“Luyindwilu Lwa Ntotila – Memorial Mvita a Nkanga” é o título da mais recente exposição do artista plástico, crítico de arte e curador Nefwani Júnior, patente na Galeria da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP).
A colecção, cuja preparação durou 30 dias, reúne elementos visuais em pintura, instalação, performance e happening, encerrando o ciclo expositivo realizado, no âmbito do Festival Ntwala Oh Yeah.
A mostra conta com a curadoria do artista Lubanzadyo e assistência de Kindala. Segundo apurou o jornal OPAÍS, trata-se de um trabalho do qual Nefwani Júnior procura aliar o nosso passado histórico à sua produção artística, buscando um tema relacionado à história dos nossos ancestrais, às resistências à invasão das suas terras, às grandes batalhas enfrentadas, ao legado de resistência, às ideias de autodeterminação dos povos, e soberania, de acordo com a ordem ancestral.
“É uma contextualização histórica sobre os nossos povos, a espiritualidade, os lugares, os momentos e acontecimentos que o artista decidiu partilhar com o público naquele espaço expositivo”, descreve o autor em declarações ao jornal OPAÍS.
Nefwani Júnior salientou que, nesta viagem, realizada até ao ano 1661, encontrou um Ntotila, Mwene Ntinu, ou Mfumu no Império Bakongo, edilidade que, à semelhança do seu antecessor, teve como foco a expulsão dos invasores portugueses e missionários (que alega que inicialmente estiveram disfarçados de amigos) na Região Kongo.
“Liguei mais uma vez a minha máquina do tempo e parti para mais uma viagem contra o relógio, em visita aos meus Bankulu (antepassados), através do nosso passado histórico”, sustentou.
Regresso a 1620
O artista recordou que, desde 1620, Kongo e Portugal estiveram em constante estado de guerra, com intervalos ocorrendo após vitórias dos Bakongo.
Quanto à ideia da criação de transportar esta ilustre figura histórica para esta exposição, Nefwani Júnior referiu que se socorreu a uma pesquisa na internet, lendo vários artigos sobre os reis do Kongo e as batalhas por eles enfrentadas, “visualizando várias”, de igual modo as gravuras antigas sobre o Kongo.
Nefwani explicou que o processo criativo desta exposição o levou também a uma consulta de livros, tendo, a partir daí, iniciado a recriação das informações seleccionadas.
O artista salientou que, para o processo de produção para materialização das obras, usou a combinação de vários materiais, como papel ou cartão ondulado, tecidos, nzimbo (concha), tinta de óleo, tinta acrílica, cola branca, cola patex, metais, resinas, madeira, objectos diversos, e outros.
“Foi muito bom eu ter conseguido despertar o interesse do público no tema que muitos desconheciam, e conversamos bastante sobre as obras apresentadas”, justificou.
Victórias militares depois de quase 30 anos de declínio
O artista recordou igualmente que, após quase 30 anos de declínio, face às vitórias militares Bakongo, Mbundu e holandesas, os “invasores portugueses retomaram a sua posse colonial em Luanda”.
Questionado quanto ao impacto desta colecção no seio dos estudantes e apreciadores das Artes Visuais, Nefwani disse que a obra está a despertar a atenção dos visitantes pela história que encerra e pela forma como foi concebida.
Nefwani realçou que, como artista, esta foi a sua primeira apresentação do ano e, como curador e produtor, trabalhou na exposição do artista Maiomina Vua e no Mbangu a Kileke OPEN STUDIO.
“Aceitei o desafio e comecei logo a trabalhar tanto na ideia, como na materialização da obra. Senti a valorização do meu trabalho e sinto-me ainda melhor por ter conseguido apresentar a exposição seguindo a programação do festival, que foi mesmo um grande desafio para mim desde que recebi a confirmação da aceitação da minha candidatura”, sublinhou Nefwani.
O artista admitiu que, na altura em que concebia as obras, percebeu que ninguém conseguia entender o tipo de trabalho que estava a fazer, incluindo o pessoal da produção do festival e, só mais tarde, foi entrando dentro do assunto e, assim, calmamente, iniciouse a performance com alguns minutos em silêncio total em memória ao Ntotila Mvita a Nkanga.
“No princípio, percebi que ninguém conseguia entender o que eu estava fazer, mesmo o pessoal da produção do festival.
Só mais tarde, foram entrando dentro do assunto e, calmamente, comecei a performance com alguns minutos em silêncio total em memória ao Ntotila Mvita a Nkanga”, salientou.