Os restos mortais do músico e compositor Justino Handanga repousam, desde ontem, no cemitério municipal do Bailundo, depois de serem realizadas várias homenagens de familiares, colegas e fãs, na província do Huambo
O músico Bessa Teixeira, que acompanhou o acto que contou com a presença de várias individualidades, disse que apesar de Justino Handanga ter um funeral condigno, na sua terra natal, lamenta o facto de ser sepultado no cemitério que se encontra próximo dos bairros, com risco de um dia deixar de existir pela sua corrosão.
“Justino deveria ter um monumento, um túmulo e este cemitério municipal não tem nada, é só apenas o nome. Deveria ter um túmulo que permitiria ser visitado, porque ele arrastou milhões, fez tudo o que existe de bom em cultura, mensagens com diversificação de correntes políticas. Mas como a família o quis, ninguém pode se opor e o enterramos ali”, frisou.
Durante o cortejo fúnebre, contou, uma grande moldura humana esteve nas ruas, novamente, para se despedirem do músico, cujas composições marcaram gerações, fazendo cantar e dançar os cidadãos e distintos eventos pelas suas sonoridades.
Para Bessa Teixeira, falar de Jus- tino é o mesmo que falar daqueles músicos que já se foram, em que ele enquadrou-se no estilo musical que cantavam, como Jacinto Tchipa, António Venâncio “Viñi Viñi”, Octávio Correia, Chissica Arts, entre outros, que cantaram e valorizaram a língua nacional umbundu. “Esses foram os monstros que mostraram e fortaleceram a nossa língua materna. Justino foi uma fortaleza que Deus nos trouxe nesta região centro-sul do país. Ele foi o músico que fazia sorrir as cor- rentes políticas no país.
Estou a falar dos partidos”, apontou, ao ver que os adultos, jovens e crianças cantam as suas músicas, apreciavam as suas melodias, um músico que cantava para os mutilados, para todas as facetas, transmitindo os seus valores nas suas canções. Deste modo, apela para que a juventude acompanhe o seu legado, por ser multinacional, um monstro, um homem transmissor que tinha uma afeição pela música, pelo qual fez dançar multidões.
Percurso
Justino Handanga faleceu na passada segunda-feira, 18, aos 55 anos, vítima de diabete, no Com- plexo Hospitalar de Doenças Cardio-rrespiratórias Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, em Luanda. Nasceu a 01 de Janeiro de 1969, na aldeia de Ndoluka, comuna da Luvemba, município do Bailundo, província do Huambo, região onde sempre viveu desde os tempos dos conflitos armados até à sua morte.
Conhecido nas leads como músico do estilo popular, preservan- do sempre a sua essência cultural e as raízes do seu povo, iniciou a carreira musical na década de 80, após ter perdido os seus progeni- tores, com a participação no concurso denominado “Pio-Pio”, um concurso de imitação de artistas nacionais e internacionais, realizado, na altura, aos domingos, pela Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA), no município do Bailundo.
Autor de vários sucessos, dentre os quais “Abílio”, “Olonamba”, “Tenho saudades”, “Paulina”, “Carlito” e “wiliposse”, Jus- tino Handanga chegou de lançar dois álbuns no mercado, sendo o primeiro “Ondjonguele Ya Telisiwã (Alvo Atingido)”, lançado em 2004 e o segundo “Homenagem ao empresário Valentim Amões”, em 2011. Participou, em 2005, da 15.ª edição do Top dos Mais Queridos da Rádio Nacional de Angola, ficando em 3.° lugar, com a conhecida música “Paulina” e, em 2006, ficou em 5.° lugar, partilhando o mesmo palco com o músico Bangão, de feliz memória.