O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, garantiu ontem que o Estado vai continuar a trabalhar para ver recuperadas as inúmeras peças culturais espalhadas pela Europa, para que estas voltem a enriquecer o acervo angolano
Ao falar à imprensa, durante o acto de inauguração de uma exposição composta por peças recupera- das pelo Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), exibidas no Arquivo Nacional, em Luanda, por ocasião do Dia da Cultura Nacional, assinalado ontem, 08, Filipe Zau sublinhou que a recuperação das peças demostra a preocupação em preservar as raízes da história dos nossos povos.
O governante sublinhou que o acto de recuperação traz de volta um conjunto de objectos e artefactos que representavam a identidade dos povos, assim como a valorização daquilo que eles deixaram como herança cultural para as gerações actuais.
“Com este tipo de gesto, nós esta- mos a ir à procura daquilo que as gerações passadas nos deixaram como herança, porque aquilo que foi ontem modernidade hoje é tradição e o que hoje consideramos modernidade há-de ser tradição amanhã, e as gerações devem, necessariamente, passar o testemunho umas para as outras, de mo- do que o sentido de identidade, enquanto país independente, possa ser devidamente valorizado”, considerou o ministro.
Afirmou que só se pode identificar um povo devido às suas raízes históricas e culturais, referindo àquilo que os antepassados construíram, criaram, pelo que lutaram e preservaram é hoje o que define a identidade das gerações actuais. Ressaltou que Angola está preparada para recuperar o que é seu e construir a sua própria linha de educação apoiada nos pilares da valorização cultural, histórica e científica, e poder se afirmar como uma nação com matriz própria longe da aculturação.
“Há quem diga que não estamos preparados para receber o que é nosso. Pois, não nos conhecem. Vamos buscar sim, o máximo possível, lutar por aquilo que é nosso, ter os nossos museus, fazer a nossa própria educação e nos firmarmos de forma independente”, reforçou.
Mais de 30 peças feitas de marfim
A exposição, denominada “O Regresso do Marfim: por uma política de recuperação das obras de arte de Angola”, é composta por mais de 37 peças diversas feitas à base de mar- fim, que estarão patentes no acervo do Arquivo Nacional durante 15 dias. Segundo a directora do Arquivo Nacional, Constança de Ceita, a recuperação das peças, provenientes, maioritariamente do Reino da Espanha e Portugal, demostram a vontade do executivo em devolver à verdade histórica da nação aos angolanos, trazendo objectos que faziam/fazem parte da identidade dos seus ancestrais.
“São bens recuperados, peças diversas feitas a base de marfim, pertencentes aos antigos Estados do Kongo e do Luango, que eram especialistas na arte da escultura do marfim. Elas demostram bem a necessidade urgente de se reencontrarem todas as demais peças que se encontram dispersas pelo mundo e tentar recuperá-las ao máximo e trazê-las ao país”, avançou.
Por outro lado, a responsável salientou que é também uma acção que visa preservar não apenas o património histórico e cultural, mas também a salvaguarda da fauna em especial do marfim, bem como uma forma de transmissão do conhecimento histórico às gerações actuais através dos objectos que pertenciam aos ante- passados.
Constança de Ceita entende que através do contacto com as peças, por meio da exposição, a sociedade poderá compreender a grandeza da rica história que a nação carrega e os sacrifícios que os antepassados enfrentaram para a conquista da liberdade e autonomia que hoje todos os angolanos gozam.