A luta contra o racismo e as várias formas de discriminação que tem vitimado comunidades negras em vários países africanos, em particular, e na comunidade portuguesa, é o assunto destacado no novo livro da escritora e jornalista da TVI e CNN Portugal, Conceição Queiroz.
Intitulado “Racismo – Meio Século de Força”, reúne depoimentos de centenas de pessoas que já foram vítimas, directa e indirectamente, de racismo, com o objectivo de denunciar as consequências diárias de uma prática enraizada, disfarçadamente na sociedade portuguesa.
Para a autora, trata-se de um livro cru e duro, que aborda a situação de forma transparente e sem rodeios, trazendo à tona a realidade que tem afectado milhares de cidadãos, sobretudo imigrantes africanos, diariamente.
Neste que é o quinto livro de sua autoria, sendo o primeiro também sobre racismo, Conceição Queiroz sublinha que evitou o registo “mais académico”, optando por uma linguagem mais simples e corrente para criar uma obra “que qualquer pessoa pudesse ler”, por se tratar de um assunto que a todos diz respeito.
Questionada sobre as motivações que lhe levaram a escrever uma obra sobre este fenómeno, a autora contou que o “desafio” surgiu, inicialmente, da parte de uma grande editora, na sequência de uma série de reportagens que assinou na CNN Portugal.
Por alguns momentos, explicou, ainda hesitou em aceitar, por haver “tanta coisa no mercado que ninguém lê”, mas, motivado pelo feedback que foi recebendo dos telespectadores e leitores da CNN, abraçou o convite.
Entretanto, a maior surpresa veio dias depois, quando recebeu um telefonema a informar-lhe que a referida editora já não tinha interesse no trabalho.
“Esta é a primeira rejeição.” Motivada a dar continuidade, Conceição Queiroz decidiu avançar com a obra e, quando tinha apenas alguns parágrafos escritos, procurou uma outra editora, que também se mostrou indisponível.
O “sim” surgiu na quarta tentativa, com o livro já praticamente terminado. “Isto para dizer que, em relação aos quatro livros anteriores que escrevi, não me deparei com qualquer problema.
Aliás, tinha várias editoras atrás de mim. Eram as editoras que me procuravam. Porque as temáticas eram diferentes”, adiantou.
Há ainda uma “abordagem pendente”
Segundo explicou a autora, há ainda uma abordagem mais profunda e sensível por discutir, que tem a ver com “o racismo intelectual”.
De acordo com a autora, que recorre aos testemunhos que recolheu durante a elaboração da obra, as pessoas queixam-se mais de racismo nos locais de trabalho.
Afirma que é no local do trabalho que as pessoas mais sentem o chamado “racismo intelectual”. “Muitas vezes tens uma produção intelectual interessante, mas és posto de parte, e vão promover a mediocridade. Tens colegas medíocres que são colocados numa situação de privilégio, e és descartada”, apontou.
Ao terminar as declarações, a escritora rematou: “As pessoas brancas não perdoam a ascensão social de uma pessoa negra. Enquanto jornalista, esse é o meu papel, é descodificar de alguma maneira.
É trazer o debate para cima da mesa e deixar luzes”, afirmou a autora, em entrevista ao site cultural Bantumen.