Dana Shutz, Gauri Gill, Yayoi Kusama e Nan Goldin são algumas das artistas em destaque neste museu a 35 quilómetros de Copenhag
Cerca de 35 quilómetros a norte de Copenhaga, que se fazem facilmente de comboio, o Louisiana Museum of Modern Art foi fundado por Knud W. Jensen (1916- 2000), nascido no seio de uma família abastada que se dedicava à distribuição alimentar, em particular, de queijos.
O museu abriu em 1958 e foi a grande obra do seu fundador, um extraordinário colecionador de arte.
Situa-se às margens do Báltico, fazendo-nos acreditar que não haverá melhor jardim para colocar obras de Alexander Calder (1898-1976) e de todos os outros artistas que povoam o jardim.
O edifício organiza-se acima e abaixo da cota do terreno, sendo possível percorrer a planta toda pelo interior.
Além de uma coleção, feita de grandes núcleos onde se incluem o dinamarquês Asger Jorn (1914-1973) ou o suíço Alberto Giacometti (1901-1966), reforçando o gosto do colecionador pelo grotesco e pelos expressionismos, este museu apresenta excelentes exposições temporárias.
Por estes dias, está patente a individual “Between Us” (“Entre nós”) da americana Dana Schutz (n.1976).
O macabro, o grotesco, o absurdo e o cómico fundemse nas obras desta artista, uma das grandes pintoras figurativas de nosso tempo.
Schutz é uma eminente contadora de histórias, retratando pessoas e relacionamentos humanos em composições complexas, muitas vezes gigantescas, que, simultaneamente, nos perturbam e fascinam.
Os grandes óleos sobre tela, bem como os desenhos e as esculturas, recriam também as inquietações da artista sobre o mundo que a rodeia, que nos rodeia, sendo inevitável que nos recordemos da inesgotável Paula Rego (PT, 1935- 2022), que inaugurou o gosto pelo quotidiano grotesco, pelo íntimotrágico, que também é marca da extraordinária produção de Dana Schutz.
A interminável sucessão de salas do Louisiana Museum of Modern Art leva-nos, ainda, até à exposição individual “Acts of Resistance and Repair” (“Atos de Resistência e Reparação”) da fotógrafa indiana Gauri Gill (n.1970) que explora a vida e o quotidiano na Índia rural, há mais de duas décadas.
Em imagens que nos sugerem um tempo de silêncio, simultaneamente, complexas na composição e poéticas na forma como captam as expressões humanas, Gill persegue uma variedade de estratégias pictóricas, focando segmentos marginais da sociedade, incompreendidos, com especial destaque para os pertencentes aos centros urbanos em rápido desenvolvimento, colocando a tónica na fervorosa expansão da Índia e nas desigualdades que o fenómeno acentua.
O trabalho de Gauri Gill, aqui quase em retrospetiva, considerando que se reúnem diferentes séries, é comovente, denso e de uma qualidade assinalável.
Além das, também individuais, do americano Richard Prince (n.1949) e do georgiano Niko Pirosmani (1862-1918), entre as obras da coleção em exposição permanente, merecem destaque a instalação de luz da famosa japonesa Yayoi Kusama (n.1929) e a mais recente obra da americana Nan Goldin (n.1953).
Em “Memory Lost” (2019-2021), Goldin reúne um conjunto de slides de cerca de 700 imagens recolhidas em festas e ambientes boémios em diversas cidades, onde domina o consumo de drogas, que associa a outras de paisagens difusas.
As imagens têm uma paisagem sonora com música e chamadas telefónicas feitas entre as “personagens”, em que fica clara a ideia de alheamento, solidão provocada pelo consumo.
Goldin cria esta obra depois de ela própria ter vivido uma experiência de adição em opiáceos e de ter criado a associação P.A.I.N.
que tem procurado denunciar a indústria farmacêutica por viciar americanos em substâncias, supostamente legais, depois de já serem conhecidos os seus efeitos nefastos.