No quadro do prosseguimento do projecto “A peça do mês”, o Museu Nacional de Antropologia, em mais uma das suas edições, apresenta o utensilio denominado “Terrina”, para a apreciação do público, patente nas suas instalações em Luanda.
A aludida peça a mostra na sala de exposições do museu é feita com madeira maciça, tingida de preto, de corte oval, com uma tampa encimada e duas aves.
A mesma tem a função de conservar alimentos, principalmente a iguaria nacional funje. Com a exposição desta peça, ressaltam alguns aspectos históricos, antropológicos e culturais dos Imbangala.
A origem deste povo, do subgrupo etnolinguístico Ambundo, é controversa e um tanto quanto complexa.
Actualmente pode-se encontrar os Imbangala na região Sul da província de Malanje, no Nordeste e Sudeste da Lunda Norte e a Sudoeste da Lunda Sul.
A sua história está intrinsecamente ligada aos Jagas, inicialmente, título que se dava aos chefes que não eram escolhidos por sucessão ou hereditariamente, mas por serem homens guerreiros muito valentes ou mais ferozes.
Historiadores e antropólogos sugerem que os Imbangalas ou Jagas terão penetrado ou invadido a região de Cassange nos séculos XVI e XVII, comandados por cinguri, um dos príncipes do reino Lunda. Depois da sua dispersão, por causa dos conflitos que surgiram naquele reino, deu-se assim lugar à formação do estado Imbangala.
Entretanto, se, por um lado, os Imbangala ou jagas contribuíram bastante para a luta de resistência colonial, com um regime da coligação por meio do casamento de um jaga com rainha Njinga, por outro lado também contribuíram bastante para o tráfico negreiro.
Porquanto, alguns fizeram alianças com os portugueses para capturarem escravos nos quilombos e posteriormente vendêlos aos lusos que embarcavam para as Américas e a Europa, contribuindo assim para o despovoamento do território, porque nesta acção eram capturados a força motriz das sociedades locais, que eram maioritariamente homens e mulheres jovens.
Nas artes
Os Imbangalas, além do seu estatuto de guerreiros, também apresentam várias manifestações artísticas: fabricam peças de olaria, têm a arte do trabalho com a madeira, com que produzem vários instrumentos como caixas de rapé, espingardas, almofarizes, canoas, bancos, terrinas e outros utensílios de uso doméstico. São praticantes de agricultura, pesca, caça, entre outras actividades.
Questão religiosa
Neste aspecto, ao observamos a peça, com a apresentação de duas aves, remete-nos à reflexão se não estaremos em presença de um símbolo zoolátrico, relacionado com a crença religiosa desse povo.
Nesta perspectiva considera-se importante proceder-se cada vez mais ao estudo aprofundado das colecções antropológicas.
Oprojecto
Este plano de periodicidade mensal tem como objectivo a divulgação das peças existentes, através da revisitação do acervo do museu, a fim de ser propagar na sociedade a sua importância como património cultural e nacional, função social, discrição, origem e cativar os cidadãos a visitarem o espaço.