O historiador Tiago Caungo, que será orador de uma palestra subordinada ao tema, “O lugar de Ohamba Mandume Ya Ndemufayo no quadro da resistência angolana”, revelou em entrevista exclusiva a OPAÍS, que o soberano dos Kwanyma teve uma morte heróica, apesar do suicídio
A iniciativa que vai juntar académicos e demais público interessado terá lugar no Arquivo Nacional de Angola, nesta Quarta-feira, 8, a partir das 10 horas, numa parceria entre esta instituição e a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Metodista de Angola.
A palestra tem como mote o 106º aniversário da morte de Ohamba Mandume Ya Ndemufayo, assinalado nesta Segunda-feira, 6.
Em declarações ao jornal OPAÍS, o prelector reiterou que a figura de Mandume deve ser vista em várias dimensões dado o seu posicionamento para a história de Angola.
Desse modo, o “rei dos Kwanyama” para o académico, é caracterizado como sendo um patriota destemido, que pela integridade territorial e a liberdade do seu povo, foi capaz de doar-se às causas mais profundas deste mesmo povo, incluindo a sua vida.
“Mandume teve uma morte heróica, porquanto, quando percebeu que tanto do ponto de vista logístico, e no teatro das operações militares já não podia avançar, orientou que a sua tropa que já havia reduzido, fosse para outra aérea e ele daí cometeu o suicídio”, revelou o historiador.
Adiantou no entanto, que Mandume deve ser para as novas gerações uma referência, cujo legado está acima da média, devendo estimular a juventude sobre os valores do patriotismo, a honestidade, assim como o comprometimento com as causas mais profundas de Angola.
Patriotismo
O patriotismo é um legado histórico, pois com poucos recursos, Ohamba Mandume venceu algumas batalhas diante do exército português coligado com o exército inglês.
No entanto, trata-se de um indivíduo que não pode ser apenas apresentado como um patriota, mas acima de tudo, um zelador de todo um legado cultural do seu povo.
“Ele entendia que o seu território, a sua gente, os seus valores idiossincráticos não podiam ser negociados.
Não estamos a falar apenas de patriotismo, mas da dimensão cultural, inclusive da questão política, económica. São muitas dimensões em que pode ser descrito Ohamba Mandume”, destacou o nosso interlocutor.
Imagem de pugilista americano Se por um lado, a imagem de um homem viril, sarado, corpulento foi dada a conhecer como sendo a do rei Mandume, embora não verdadeira, por outro lado, de acordo com o historiador ela espelha a robustez, a bravura e o lado destemido do que era o soberano dos Kwanyama. “Em bom rigor ela se enquadra, mas não é a imagem verdadeira do rei.
Ele foi um indivíduo alto, esbelto, imberbe, mas que era muito disciplinado e comprometido com as causas do seu povo.
Daí que por falta de informação da antropóloga foi induzida em erro, publicando aquela imagem que é a de um pugilista norte-americano”, mencionou Tiago Caungo.
Divulgação constante da imagem
Por essa razão, defende o historiador que a imagem real de Ohamba Mandume Ya Ndemufayo deve continuar a ser divulgada nos vários cenários possíveis incluindo na cadeia de ensino do primário ao ensino superior, pois há ainda um grande número de pessoas que desconhece a imagem real de Mandume. “Infelizmente, estas informações não passam em todos os locais.
Deve haver um esforço de divulgação por meio do vosso jornal, por exemplo, de palestras em escolas do ensino primário, secundário, técnico-profissional, inclusive em universidade.
Porque há cursos de licenciatura que não têm o privilégio de ter História de Angola como disciplina”, defendeu o professor.
Para si, a imagem verdadeira de Mandume continua a ser desconhecida ainda por muitos. Daí a necessidade em abordar sobre o mesmo, não como sendo, um não assunto, pois estarse-ía a minimizar um conhecimento difundido pela primeira vez em 1974, como imagem de capa do livro da antropóloga portuguesa Maria Helena Lima.