Durante as semanas em estúdio, numa primeira fase, os profissionais vão concentra-se na pesquisa artística, na produção e no discurso crítico por meio das suas residências, colecção e projectos educacionais, em torno de um espaço criativo localizado na Baia de Luanda
A 1.ª edição do programa de residências artísticas da “Nesr Art Fo u n d a t i o n”, aberto no passado dia 25 do mês em curso, entra hoje no seu sexto dia de actividades, com dois artistas africanos em estúdio.
Trata-se do angolano Hélio Buite e a sul-africana Malebona Maphutse, a convidada deste evento, que se prolongará até ao dia 30 de Março.
O mesmo é realizado através de uma parceria com a Galeria Angolana de Artes, This Is Not a White Cube, organização focada na partilha de criações culturais do continente africano, em diálogo com o mundo, promovendo o acesso à arte contemporânea.
Edna Bettencourt, gestora do projecto, em conversa, esta Segunda-feira, com a equipa de reportagem do jornal OPAÍS, referiu que o processo de selecção para o programa de residências do ano 2023 foi extensivo aos artistas da diáspora, Moçambique e Cabo Verde.
Adiantou que neste processo de eleição, realizado pelo Comité Artístico da Fundação, foram abrangidos os artistas Hélio Buite, Irene Amosi e Sofia Yala, ambos de Angola, e as moçambicanas Carina Capitine e Filomena Mairose.
A missão da residência, segundo Edna, é estabelecer um envolvimento mais profundo entre artistas, curadores e criar oportunidades de orientação prática e teórica.
Trata-se de um projecto que, durante algumas semanas, estará voltado à capacitação dos profissionais para a pesquisa artística, a produção e ao discurso crítico por meio das suas residências, colecção e projectos educacionais, centrados em torno de um espaço criativo localizado em Luanda.
“É um projecto de capacitação dos artistas para pesquisa artística, produção. Um projecto que tem sido mais educacional”, disse.
Já no que aos aspectos técnicos ao nível da arte se refere, Edna realçou que, no caso concreto do anfitrião Hélio Buite, a sua prática aprofunda-se em diferentes disciplinas, como fotografia, vídeo, instalação, áudio e documentação.
Realçou que o artista interessa-se pelo neocolonialismo ao analisar o percurso percorrido por Angola, desde o colonialismo, a independência, a guerra civil e a crise económica que o país atravessa.
Descrição da cidade de Luanda
Por sua vez, Hélio Buite disse acreditar num futuro de autossuficiência e de direitos humanos que se praticam, mas não só escritos.
Uma realidade que parece utópica no contexto actual.
No seu trabalho, Hélio cria versões distorcidas da realidade, contando histórias da Luanda contemporânea, o seu progresso, a sua divisão social num contexto económico, cultural, religioso e migratório.
A convidada nesta edição
O convite a sul-africana Malebona Maphutse, para integrar uma Residência Artística em Angola, surge depois de ter alcançado o 3.º lugar na competição e ter sido distinguida cumulativamente pela Associação das Galerias de Arte Africanas.
Através desta, a artista deslocouse à cidade de Luanda na sequência da classificação alcançada, no âmbito da mais recente edição do EPI – Emerging Painting Invitational Prize – um dos maiores acontecimentos artísticos do continente africano, dedicado exclusivamente à pintura.
Em relação à sul-africana Malebona Maphutse, a convidada desta edição, Edna Bettencourt salientou, que por via de uma parceria instituída com a Galeria This Is Not a White Cube, a artista vive e trabalha em Joanesburgo e procura construir narrativas históricas através da sua extensa e abrangente produção artística, que inclui linogravura e digigrafia, pintura sobre tela, desenho, instalações escultóricas e video art.
Sublinhou que as suas instalações e colagens digitais apropriam-se da linguagem visual dos panfletos de rua, explorando de forma mordaz a dívida histórica resultante de uma opressão sistémica.
De modo a compreender a política do espaço, através do seu trabalho, Malebona procura indagar de que forma os corpos encontram o espaço, transcendendo a ideia da mera existência.