O secretário-geral do Núcleo de Amigos do Reage em Angola (NARA), Mário Kaley, artisticamente conhecido por “Ras-Ssa”, sublinhou que o seu movimento vai continuar a lutar pelo fim do preconceito e exclusão social de que a comunidade rastafári tem sido vítima em vários sectores da sociedade angolana
Em declarações a OPAÍS, durante a celebração do 19.º aniversário da NARA, o responsável defendeu que a sociedade se desenvolve com o contributo de todos e que o movimento rastafári é parte dela, razão pela qual mantém patente a luta pelos seus direi- tos e valorização da sua cultura, bem como a sua inclusão nos diversos campos da sociedade.
“A nossa luta é pela valorização, respeito e inclusão dos rastas em vários sectores da sociedade. Precisamos parar com a marginalização da cultura rasta porque somos pessoas normais, que também têm mui- ta coisa para contribuir pelo desenvolvimento da sociedade, não é o cabelo, ou barba, ou brinco, que faz de nós menos pessoas que os outros”, começou por advertir o artista.
Segundo RasSsa, o preconceito tem sido uma das maiores barreiras com que a comunidade tem lidado há décadas, apesar de ser um núcleo que, por variadas formas, tem procurado dar o seu apoio e contributo para ajudar a mitigar as dificuldades que centenas de pessoas vivem por meio de acções sociais e actividades desportivas e recreativas. Afirmou não compreender por que razão há “esta exclu- são de pessoas que muito têm a dar para que a sociedade se desenvolva de forma saudável e inclusiva”, desafiando as autoridades governantes a primarem por legislações que criminalizem o preconceito e a exclusão a todos os níveis e tipos.
“É preciso enquadrar o rasta também, por exemplo, na política, na área de saúde, na educação, nos tribunais e outros sectores. Quando tivermos essas aberturas, ali a sociedade vai perceber que ser rasta não é apenas ser ‘liambeiro’, como muitos nos têm caracterizado, porque somos uma camada da sociedade com muita força de vontade e capacidade para ajudar este país a prosperar” reiterou.
Luta pelo respeito e dignidade Ao longo dos 19 anos de existência, o movimento rasta tem dado passos firmes no sentido de afirmar com respeito e dignidade, fazendo jus ao legado do fundador da comunidade mundial dos rastas (o jamaicano Bob Marley), que é uma referência global em vários campos sociais, desde cultura, ciência, literatura e humanismo.
De acordo com Ras Mutu, coordenador de projectos da NARA, a comunidade rastafári em Angola vem desenvolvendo diversas actividades de âmbito social, cultural e desportivo com o intuito de a organização se manter firme e prestar o devido apoio tanto aos seus associados quanto aos amantes e apreciadores da cultura reggae.
Apesar das barreiras, Ras Mutu diz que tem havido melhorias nos últimos anos, no que refere ao tratamento com respeito e dignidade, assim como a aceitação da comunidade em alguns sectores da sociedade angolana, como no ensino, nas artes, no desporto, sector bancário e em algumas áreas da administração pública. “Há um esforço colectivo e individual muito grande dentro do movimento rasta no sentido de o movimento se impor dentro dos vários sectores sociais. Uns têm sido bem-sucedidos e outros nem por isso, mas é um trabalho que a gente vai fazendo paulatinamente”, explicou.