A primeira edição do festival de música “Luanda Morna Fest”, ocorrido no último fim-de-semana (02 e 03), no Shopping For- taleza, em Luanda, serviu de reforço para o estreitamento dos laços entre os músi- cos cabo-verdianos e o público que acorreu àquele local para par- ticipar no evento
Com o espectáculo a arrancar bem perto das 20h00, nove artistas cabo-verdianos e duas angolanas marcaram presença na edição de estreia do festival que visa celebrar o dia internacional da Morna (assinalado a 3 de Dezembro), num evento repleto de música, exposição artística, gastronomia e moda promovido pela embaixada de Cabo-Verde em Angola, em parceria com o Projecto Resiliart Angola.
A abrir o espectáculo, a cantora angolana Margareth do Rosário fez as honras da casa, interpretando temas marcantes de autoria das grandes referências mundiais da morna, como Cesária Évora, tida como a “Rainha da Morna”, Adriano Gonçalves, o ‘grande Bana’, Ildo Lobo, Titina Rodrigues, entre outros.
Em palco, os músicos cabo-verdianos como Lucibela, Manel d’Candinho, Kátia Semedo Fábio Ramos, e tantos brindaram o público angolano com as suas canções que contagiaram aquela moldura humana que se fez presente naquele recinto, deixando-os eufóricos e nostálgicos ao interpretaram os temas que marcaram a ascensão da morna pelo mundo.
Interpretando temas como “Sodad”, da icónica Cesária Évora, “Nôs Morna” de Manuel de Novas, “Lamento d’ um emigrante”, do grande Bana, “Terra Longe”, de Maria Alice, e tantos outros, deixaram o público nostálgico, levando alguns a não conterem as lágrimas de um misto de saudades, alegria e euforia.
Uma outra angolana que também marcou o espectáculo com a sua potente voz foi a artista de Jazz, Anabela Aya, que brindou o público com alguns temas da sua autoria e interpretou alguns clássicos da morna.
Tito Paris, que celebrou recentemente 40 anos de carreira com um concerto em Lisboa, foi o artista escolhido para encerrar o espectáculo que marca o início das celebrações da Morna em Angola.
Deixando o público “electrizado” o conceituado artista cabo-verdiano interpretou alguns sucessos da morna e temas da sua autoria como de grandes sucessos como “Dança ma mi criola”, “Preto é mi”, “Mar di Ilheu”, “Ser Mas Cretchêu”, “Cidade Velha” e outros.
Recepção calorosa
Em declarações ao jornal OPAÍS, os artistas cabo-verdianos afirmaram terem sido bem acolhidos pelo público angolano e pelas entidades governamentais, com uma recepção que os mesmos consideraram calorosa e acolhedora que os fez sentirem-se em casa.
Kátia Semedo, artista promissora de Cabo-Verde que está em Angola pela primeira vez, afirmou ter sido recebida de “braços abertos” pelo público angolano, e considerou ser uma excelente oportunidade para a internacionalização da sua carreira a nível do mercado lusófono.
“É, sem sombra de dúvidas, uma boa oportunidade, especialmente porque há cinco meses lancei o meu primeiro álbum, então estar aqui em Angola é oportuno para eu divulgar cada vez mais o meu trabalho”, disse.
De visita, pela primeira, a Angola também está o cantor Fábio Ramos que, numa primeira fase mostrouse tímido para encarar o público, mas rapidamente tomou a posição e brindou a multidão com os seus temas, num misto de kizomba e zouk tipicamente cabo-verdiano.
Habituada a cantar para o público angolano, a cantora Lucibela não escondeu a satisfação em, mais uma vez, poder subir a um palco, em Luanda, e partilhar com os seus fãs e amantes do seu trabalho as suas canções, sublinhando que continua sendo uma honra cantar para aquele público que a mesma considera maravilhoso e acolhedor.
“Não podia deixar de estar feliz em poder voltar a cantar para o público angolano, sei que há também aqui uma grande comunidade cabo-verdiana que aprecia o nosso trabalho, sei também que os angolanos apreciam as nossas músicas, então é uma honra enorme poder mostrar o meu trabalho a este público maravilhoso”, expressou.
Homenagem a Sara Tavares
Os dois dias de espectáculo ficaram marcados com a sessão de homenagem a Sara Tavares, cantora luso-cabo-verdiana falecida no passado dia 19 de Novembro, aos 42 anos, vítima de câncer, em Lisboa, Portugal.
Interpretações das suas canções, leitura da sua biografia e exibição de vídeo sobre a sua trajectória artística assinalaram a sessão de homenagem, ficando ainda marcado com mensagens honrosas e minuto de silêncio que reflectiam um gesto de respeito e apreço à memória daquela que era considerada por muitos artistas como “a menina da luz” na música da lusofonia.
Acompanharam o festival figuras entre entidades governamentais e diplomáticas, com destaque para o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, a ministra de Estado para Área Social, Dalva Ringote Allen, o embaixador de CaboVerde em Angola, Júlio Morais e o director do Resiliart Angola, Marcos Agostinho.
Estiveram ainda presentes músicos, artistas plásticos, agentes culturais, empresários, promotores de eventos, activistas sociais e membros de diversas organizações da sociedade civil e cultural de Angola e de Cabo-Verde.