Depois de “Poleffesolê” (novela, 2205) e “Materna” (poesia, 2009), “Mu a nga n a” é a nova obra literária de Sá Kandumba a ser lançada brevemente no mercado.
O uso da palavra literária em Sá Kandumba, pseudónimo literário de Pedro F. Lukoki, cuida de processos endógenos que reportam tradições, comportamentos e histórias de um passado, muitas das quais vividas e outras ficcionadas, localizadas na comuna angolana de Kibocolo, em Maquela do Zombo, seu “topos” preferencial.
Sá Kandumba interpela a realidade social, reflecte sobre a modernidade e respeita as tradições da sua terra, costurando um texto simples de fácil digestão no processo de leitura.
Segundo o autor, “Muangana” é uma novela pertinente pela amplidão que apresenta ao destacar, com detalhes, reflexões e superações pessoais que servirão de alerta às astúcias das seitas religiosas, enganando multidões com promessas vagas de salvação em troca de valores monetários, o que lhes leva à ganância total, causando conflitos entre famílias.
“E como se não bastasse, estas seitas destroem famílias unidas, através de armadilhas e profecias mecânicas, insinuando feitiçaria a alguns membros da família por causa de alguns incidentes que acontecem e que muitas vezes têm sido por causa dos imprevistos da vida ou por causa da condição imperfeita como aconteceu com a personagem Lukala”.
Esta obra, refere o autor, tem mensagens comoventes, pois o livro conta histórias emocionantes em que a personagem principal, Malenda, passou por situações de superação e de “muita coragem”.
No género novela, um modo literário em que o autor acredita ser a maneira mais acertada para transmitir, ao leitor, as variadas experiências da vida social, assim como partilhar os sentimentos ficcionais e verídicos.
Sob a chancela da editora Muenho, que vai disponibilizar mil exemplares, numa primeira fase, Sá Kandumba inspirou-se em factos reais, no domínio do fenômeno religioso, principalmente a proliferação de seitas religiosas, o evangelho da prosperidade, a extorsão de dinheiro e outros bens materiais de certos líderes contra os fiéis, a propaganda enganosa em nome do altíssimo e “o que considero mais grave, a crença em que supostos profetas introduzem no sentimento dos crentes, muitas vezes capazes de acusar seus familiares de feiticeiros, situação que tem levado a separações e homicídios no seio das famílias”.
Com “Muangana”, o autor pretende contribuir no avivamento das ideias dos leitores, de modo a não se deixarem enganar com falsas promessas, sempre que estiverem diante de charlatães camuflados de profetas.
Almeja, também, incentivar às famílias cristãs e não cristãs para aumentar os hábitos de leitura e o gosto pelo livro, principalmente os jovens, pois considera-os as principais vítimas pelo facto de, actualmente, a maioria substituir o livro pelas novas tecnologias de informação e comunicação.
“Que os jovens reflictam em torno do impacto social, cultural, económico e político sobre a religião em Angola. Que ganhem maior responsabilidade sobre a sua espiritualidade”.
Escritor defende publicação de mais clássicos
Sá Kandumba defende que, ao comemorar os 50 anos de independência nacional, a União dos Escritores Angolanos deve voltar às publicações de algun clássicos da literatura angolana, bem como garantir ampla divulgação dos mesmos a nível nacional e internacional.
“Que os 50 anos de independência nacional sejam comemorados por meio de feiras do livro e da leitura, programas televisivos, radiofônicos e páginas de revistas e jornais sobre esta matéria e, por outro lado, apoio aos fazedores desta arte para publicação dos seus textos inéditos e reedições dos materiais já esgotados”.
Apelou à revisão da Lei de Mecenato para facilitar a vida do artistas de forma geral, que se estimulasse mais a criatividade literária com incentivos aos escritores e políticas funcionais que estimulem a leitura de obras literárias angolanas, em todos os níveis de ensino.
Ao caracterizar a produção literária, considerou que o país vive uma certa escassez de produção literária devido aos altos custos na edição de uma obra. A falta de políticas de incentivo à leitura nas escolas é um outro problema que, na sua óptica enferma o parque gráfico e literário nacional.
“Por exemplo, nós em Angola não temos livros de leitura obrigatória, quando obras de Pepetela são de leitura obrigatória no Brasil, só para citar uma situação concreta no exterior”.
Considerou que, embora a literatura angolana esteja a evoluir a passos trêmulos, têm aparecido alguns autores de “grande valia” no mercado. “O mesmo já não digo dos leitores, parece-me que o crescimento da população não acompanha o ritmo das pessoas que lêem.
Isso porque as escolas e certos encarregados de educação não ajudam muito, não existem obras de leitura obrigatória nas escolas, logo, o pai não vai aprender para ensinar ao filho o quão importante é a leitura”, realçou.
Afirmou que lê quase tudo que lhe aparece em frente, embora seja fã de Luís Fernando, Roderick Nehone e John Bella, escritores que “até me emocion na sua forma de escrever. Por exemplo, eu não leio Luís Fernando, eu estudo-o”.
Licenciado em Economia pela Faculdade homónima da Universidade Agostinho Neto, Kandumba possui um mestrado em Contabilidade e Finanças pela Universidade de Havana, em Cuba.
Funcionário público e professor de Gestão Financeira na Universidade Católica de Ango (UCAN), é membro da Brig Jovem de Literatura desde 2005. autor afirma “um financeiro emprestado às artes literárias”. Estreou-se em 2005 com a novela “Poleffesolê”, e quatr anos depois lançou “Materna” (poesia, 2009).
Por: Neto Guerra