A peça, com a duração de duas horas, aborda as vivências do quotidiano das mulheres zungueiras ou quitandeiras (vendedoras ambulantes) que labutam pela cidade e periferia com bacias ou cestos na cabeça, em busca do “pão de cada dia” para a garantia do sustento de suas famílias. Escrita e dirigida por José Teixeira “Chetas”, a mostra enaltece a figura das mulheres batalhadoras, relacionando as suas lutas di árias ao patriotismo das heroínas nacionais que lutaram pela independência de Angola.
Segundo o director da peça, ela apresenta a história de cinco mulheres zungueiras que, em meio as dificuldades diárias, vão, incansavelmente, à luta em busca do pão para sustentar as suas famílias. O responsável entende que é uma realidade inspiradora e que mostra o quanto às mulheres são “lutadoras e patriotas”.
“Eu vejo as mulheres angolanas como guerreiras todos os dias. Assim como as nossas heroínas antes lutaram pela independência do nosso país, hoje as zungueiras enfrentam outras lutas diárias na busca do sustento de suas famílias, por essa razão, decidi homenageá-las”, explicou em declarações ao jornal OPAÍS.
Sublinhou que a peça vem, por outro lado, chamar a atenção da sociedade sobre o real papel e a importância que as vendedeiras ambulantes desempenham no desenvolvimento social e económico do país, servindo como um repúdio às autoridades policiais pelas constantes agressões a essas mulheres.
Em seu entender, tais agressões ocorrem quando elas vão apenas, humildemente, à busca do sustento das suas respectivas famílias. “Vejo como é que estas zungueiras se entregam para lutar pela sobrevivência das suas famílias e acho que devemos dar mais respeito e valor. Elas realmente demonstram amor à pátria com o seu trabalho”, explicou.
De Mulheres e para Mulheres
A peça será contracenada exclusivamente por mulheres que vão apresentar ao público, por meio da encenação, a luta diária das mulheres angolanas, centrando-se na realidade das quitandeiras. Para esta missão, cinco actrizes do projecto Miragens do Teatro estão a ser preparadas para entrar em cena apresentando uma obra que, de acordo com director, acredita se que poderá impactar positivamente o público, provocando reacções sobre o importante papel das zungueiras para o desenvolvimento da sociedade.
Ao falar em nome do colectivo, Mariana Loufran, uma das actrizes, disse ser uma peça que espelha a realidade não apenas da mulher zungueira, mas também da mulher angolana em geral, que é uma lutadora por essência, independentemente do estrato social, nível de escolaridade ou condição financeira. Expectante, a actriz assegurou que o conjunto está preparado para apresentar ao público uma peça que os levará a uma reflexão profunda e, quiçá, a mudança de atitude no que refere a forma como tratam ou encaram as mulheres.
“Sabemos que as mulheres na época de luta pela independência também lutaram, deram o seu sangue e muitas delas perderam as suas vidas pela liberdade do país. E, nos dias de hoje, apesar de já não existir conflitos de arma, as mulheres continuam a lutar no seu dia-a-dia”, frisou. Acrescentou de seguida, que “elas continuam a enfrentar outras guerras na busca do seu sustento e isso é o que queremos mostrar para a sociedade”.
A actriz Mariana Loufran apela ao público que se dirijam ao Horizonte Njinga Mbande para assistir à estreia da peça que será exibida em sessão única a partir das 19h30. “Mais do que as palavras, é melhor as pessoas virem constatar com os próprios olhos no dia 20”, considerou.
Historial do grupo
Com mais de 25 anos de existência, o Projecto Miragens do Teatro foi fundado a 7 de Junho de 1995, por Walter Cristóvão, então responsável da Comissão de Informação do grupo juvenil “Aurora Divina”, na capela de São Luís, no distrito do Rangel. O colectivo fez a sua primeira apresentação em público a 25 de Agosto de 1995, no salão nobre da referida Igreja Católica, passando a ser essa a data considerada a da sua divulgação e promoção.
Em 22 de Setembro do mesmo ano, estreou a peça “O Padre Colbe até a Morte”. Actualmente dirigido por José Teixeira “Chetas”, do colectivo já surgiram grandes nomes do teatro nacional como “Wime Braúlio dos Santos”, que ganhou notoriedade após passagem no programa de comédia televisiva “Conversas no Quintal”, onde interpretou o personagem “Kizua”, o próprio “Chetas”, Nuno Barreto, Mariana Loufran, entre outros.