A organização tem proporcionado momentos ímpares para aqueles que a curiosidade os impele a aproximar-sedo local onde é, regularmente, instalado o projecto. Com o livro em mãos, permitem que o autor fale por via da escrita.
Semanalmente, isto aos sábados, a biblioteca comunitária tem sido montada na parte lateral do Museu Nacional de Arqueologia, que dá para o Gabinete dos Deputados para o Círculo Provincial de Benguela, à praia Morena.
Para onde convergem os caminhos de académicos, membros da sociedade civil e não só. O jovem promotor esclarece que, ultimamente, vêm debatendo-se com a escassez de livros, e a organização manifesta-se incapaz para os comprar, porém sinaliza algumas doações de profissionais da área, com o escritor Pepetela a capitanear as atenções, para além de patrocínio financeiro da Culture Of Resistance, que tem à testa Lara Lee.
Jorge explica, apenas para ilustrar, que o projecto surge inspirado por um outro, desta feita, na capital do país, onde um grupo de jovens proporciona ambiente do género debaixo de uma pedonal.
Em tese, aquela é uma espécie de «biblioteca despadronizada» – ressalta. Em 2020, estando-se em pleno período da pandemia da COVID-19, a coordenadora da organização, Maria Alexandre Dias, pensou na possibilidade de se replicar o projecto de Luanda em Benguela. Desta feita, lançaramse ao desafio e criaram uma biblioteca comunitária e, em 2022, eis que o projecto foi materializado.
“Constituímos um grupo, partilhámos a ideia com muitas pessoas. No princípio estávamos 20/15 pessoas e o número foi reduzindo”, recorda o jovem estudante de comunicação social, ao sinalizar que o projecto surge com raízes e objectivos muito próprios, distante de uma «cópia daquilo que é feito em Luanda.
Tanto que o nome que decidimos dar, “Onjango Literário”, nos remete mesmo ao espaço tradicional em que os mais-velhos inculcam aos mais jovens valores e saberes”, esclarece.
Como qualquer projecto, inicialmente, houve uma dose de timidez. Mas, algumas, sempre que se fizessem à praia Morena, os seus caminhos iam dar àquele espaço de leitura, e, à medida que o tempo foi passando, os cidadãos familiarizaram-se com o projecto, e Pimentel nunca tinha projectado assim tanta adesão como ocorre nos dias de hoje.
“Nós começamos por uma campanha de angariação de livros. Obviamente que não tínhamos capital próprio para adquirir tantos livros para montar uma biblioteca”, acaba por se justificar o jovem, ao salientar que lhe marcou o facto de uma senhora, residente no município do Lobito, ter decidido doar para o projecto um conjunto de livros que era de sua mãe, uma antiga professora.
“Acabamos por ter muitas visitas. São pessoas que vão passando por aquela rua, vão à praia Morena e que se apercebem do projecto, sentam e lêem algum livro”, observa com satisfação o jovem.
Visitas
Dada à escassez de bibliografia em grande parte de escolas, alguns estudantes têm visto na biblioteca comunitária o espaço para as suas pesquisas académicas, dado que o projecto tem oferecido uma diversidade de géneros literários.
Do romance à poesia, passando pelo infantil e vai desembocar em conteúdos com um pendor científico bastante acentuado. Ir à praia Morena, principalmente aos sábados, tem sido a desculpa para muitos jovens darem uma «espreitadela» à biblioteca.
Em virtude da procura a que Jorge Pimentel tem assistido, a conclusão objectiva a que chega é a de que a juventude gosta, sim, senhor, de ler, desmistificando, deste modo, aquela velha crítica de algum segmento que aponta para «alguma preguiça generalizada», tal é a força, hoje, das redes sociais.
Faltam livros
Entretanto, o jovem promotor sustenta, como quem quisesse acenar para as entidades de direito, que estarão a faltar livros à disposição deles. “A juventude lê. Pelo que nós temos visto, têm uma ânsia por leitura.
Os livros são muito caros”, dispara. “Lembro (de ter recebido) da livraria Texto Editores como doação, em 2022. Fizeram chegar alguns livros infantis”, acrescenta.
Na conversa com o jornal OPAÍS, destacou, igualmente, sem se referir a nomes, o gesto de alguns escritores que, apercebendo-se da existência do projecto, não se têm coibido e procedido a doações tanto de obras de sua autoria e como aquelas que são parte de arsenal pessoal.
Ele defende, neste particular, a necessidade de se promover acções tendentes à massificação da leitura e o Pimentel pensa que o Estado deve cá assumir um papel relevante nesse quesito.
“Faltam mais bibliotecas, sobretudo escolares. Nós passamos grande parte da nossa vida em ambientes escolares. Seria muito bom preenchermos esse tempo também com algumas leituras”, observa.
Um olhar à cultura em 2025
Para 2025, o projecto «Onjango Literário» tem uma série de acções previamente definidas, as quais considera desafios e projectos, sendo certo que a funcionalidade e a vitalidade do projecto estão no topo da pirâmide das prioridades.
O secretário para as relações públicas do projecto «Onjango Literário», Jorge Pimentel, admite que, no ano passado, se confrontaram com uma série de dificuldades, sobretudo de ordem logística, levando a que, em muitos casos, não tivessem aberto ao público.
“Queremos abrir a biblioteca. Queremos também dinamizar um projecto, que é Okutanga, cujo objectivo é levar o projecto às escolas de Benguela”, projecta.
O responsável diz haver, também, um outro projecto em carteira, que é a «Oficina Cultural»”. O aludido projecto vai consistir na promoção de debates com um mais-velho com idoneidade comprovada, culturalmente falando, para transmitir valores à nova geração.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela