O livro publicado sob a égide da Editora Actes Sud, é um romance retratando a trajectória de Nsaku Ne Vunda (Dom António Manuel), Primeiro Embaixador Negro Africano, no Vaticano, em 1608. O autor levanos a uma viagem de revisitação ao passado
Por: Augusto Nunes
“Um Oceano, Dois Mares, Três Continentes” é o título da mais recente obra literária do escritor congolês Wilfried N’Sondé, a ser apresentada a 22 deste mês na Maka à 4ª Feira, da União dos Escritores Angolanos, em parceria com a Alliance Française de Luanda.
O livro, cujo lançamento se enquadra na Semana de Promoção e Divulgação da Literatura Africana no Mundo, é o ponto culminante de um projecto que surgiu há cerca de sete anos.
É uma narrativa histórico-ficcional onde Wilfried N’Sondé, desenterrando um herói desconhecido na história da humanidade, mas real, constrói um romance de aventura narrando a história de Nsaku Ne Vunda (Dom António Manuel), nome pelo qual foi ordenado padre. O autor da obra realça que, quando descobriu o destino incrível de Dom António Manuel, sentiu-se atraído pela história, e aconselhado pelo irmão, historiador, resolveu escrever o livro. “O meu irmão soube que eu tinha o personagem principal da história e incentivou-me a escrever”, disse.
Dom António Manuel Nsaku Ne Vunda, padre fiel, e muito apegado à fé católica, jovem, forte e corajoso, instruído por missionários portugueses, é enviado pelo seu monarca, Rei do Kongo, Álvaro II, como Primeiro Embaixador Africano no Vaticano e defender os Direitos da Pessoa Humana, denunciando o tráfico de escravos. Em conversa com OPAÍS, Carmo Neto, secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, informou que a chegada de Wilfried N’Sondé a Luanda, faz reflectir seriamente sobre a questão da tradução em Angola.
Olhando para o reduzido número de falantes de língua francesa em Angola, adiantou que a primeiríssima questão que lhe vem à mente é saber quem vai ler ou compreender o que o consagrado autor congolês traz para os angolanos. Porém, admitiu que não é por acaso que N’Sondé decide juntarse aos angolanos com a sua mais recente obra literária, uma vez que acredita existir nela algo muito importante sobre a nossa identidade, algo que a história não nos fez questão de contar ou que, talvez parte dela andou enterrada há séculos nos lugares mais silenciosos e conservadores de humanos com corações de animais ferozes. “Se quisermos realmente que a nossa literatura transponha os espaços geográficos já habituais, é imprescindivel que trabalhemos de forma célere na formação de uma Academia ou Centro de Tradução Literária”, realçou Carmo Neto.
Conferências em Luanda
O escritor, que vem pela primeira vez a Angola, realizará duas conferências: a primeira no dia 20 sobre a Literatura Francófona, e a segunda, no dia 22, sobre a sua obra, na sessão do lançamento do livro na UEA O personagem Dom António Manuel Nsaku Ne Vunda, nasceu em M’Banza Kongo, actual capital da província do Zaire, hoje, com um grande destaque a nível internacional, por ser considerada pela UNESCO Património Mundial da Humanidade.
O romance em questão é a tradução literal da longa, dura e perigosa viagem de Nsaku Ne Vunda, de Boko (Mbanza Kongo) para Luanda, seguindo para o Brasil, Portugal Espanha, e finalmente, Itália (Vaticano). Trata-se de uma obra viajada em que o autor convida-nos a uma viagem ao interior, bem no fundo do nosso âmago, em busca de valores essenciais para a vida: liberdade, igualdade e fraternidade.
O autor
Wilfried N’Sondé, nascido em 1968 em Brazzaville, cresceu em Paris (França) e formou-se em Ciências Políticas, antes de viajar para Berlim onde viveu 25 anos. Em 2016, leccionou Literatura na Universidade de Berna como professor convidado. Músico e autor de várias canções, apresenta-se regularmente em dueto com o seu irmão Serge N’Sondé em diferentes palcos de França e da Alemanha.
Como autor, Wilfried N’Sondé já lançou 4 romances e todos sob a égide da Editora Actes Sud: “Le Coeur des enfants léopards” (2007, Prémio dos 5 Continentes da Francofonia e Prémio Senghor da Criação Literária), Le Silence des esprits (2010), Fleur de béton (2012) et Berlinoise (2015).