O núcleo de investigadores culturais apresentou em Luanda os resultados das últimas pesquisas e recolha de material, na comunidade Vahanya, aldeia do Longo, arredores do município do Cubal, na província de Benguela
O projecto, que reuniu historiadores, linguistas, jornalistas culturais, entre outros especialistas, foi lançado em Maio do ano transacto, na União dos Escritores Angolanos (UEA), e está vocacionado para os estudos avançados das manifestações culturais das comunidades rurais angolanas. A acção denominada “Dyembu Yetu–A Nossa” estrutura-se em três eixos fundamentos: o primeiro reside nas tradições orais e tem como objectivo a recolha e tratamento de textos orais, contos, provérbios e adivinhas.
O segundo eixo reside na ciência e na investigação, com maior incidência na identificação do elemento com valor científico, nas manifestações culturais das comunidades rurais angolanas. O terceiro e o último eixo deste projecto denomina-se dyembu dyetu–canções folclóricas. Tem como objectivo o estudo dos géneros de canções folclóricas, o estilo de dança e os seus instrumentos musicais em cada cultura.
Joaquim Cadia Lubuato, o coordenador-geral do projecto, em declarações ao OPAÍS, afirmou que, no quadro das acções desenvolvidas no âmbito do referido projecto, foram abertos três canais no YouTube, correspondentes aos eixos acima referenciados, tendo a essência do trabalho sido apresentada na UEA. Ainda no que ao eixo das tradições orais se refere, o coordenador sublinhou que foram gravados contos e provérbios em nove línguas nacionais, nome- adamente Kimbundu, Kikongo, Cokwe, Luvale, Umbundu, Ifyoti, Oshikwanyama, Olunyaneka e Ngangela. “Muitos destes contos e provérbios foram publicados no canal de YouTube Dyembu Dyetu | Tradições Orais”, disse o coordenador.
Domínio científico
Já em relação à intervenção no domínio da ciência e investigação, Joaquim Lobuato salientou que foram realizadas várias actividades de campo, que culminaram com a gravação de matérias com diferentes pesquisadores e professores universitários, dos quais António Fonseca, com o tema “Função Social da Lite- ratura Oral”, José Domingos Pedro, a “Situação Sociolinguística de Angola”, e Abreu Paxi, “A Circulação dos Provérbios na Cultura”. A lista de académicos empenhados no projecto inclui ainda Daniel Peres Sassuco, com o registo sobre a “Situação Sociolinguística do Leste”, Gaio Kakoma, com a “Situação Sociolinguística (igualmente) no Leste”, Ndonga Mfwa, com as “Políticas Linguísticas em Angola”, e Domingas Monte, com “As Canções Fúnebres Kongo e Ovimbundu. A lista de registos é encerrada pelos investigadores Mbala Vita, com a “Situação Histórica de Angola”, Petelo Nguinamau, com “O Carácter Pedagógico da Literatura Oral”, Manuel Domingos, “A Estética nos Textos Orais, Filipe Vidal, “O Valor das Culturas Angola- nas e Kambindangolo, “As Folclóricas da Região Sul”.
Ainda no que diz respeito às canções folclóricas, o terceiro eixo do projecto, o coordenador as- segurou que foram recolhidas aproximadamente 200 canções folclóricas de diferentes géneros, na província de Benguela, município do Cubal, comuna da Capupa, aldeia do Longo, comunidade Vahanya. As acções em torno do projecto incidiram, igualmente, na produção de um documentário sobre o ensino de instrumentos musicais tradicionais” — como Marimba, o Kisanji, o Ngoma, o Chocalho, a Dicanza e outros — às crianças com idades compreendidas entre os 5 aos 16 anos no Centro de Estudos e Revitalização da Musical Angolana (CERMA).
Joaquim Lubuato sublinhou que tanto a recolha feita na aldeia do Longo como o documentário relativo ao ensino de instrumentos musicais tradicionais têm o seu conteúdo disponibilizado no YouTube no canal Dyembu Dye- tu | Canções Folclóricas. Ainda neste quadro, garantiu que foram ainda documentadas criações sobre a “Vida e Obra dos Amados de Ambaca”, “Ndengues do Kota Duro” e “Disbun- da”. Recorde-se que o núcleo de pesquisadores do Dyembu Dye- tu–A Nossa Aldeia encerrou as actividades do ano 2023, com o programa “Maka à Quarta-Feira”, uma co-produção entre a UEA e o Dyembu Dyetu e o Movimento Litteragris, com o tema “Políticas Linguísticas em Angola–Progressos e Retrocessos”, cuja prelecção coube ao professor Daniel Peres Sassuco.