia 28, será a vez de Alfredo Trone, outro escritor, ser homenageado, também por ocasião de seu aniversário”, disse.
Sobre o escritor Castro Soromenho
Castro Soromenho nasceu na vila de Chinde, na região da Zambézia, em Moçambique, e, com apenas um ano de idade, mudouse para Angola. Era filho de Artur Ernesto de Castro Soromenho, governador dos distritos de Congo, Huíla, Moxico e Lunda, e de Stela Fernançole de Leça Monteiro, natural do Porto e de família cabo-verdiana. Seu pai foi juiz no Supremo Tribunal de Lisboa. Até os seis anos de idade, Soromenho viveu em Angola.
Entre 1916 e 1925, estudou em Lisboa, completando o ensino primário e liceal. Retornou a Angola, onde trabalhou para a Companhia de Diamantes de Angola e, em 1932, após concluir o curso na Escola Superior “Artur Paiva”, entrou para o quadro administrativo de Angola, servindo nas regiões do leste da colônia.
Posteriormente, foi para Luanda, onde se tornou redator do jornal Diário de Luanda até os 27 anos. Em 1965, mudou-se para o Brasil, onde faleceu. No Brasil, leccionou na Universidade de São Paulo e na Universidade de Araraquara, além de se dedicar ao estudo da etnografia angolana. Foi um dos fundadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo.