A homenagem, de acordo com a embaixada da RDC na capital angolana, visa distinguir o músico angolano nascido em Kinshasa com uma medalha de ouro ao peito de Mérito em Artes, Ciências e Letras, um gesto de reconhecimento do contributo de Sam Mangwana na expansão, valorização e promoção da rumba congolesa no panorama cultural internacional, género musical que foi elevado à categoria de Património Imaterial da Humanidade em Dezembro de 2021 pela UNESCO.
Além de reconhecer o seu contributo artístico, a homenagem visa igualmente destacar a figura de Mangwana enquanto nacionalista e pan-africanista que, através da sua arte, contribui significativamente para preservação e valorização dos hábitos culturais panafricanos e suas raízes.
Na nota a que este jornal teve acesso, a embaixada congolesa sublinha que, mais do que um artista, Sam Mangwana é um “mestre da música africana” e “verdadeiro pan-africanista”, defensor e preservador das raízes culturais do continente africano e que se tem dedicado a espalhar a paz, a união e a inclusão entre os povos de diferentes nações do continente berço da humanidade.
O corpo diplomático da RDC em Angola destaca a figura de Mangwana como um “incontornável promotor da união e irmandade entre os dois países” que, além de partilharem uma vasta extensão territorial, “comungam a mesma história e a mesma cultura, que se reflectem nos hábitos e costumes dos seus povos”.
Em declarações ao jornal OPAÍS, Sam Mangwana disse estar profundamente agradecido pelo reconhecimento que lhe é atribuído e assegurou continuar a fazer a sua parte pela valorização da cultura africana onde quer que vá ou esteja.
“Sendo tarde, ou cedo, um reconhecimento é sempre um reconhecimento, e eu agradeço muito às autoridades do Congo Democrático. Este gesto vai ficar para sempre marcado no meu coração”, disse o músico de 79 anos de idade.
Mangwana sublinhou que a homenagem é, sem sombra de dúvidas, gratificante e satisfatória, entretanto, reitera que o maior reconhecimento é a preservação e valorização dos trabalhos dos artistas, recorrendo à frase ‘os homens passam, mas as suas obras ficam’.
Questionado sobre o modo que gostaria de ver os seus trabalhos valorizados, Mangwana frisou que não se trata apenas dos seus trabalhos de forma singular, mas da valorização da arte africana, dos trabalhos feitos por artistas africanos muito esforçados e talentosos e que também merecem destaque.
Sem desprimor da homenagem que lhe é preparada, o mesmo realça que a arte é uma ferramenta que a vida lhe proporcionou para fazer ouvir a voz do seu povo e, por isso, faz com alma, comprometimento e responsabilidade.
“[ A música] é uma corrente onde todos tentamos tirar alguma coisa para mostrar a nossa existência e fazer circular as mensagens daqueles que não têm voz. Somos mensageiros do nosso povo”, sublinhou o artista.
Compilação de músicas antigas para um novo CD
Ao OPAÍS, o músico adiantou, em exclusivo, que está a compilar várias músicas suas antigas para lhes dar uma nova roupagem e, juntamente com alguns temas novos, poderão fazer parte do novo CD que está a preparar, ainda sem data de lançamento.
Adiantou que, além de músicas de sua autoria, o seu próximo trabalho discográfico vai contar também com temas musicais de outros artistas que, de um modo ou de outro, marcaram a sua trajectória artística desde os primeiros anos até aos dias actuais.
“Estou a fazer uma compilação das minhas músicas antigas e olhar também nas obras de outros artistas e ver o que é interessante para mim, e vou preparando as coisas devagarinho, sem pressa”, acrescentou. De salientar que o último álbum de Sam Mangwana “Lubamba” foi lançado em Luanda, em 2016.
Homenagem merecida
Para muitos alguns artistas e críticos musicais, a distinção de Sam Mangwana é mais que merecida e vem em tempo oportuno, considerando a dimensão do artista e o seu indiscutível contributo na promoção dos ritmos africanos desde a década de 1960.
Ouvido por este jornal, o músico e produtor Eduardo Paim disse que a homenagem a Mangwana vem, até certo ponto, tardia, tendo em conta os vários anos a que o distinguido vem contribuindo para a valorização da música africana nos grandes palcos internacionais, especialmente a rumba congolesa.
“Parabenizo à embaixada da RDC pelo reconhecimento merecido que é dado a esta imponente figura da música africana que é Sam Mangwana. É um artista que dispensa apresentações, e penso que a homenagem, até certo ponto, vem demorada, tendo em conta a dimensão do homenageado, mas, ainda assim, é uma iniciativa louvável”, assinalou.
Por sua vez, o músico Calabeto também considerou meritória a distinção de Mangwana que, no seu entender, é um artista que tem levado para os palcos mundiais a bandeira da cultura africana através da música.
Calabeto recordou que já teve o prazer de dividir o palco com Sam Mangwana e ressaltou que é um artista com uma dimensão merecedora desta e outras iniciativas de enaltecimento do seu trabalho.
Histórico do artista
Samuel Mangwana, artisticamente conhecido como Sam Mangwana, nasceu a 21 de Fevereiro de 1945, na então Leopoldville, hoje Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Filho de pais angolanos, na altura imigrantes no antigo Congo Belga.
O artista começou a carreira musical em 1963, na então República do Zaíre, hoje República Democrática do Congo, no grupo African Fiesta, de Tabu Ley Rochereau, posteriormente African Fiesta National, Africa International.
Teve ainda passagens pela mítica banda TP OK Jazz, de Francó, considerada a maior estrela da música africana do seu tempo. Formou e liderou os grupos Festival des Maquisards e African All Stars.
Dos seus mais de 50 anos de carreira musical resultaram vários álbuns e temas de sucesso, entre os quais All Stars Africanos: Les Champions (1977), Waka Waka (1978), Maria Tebbo (1979), Est-ce Que Tu Moyens? (1981), Cooperação (1982), Galo Negro (1998), entre outros.