O artista Miguel dos Santos Rodolfo “Kituxi” é um dos sete vencedores do Prémio Nacional da Cultura e Artes, edição 2023, destacando-se na categoria de música, anunciado ontem em conferência de imprensa, em Luanda
Segundo a presidente da mesa do jurado da premiação, Maria Ramos, a distinção do “Mestre Kituxi” deveu-se ao seu percurso e contributo pela preservação dos estilos e instrumentos musicais tradicionais angolanos, designadamente o hungo, a puíta, o kissanji, a dikanza, o mukindo e o ngoma, como forma de “afirmação e salvaguarda da nossa cultura”.
Músico, compositor e instrumentista, com uma carreira musical de mais de 50 anos, é considerado uma das maiores referências da música tradicional angolana cujas acções de preservação da identidade cultural angolana são reflectidas quer nos ritmos quantos nos instrumentos musicais que são característicos das suas obras. Miguel Rodolfo “Kituxi”, que começou a sua carreira em 1957 no conjunto “Feitiço Negro”, é mentor e fundador do grupo Kituxi e seus acompanhantes, criado em 1980, com o qual fez maior parte do seu percurso musical.
Outros vencedores
A par de Miguel Kituxi, foram também distinguidos outros seis artistas como vencedores da presente edição, cada um correspondendo a uma categoria artística, nomeadamente:
Literatura
João Tala, poeta e prosador angolano foi distinguido como vencedor da categoria de Literatura, destacando-se pelo prestígio e fortuna crítica que a sua produção artística possui, bem como pelo seu pensamento de valor multifacetado, e pelo modo como se abre às problemáticas das culturas em Angola.
Artes Visuais e Plásticas
Ana Suzana David “Kiana” foi a vencedora da categoria de Artes Visuais e Plásticas. A artista tem desenvolvido um trabalho interessante em escultura com diferentes materiais inseridos na contemporaneidade, sendo sua obra é baseada numa constante experimentação de materiais sustentáveis que não prejudicam o meio ambiente. Com um traço fino e firme no desenho, Kiana faz recurso às expressões artísticas, como o desenho artístico, a pintura e a escultura, construindo narrativas sustentadas na exploração de componentes sociais e históricos que pululam o imaginário colectivo e a memória histórica de quem aprecia as suas obras.
Cinema e Audiovisual
Na categoria de Cinema e Audiovisual o consagrado foi o realizador Carlos Conceição, pelo conjunto de suas obras, entre as quais se destaca o filme “Nação Verde” pela abordagem estética, cultural, histórica e pela dimensão internacional que o artista vem atingindo, estando em destaque em salas de cinema dos Estados Unidos e na Europa, bem como em festivais internacionais de cinema. De acordo com a organização, os filmes de Carlos Conceição têm como ponto de partida uma tentativa de recuperar a memória individual do próprio realizador, sendo um reencontrar das raízes africanas e estabelecer pontes entre Angola e os restantes países da lusofonia, enquanto “projecto de revisitação histórica”.
Dança
Palasa Dance Company foi o grupo vencedor da categoria de dança. O grupo destacou-se, segundo o jurado, pela excelência com que apresentou, na Casa das Artes, o seu espectáculo “Dose Dupla”, uma versão mais curta que não perdeu a linha narrativa de dois eventos do seu repertório (“Se Esses Pés Falassem” e “Intanda”), ocorrido no passado dia 02 de Julho do corrente ano. O grupo mereceu a distinção “em função da excelência da proposta cénica e pela qualidade da produção dos seus espectáculos no seu conjunto, fazendo recurso às linguagens corporais e personagens populares, aos factos históricos e aos acontecimentos do quotidiano no contexto artísticocultural angolano”, explicou a júri presidente.
Teatro
Na categoria de Teatro a premiação foi atribuída à Amostra Nacional de Teatro, pelo contínuo esforço empregado na promoção e valorização da actividade teatral, do impacto social, didáctico, cultural e artístico. Sendo um evento e/ou projecto que visa promover o teatro nacional com acções formativas, turismo e espectáculo, assim como incentivar a unidade entre grupos teatrais da província do Uíge para o resto da nação e internacionalmente, a amostra mereceu uma atenção “especial” por parte do júri, que os convenceu, levando-os a atribuir a premiação ao colectivo vindo da região Norte de Angola.
Investigação em Ciências Humanas e Sociais
Ao Colectivo de Autores da Colectânea “Várias Línguas, uma nação: Construamos o Futuro” recaiu o prémio da categoria de Ciências Humanas e Sociais, pela referida colectânea composta por nove títulos indissociáveis entre si. Para a organização, a obra destaca-se por promover e preservar a diversidade sociocultural, linguística e sistemas de valores das distintas comunidades de Angola, salientando-os como alicerces da identidade e unidade nacional.
Júris da Premiação
Na presente edição do Prémio Nacional da Cultura e Artes, o co dos jurados foi distribuído por categorias, repartido em duplas, formadas por Abreu Castelo dos Paxe e Manuel Mwanza (categoria de Literatura), Suzana de Sousa e Maria de Oliveira Gumbe (artes visuais e plásticas), Orlando Sérgio Azevedo e Francisco Teixeira, (para Teatro), enquanto a categoria de Dança teve como júri Nelson Augusto e Minerva Aguirre Jacas.
Já para Música, Maria José Faria Ramos e Carlos Alberto Correia dos Santos Lopes foram o júri, ao passo que Óscar Gil e José Silvestre constituíram o corpo de jurado para a categoria de Cinema e Audiovisual, e por fim, na categoria Investigação em Ciências Humanas e Sociais, Aníbal João Ribeiro Simões e Francisco Mateus Quino constituíram o júri. A gala de premiação está marcada para o dia 20 do mês em curso no Hotel Epic Sana, na Baixa de Luanda, com a presença dos artistas distinguidos nesta edição do evento.
Histórico da Premiação
O Prémio Nacional de Cultura e Artes é uma iniciativa institucional do Ministério da Cultura e Turismo e parceiros, instituído em 2000, com o objectivo de distinguir os fazedores artísticos e culturais, sendo um gesto de reconhecimento do Estado pelo trabalho desenvolvido pelos artistas angolanos nas mais variadas formas de expressão artística.
Criado em 2000, sob Decreto Presidencial nº 31/00, de 30 de Junho de 2000, a edição passada teve como vencedores os artistas Fernando Alvim (Artes Visuais e Plásticas), Armando Rosa (Teatro), Jean Michel Mabeko Tali (Investigação e Ciências Humanas e Sociais), Agostinho Neto (Literatura), Geração 80 (Cinema e Audiovisual), Companhia de Dança Contemporânea da Zap (Dança) e Mário Rui Silva (Música)