Provenientes da cidade de Saint- Amand-Montrond, uma pequena comuna situada no centro da França, o casal encontra-se em solo angolano desde a primeira semana de Junho do corrente ano, após percorrer, com o seu camião-trailer, a vizinha República da Namíbia.
Jésus Sanchez, de 63 anos, e Véronique Sanchez, de 60 anos, casal reformado de uma empresa transformadora de madeira, decidiu embarcar numa aventura de dar a volta pelo mundo, conhecendo o maior número de países que for possível, ao trilharem pelos cinco continentes.
Com o seu camião devidamente equipado, Jésus e Véronique exploram as raridades paisagística que Angola oferece a quem se propõe a contemplá-la do Norte ao Sul e do Mar ao Leste.
Em declarações ao jornal OPAIS, o casal contou que entrou no território angolano, transpondo o postos fronteiriço de Santa Clara, na província do Cunene, com a República da Namíbia, com o propósito de contemplar a biodiversidade dos vários parques nacionais.
Após receber autorização formal, por via da validação do visto, começaram por explorar as paisagens naturais do Sul de Angola, passando por Ondjiva e Curoca (Cunene), Lubango (Huíla), onde atravessaram a magnífica estrada da Serra da Leba, com o objectivo de chegar até ao município do Tômbua, na vizinha província do Namibe.
“Nós viemos para África com o objectivo de ver os animais selvagens que lá no nosso país só vemos na televisão. Entramos em Angola pela fronteira de Santa Clara, porque viemos da Namíbia. Depois fomos ao Lubango e de seguida descemos até ao Namibe para visitar o deserto”, começou por descrever a trajectória, Jésus Herrero.
Visita ao Deserto do Namibe
No município do Tômbua, o casal teve o prazer de caminhar a pé e contemplar o deserto mais antigo do planeta, o deserto do Namibe, bem como apreciar de perto as raridades da famosa planta Welwitschia Mirabilis, uma espécie rara que só se encontra naquela localidade desértica, situada a Sul de Angola.
Ainda na província do Namibe, perto da fronteira marítima com a vizinha República da Namíbia, Jésus e Véronique ficaram fascinados ao apreciarem o cruzamento entre o deserto e o mar, dando lugar a uma paisagem irresistível aos olhos humanos e que ficará “eternizada” na memória do casal, segundo contam.
Desafiados pela imensidão de areia daquela região desértica, o casal teve de reforçar o camião com rodas apropriadas e correntes de reforço para conseguir ultrapassar, com menor dificuldade, os obstáculos que se impunham ao longo da empolgante viagem, saindo do Tômbua para a capital Moçâmedes.
Vila dos Pescadores
Na cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe, o casal visitou à Vila de Pescadores, uma aldeia habitada maioritariamente pelos “homens do mar”, situada no bairro do Saco- Mar, junto à orla marítima daquela província.
No humilde bairro, Jésus e Véronique aprenderam um pouco sobre a vida dos povos daquela região, seus rituais e vivências e, sobretudo, da sua culinária onde puderam degustar de “deliciosos pratos feitos à base dos frutos marinhos”.
Casas feitas de chapas de zinco, lençóis, cobertas e folhas de coqueiros era o cenário uniforme da maioria das residências que compunham aquele histórico bairro, que desperta a curiosidades de qualquer um que se propõe visitá-lo.
“É um bairro muito interessante, casas pequenitas, pessoas muito alegres e acolhedoras, sentimo-nos bem acolhidos e até provámos algumas comidas feitas de peixe do mar”, adiantou o turista, num português misturado com espanhol.
Encantos da Baía Farta
A partir do Namibe, avança Jésus, decidiram seguir pelo litoral, chegando à província de Benguela, onde também visitaram alguns pontos turísticos, com destaque para o município da Baía Farta, região fronteiriça entre as duas províncias do litoral de Angola.
Com praias tranquilas, límpidas e um clima tropical seco, com brisas regulares, o relevo costeiro da Baía Farta ofereceu ao visitantes uma recepção calorosa e aconchegante, capaz de cativar qualquer pessoa e a qualquer momento, conforme relataram.
Um ambiente calmo, sereno, repleto de diversidade paisagística, a Baía Farta proporciona inúmeras referências para quem deseja fazer turismo, com locais inesquecíveis e encantadores como a Enseada do Cuio, Baía dos Elefantes, Baía Azul e a Caota.
Com uma extensão de 6.744 km² de área e uma população estimada em 102.989 habitantes (de acordo com o censo populacional de 2014), a Baía Farta é dos municípios com mais atracção turística a nível da província de Benguela, tornando-se até no principal destino para muitos que decidem visitar aquela província do litoral.
Outros importantes locais atraentes para o turismo do município da Baía Farta são as salinas da Macaca, Calombolo e Chamume, situadas na considerada “Cidade do Sal”.
Parque Natural da Chimalavera
Mais ao Norte da capital, a 24 km da cidade de Benguela situa-se o Parque Regional da Chimalavera, um local que foi estabelecido como Reserva Especial em 1971, e em 1974 como Parque Natural Regional. Para quem deseja ver de perto a diversidade da fauna que Angola oferece, o Parque Natural da Chimalavera é, de certeza, uma ‘paragem obrigatória’.
A reserva natural de Chimalavera dispõe de infraestrutura de alojamento para visitantes e serviços de guia turístico. Com uma área de 150 km2, o parque é caracterizado por zonas montanhosas, com uma altitude variável entre os 50 e 265 metros.
Apesar da escassa vegetação, é possível observar plantas rasteiras e algumas árvores secas e espinhosas. O local oferece uma vasta diversidade da fauna onde pode se ver de perto animais selvagens como cabra de leque, macaco da savana, zebras, raposas, porcos- espinhos, cabras das pedras, veados, entre outros.
Vila Nova de Seles (Cuanza-Sul)
Depois de passar por Benguela, onde visitaram vários pontos turísticos, a caravana do casal francês chegou até à província do Cuanza-Sul, onde visitou, igualmente, vários pontos de referência turística.
Passando por essa província, Jésus e Véronique fizeram uma longa pausa na Vila Nova de Seles, onde ficaram fascinados não apenas com a recepção calorosa da população, mas também pela forma como estes viviam numa simplicidade encantadora, sem falar da união e solidariedade entre os mesmos.
Segundo conta o casal, a estrutura das casotas dos povos do Seles foi algo que mais despertou a sua atenção. As casas, conta Jésus, “eram muito pequenitas, feitas de barro e outras de pau-a-pique.
Gente muito alegre, sempre sorridente e muito acolhedora. Gostámos mui- to de conhecer aqueles povos e fizemos muitas fotos naquela zona”, expressou o turista, descendente de pai espanhol e mãe francesa. A viagem prosseguiu pelo litoral com destino à capital Luanda, onde o casal chegou na primeira quinzena do corrente mês de Julho, escolhendo a Ilha de Luanda como local predileto para se instalar.
Visita à Ilha do Mussulo
Em Luanda, como explicou o casal à reportagem do jornal OPAÍS, o principal propósito é visitar os principais pontos turísticos, com maior realce para a Ilha do Mussulo, local que o casal muito ouvia falar antes de cá chegar.
“Não fazia parte do nosso objectvo visitar Angola, nós estávamos a atravessar a Namíbia para chegar até ao Botswana, e nas redes sociais onde fazemos parte, nos nossos grupos de viajantes, ouvíamos muita gente a falar de Angola, de Luanda, então decidimos vir também constatar de perto o que esse país tem de bom para o turistas e aqui estamos”, disse.
O operário reformado sublinhou que o domínio da língua portuguesa, por meio do espanhol que é a segunda língua fluente, uma vez que é filho de um espanhol, foi também um dos factores que lhe motivou a “desviar” a rota para Angola, por sentir que não teria qualquer dificuldade em se comunicar com as pessoas.
Na capital do país, o casal francês teve o privilégio de visitar alguns pontos de referência como a Marginal de Luanda, a Fortaleza de São Miguel, a Baía, a Praça da República, o Largo 1º de Maio, entre outros. De acordo com o programa do casal, um dos locais previamente estudado para visitar foi a Ilha do Cabo.
Até à altura em que manteve o contacto com a nossa equipa de reportagem, o casal preparava-se para, dentro de dois dias, realizar a tão aguardada visita ao Mussulo, pequeno arquipélago que é uma das grandes referências turísticas da cidade capital.
Conhecer a ilha, conversar com os povos que nela habitam, fazer fotos, trocar impressões com as autoridades locais e tradicionais, saborear dos pratos típicos daquela região, com realce para o mufete e o caldo de garoupa, constavam entre as tarefas da agenda do casal partilhada com a nossa equipa de reportagem.
Uma vez que se encontravam, temporariamente, estacionados no Clube Naval de Luanda, à entrada da Ilha do Cabo, o casal não desperdiçou a oportunidade de aproveitar conhecer um pouco mais a cidade capital, caminhado pela praia, visitando lugares como o passeio dos artistas, a floresta, o ‘ponto final’ bem como degustar do famoso mufete da Chicala.
Dificuldades encontradas em Angola
Como em todo e qualquer processo de imigração, acompanhadas às venturas vêm também as dificuldades e limitações que, no caso de Angola, o casal conta ter enfrentado inúmeras para conseguir entrar em solo angolano.
Entre as inúmeras dificuldades atravessadas pelo casal ao entrar em Angola, a maior, segundo explicam, foi o excesso de burocracia para a concessão do visto de turista. Véronique e Jésus contam que quase desistiram da ideia de entrar em Angola devido às voltas que lhes eram dadas na altura de “carimbar” o visto na fronteira de Santa Clara.
“Uma das coisas que nos dificultou para entrar em Angola foi o visto. Nos estavam a dar muitas voltas para carimbarem o visto nos nossos passaportes, mesmo sabendo que eramos turistas estrangeiros com os documentos devidamente identificados. Foi muito difícil conseguir autorização para entrar e isso não é bom para um país que quer atrair turistas”, reparou Jésus, ao falar em nome do casal.
Falta de infra-estruturas para acolher turistas
Outro detalhe avançado pelo casal, apontado como desvantagem para a sua experiência em Angola é falta de infra-estruturas adequadas para acolher turistas, sobretudo nos pontos fronteiriços com outros países.
Jesus Herrero disse não ter encontrado locais adequados para os acolher, sublinhando que, caso não estivessem com o seu camião, correriam o risco de se hospedar em locais impróprios em residências de cidadãos de boa-fé.
A par da ausência de infra-estruturas capazes de fomentar o turismo, a falta de informação é outra grande “dor-de-cabeça” para quem decide visitar o país pela primeira vez de carro.
Ao que constatou o casal, não existem plataformas disponíveis capazes de dar informações reais e actualizadas sobre os pontos turísticos de Angola, locais de hospedagem ou serviços adequados que possam guiar o turista a partir do seu local de origem.
Dificuldade em pagar com divisas
Para um país que anseia atrair turistas, o processo de pagamento dos serviços e bens devia ser uma das coisas mais simples e rápidas a se efectuar. Em Angola, o cenário encontrado pelo casal francês foi o contrário.
O mesmo adiantou que teve inúmeras dificuldades para conseguir pagar os serviços com cartões de débitos (vulgo cartões multicaixa-visa) porque grande parte dos terminais de pagamento não reconhece pagamentos em moeda estrangeira.
Jésus e Véronique explicaram que não conseguiam retirar dinheiro nos ATM’s porque os seus cartões não estavam a ser reconhecidos. Eram obrigados a recorrer a casas de câmbio ou agentes “informais” para poderem trocar as divisas em moeda nacional (kwanza).
“Se Angola quer atrair turistas de outros países deve melhorar os seus serviços. Reduzir a burocracia, melhorar o sistema de pagamento, apostar no serviço digital a partir do telemóvel e deve criar infraestruturas boas para acolher os turistas”, recomendou o casal.
Uma volta pelo Mundo
Engajados na aventura de “dar uma volta pelo mundo” desde 2017, Jésus e Véronique contam que atravessaram mais de 20 países pelos diferentes continentes, usando o seu próprio camião, que, além de meio de transporte, é também a residência do casal durante às viagens.
Devidamente equipado, o camião é constituído de um trailer com compartimentos de um quarto, com disponibilidade de serviços para a satisfação das necessidades básicas. De cor amarela, o camião é suportado por equipamentos electrónicos e mecânicos capazes de atender às necessidades dos usuários.
No seu interior, o trailer é composto por um quarto suite, uma mini-cozinha com um pequeno balcão adaptado, banheiro, uma cama para, pelo menos duas a três pessoas, pequenos aposentos e uma mesa improvisada para as refeições.
Com o seu camião, o casal conta que já atravessou países como Espanha, Brasil, Uruguai, México, Colômbia, Argentina, Paraguai, República Dominicana, EUA, Canadá, Marrocos, África do Sul, Namíbia, Tanzânia, Mauritânia e tantos outros.