Com um especialíssimo leque de actividades, a anunciar, vai culminar com o lançamento do seu mais recente trabalho disco- gráfico, ainda sem título, cuja produção está a cargo da Chicote Produções, do Dj Mania. O álbum vai comportar 12 faixas musicais e está a ser preparado ao pormenor para poder agradar a gregos e troianos, segundo os autores.
Para o gáudio dos fãs, o novo trabalho juntará temas inéditos e antigos sucessos com uma nova roupagem. A formação que está em Estúdio, a efectuar os últimos acertos para a apresentação do novo trabalho, tranquilizou os fãs prometendo para o gáudio de todos proporcionar sonoridades que foram sendo produzidas e seleccionadas ao longo dos últimos anos.
Hildebrando de Jesus, o guitarrista e director artístico da referida formação, em conversa com OPAÍS, garantiu que tudo está a ser feito para que o disco cheque ao público no momento certo e com a qualidade desejada que sempre os caracterizou.
Ao fazer uma breve incursão no tempo, Brando, que por sinal faz parte da Segunda Geração de músicos deste Conjunto, recordou os seus primeiros integrantes, destacando a sua perfeição, empenho e dedicação em prol da qualidade dos trabalhos, o respeito a todos os preceitos, em prol da preservação e divulgação da nossa Cultura além- fronteiras.
Preservação
Hoje, na Quarta Geração de músicos, Brando admite que Os Kiezos continuam com a mesma dinâmica e a força anímica de sempre, e com hombridade vai passando aos novos integrantes a experiência granjeada ao longo do percurso, da forma eloquente, por meio das suas composições, gravações e execução. Referiu que os elementos novos que vão entrando para o referido Conjunto são desafiados a ouvir o espólio dos Kiezos, e seguir as regras para que estejam dentro da matéria.
“Todos os elementos novos que vão entrando para Os Kiezos são obrigados a ouvir o seu próprio espólio, seguindo as regras para estarem dentro da matéria”, realçou Brando, sublinhando que a referida formação artística, hoje, tornou-se uma escola de referência para muitos.
O músico salientou que esta formacão artística gosta de tocar e sente- se feliz por brindar o público, interagindo com as suas mensagens em composições. “Nós gostamos de tocar, sentimo- nos felizes quando o fazemos. Daí o nosso lema, `Os Kiezos Não Param”, sustentou Brando.
Por essa razão, recordou, é notória a partir dos jovens artistas, a vontade demonstrada em aprender cada vez mais, em matéria de música, particularmente o Semba. “Vimos muitos jovens interessados em aprender a tocar e a cantar correctamente o Semba, o que já é muito bom e vamos apoiá-los nesta intenção”, disse.
Balanço
Convidado a balancear o longo percurso que marcará dentro de alguns dias a celebração dos 59 anos de existência do Conjunto, Hildebrando de Jesus, considerou que é uma extensa caminha- da marcada por bons e maus momentos, mas apesar de tudo tem sido possível cumprir as agendas e compromissos.
“A trajectória dos Kiezos é longa, porque durante esse tempo haviam muitas actividades, muitas gravações e muitas viagens pelo mundo fora. Por isso, os 59 anos dos Kiezos são feitos de memórias e são muitas”, disse Brando de Jesus, acrescentando que quando entrou para Os Kiezos encontrou a maior parte dos fundadores desta for- mação, entre eles, Kituxi, Marito, Avozinho e Adolfo Coelho.
O músico adiantou que, mais tarde entrou para o conjunto o Juventino, Beto Costa e tantos outros, nos idos anos 80. Dentro dessa Primeira Geração, segundo Brando, foram entrando e saindo elementos, uns ficavam seis meses, outros mais, e tudo isso devido ao tempo e a sua idade.
Brando recorda que, com o passar do tempo, alguns integrantes desta formação foram saindo para cumprir o serviço militar e outros, de preferência, optaram por tocar noutras bandas e conjuntos. Mas ainda assim, acrescentou, “Os Kiezos sempre conservaram e ainda conservam a sua base que é o Semba, uma música da região de Luanda cantada na língua Kimbundu, independentemente de interpretar outras músicas, mas a base é mesmo o Semba”, justificou.
Discografia
O Conjunto tem gravados, desde a era colonial, mais de 20 Vinis, 3 LP, já depois da independência, mas também em Vinil. Conta actualmente com 4 CD’s, em vias de apresentação pública, o quinto pela Chicote Produções, de Dj Mania. “Temos também agora na forja o quinto que está para sair. Isso não é segredo, está no estúdio”, disse.
Trajectória
Este icônico Conjunto deu início às actividades musicais nos anos 60, como grupo anónimo. Muito antes de se revelar ao público extraía sons de instrumentos artesanais e, tão cedo, foi crescendo até tomar for- ma eficiente.
A sua história remonta ao ano de 1963, no bairro Marçal, quando Domingos António Miguel da Silva (Kituxe) decide reunir Marito, Adolfo Coelho e Avozinho para formar o Conjunto. Com Domingos António Miguel da Silva (Kituxe) no comando, Aristófanes da Rosa Coelho (Adolfo Coelho), Tininho e Anselmo de Sousa Arcanjo (Marito), a formação já com a denominação de Kiezos, teve a oportunidade de realizar o seu primeiro grande show num dos locais mais importantes da época, o Ngola Cine.
Em 1970, Os Kiezos gravaram o seu primeiro single na Rádio Nacional de Angola, então conhecida como Voz de Angola. Nessa altura juntaram-se à banda Anselmo de Sousa Arcanjo (Juventino), Jorge Pasteur, José da Costa (Vate Costa) e Fausto Lemos. A denominação “Kiezos” é uma expressão em língua Kimbundu, que em português significa “Vassoura”. Daí o baptismo do Conjunto por “Kiezos”, que perdura até aos nossos dias.
Os Kiezos têm uma grande relevância histórica na complexa tessitura social da Música Popular Angolana. Alguns dos famosos temas a eles associados, incluem “Comboio”, “Milhoró”, “Princesa Rita”, “Zá Boba”, “Tristezas não pagam dívidas”, “Monami” e “Nganga Nzambi”.
Persistência
O Conjunto com o desafiante slogan ”Os Kiezos não param”, uma frase construída por altura da criação desta formação artística, continua a perpetuar esta ideia que prevalece em cada um dos seus integrantes, e vai também passando para as novas gerações que a vão integrando com o tempo.
Com uma forte tradição no que é a preservação e valorização da nossa Cultura, por via da música, Os Kiezos têm o foco das suas canções no quotidiano social: alegrias, paixões, angústias, apelo e muito mais.
Pela sua persistência, este lendário Conjunto foi no passado alvo de perseguições impiedosas por parte do poder colonial devido ao conteúdo das suas canções, que muitas vezes serviam de alerta para os nossos compatriotas marginalizados e uma piada para os colonos portugueses.
Mesmo no meio de tanta agitação, raptos e torturas no seio da população da época, Os Kiezos não se deixaram intimidar e com as atenções centradas no seu dia-dia lançaram o tema “Milhorrô”, que apesar de contagiante levou alguns integrantes à prisão. Entre os elementos presos naquela altura pela PIDE DGS, constava Beto Costa, o vocalista do tema “Milhoró”, durante três meses.
Esta música, que por sinal deu uma reviravolta no cenário sócio-político daquela época, foi escrita em 1961 aquando do ataque desencadeado por compatriotas angolanos às cadeias coloniais, dando assim início à Luta de Libertação Nacional. “As composições dos Kiezos eram feitas em Kimbundu, e naquela altura os colonos proibiam cantar em língua materna, uma vez que estes não entendiam nada do que estava a ser cantado e agitavam-se”, contou.
Momentos relevantes
Já no que aos momentos mais marcantes do Conjunto se refere, Hildebrando de Jesus destacou a Grande Tournée Internacional realizada pelos diferentes países da Europa, dos quais Alemanha, França, Bélgica, Itália, entre outros, onde a formação teve a primazia de mostrar durante os concertos a riqueza cultural de Angola, através da música, durante 90 dias.
Já no país, os concertos foram-se somando e seguindo pelas diferentes províncias, culminando igualmente com a gravação de alguns sucessos. “Esta digressão correu muito bem. Conseguimos gravar um disco, só que este disco não saiu devido a problemas na edição. Mas dizem que está lá até hoje”, apontou. Quanto aos espectáculos, adiantou que a formação está bem e, dentro de alguns dias, vai iniciar uma tournée.
Projectos
Hildebrando de Jesus, questionado ainda quanto aos projectos em carteira, para os próximos tempos, afirmou que a par do disco que está a ser gravado, a maior intenção do Conjunto é a criação de uma Sede Oficial, uma vez que se têm servido do Centro Recreativo e Cultural Kilamba, ex-Maria das Esquerequenhas, no Distrito Urbano do Rangel.
“Esta é a nossa luta maior, a aquisição de imóvel para servir de sede para os Kiezos. “Nós gostamos de tocar, sentimo-nos felizes. Daí o nosso lema, `Os Kiezos Não Param”, justificou. Indagado sobre o Estado actual da Música Angolana, Brando, referiu que é boa, não obstante alguns imprevistos.