A revelação é de Sebastião Matumona, guitarrista do agrupamento, a OPAÍS, à margem da homenagem que lhe foi tributada, durante a última edição do projecto Muzongué da Tradição, realizada Domingo, no Centro Recreativo e Cultural Kilamba
Texto de: Jorge Fernandes
Mais renovado e com novidades para o grande pú- blico é a forma como, muito bre- vemente, Sebastião Matumona tenciona apresentar o grupo que “timidamente” vai integrando os novos músicos necessários para dar corpo ao histórico con- junto musical. Por outro lado, o nosso interlo- cutor revelou que o que está a in- viabilizar a reformulação do gru- po tem sido os desencontros com os demais membros, embora a maior parte deles já seja falecida. Por esse motivo, em sua substi- tuição serão lançados novos exe- cutantes.
O agrupamento que se nota- bilizou nas décadas de 1960|70, com sonoridades muito típicas da província de Cabinda, ainda tem muito para dar, como ressaltou o guitarrista Matumona Sebastião. “Completo 80 anos, e, por isso, estou fora do funcionalismo público.
É hora de passarmos o nosso testemunho aos mais jovens, por isso pretendo colocar nova- mente o grupo na ribalta, passando a nossa experiência aos mais novos, para revisitarmos o nosso reportório já apresentado há muitos anos”, referiu. Homenagem Após ter sido homenageado como guitarrista pela Rádio Nacional de Angola, na edição do Top dos Mais Queridos de 2016, na 22ª edição do programa “Caldo do Poeira”, a 29 de Janeiro de 2004, também no Centro Cultural e Recreativo Kilamba e muito recentemente pela TV Zimbo, Sebastião Matumona voltou a ser homenageado pelo mesmo espaço.
Durante o encontro, juntou centenas de luandenses, espanhóis e fi nlandeses, o filho da Damba (Uíge) voltou a solar a sua guitarra em quatro temas musicais, sendo que o quinto foi a pedido da plateia que o reviu tocar “Ôh Belita Kirikiri”, “Sa Madia”, “Encantando para ti”, um merengue solado e “Lola”, sob o suporte da Banda Movimento.
Outras atracções
O ambiente na “Catedral do Semba”, como é também conhe- cido o antigo Maria das Esquerquenhas, contou com outras actuações com destaque para Maia Cool, que “passeou” por diversos temas seus, incluindo “Ti Paciência”, “Peló Peló”, e recordou o tempo piô – o período de ouro da música infantil angolana – com os conhecidos temas musicais “Moringa” e “Crianças alegres”.
Dom Caetano, apesar de mestre de cerimónia, fez-se ao palco, para preemcher a ausência de Bangãozinho o ‘sósia de Bangão, que interpretou al- guns dos seus vários sucessos como “Cooperante”, “Som an- golano” e outros, incluindo o seu mais novo hit “Vizinho”. Edmázia Mayembe seria a outra actracção do Muzonguê, que viu-se im- possibilitada de animar os ‘Kotas’ na Catedral, pelo facto de na noite anterior ter realizado o seu primeiro concerto de carreira e fi cado com as cordas vo- cais molestadas.
Assim, para encerrar em brilho essa edição do “Muzongué”, que alia a música popular à gastronomia nacional, foi chamado o Kota Bwé “Cala- beto”, que a seu jeito animou a pista de dança, por parte da plateia que além de angolanos, reunia cidadãos espanhóis e fi nlandeses.
O homenageado
Matumona Sebastião nasceu no dia 28 de Maio de 1937 na aldeia de Cussupete, Damba, província do Uíje, e chega a Luanda, em 1946, com ape- nas nove anos de idade. Cinco anos depois, fixa residência em Benguela, onde os pais se deslocaram por razões profissionais. Matumona compra a sua primeira guitarra aos 17 anos, numa altura em que trabalhava no Grémio de Pesca em Benguela – seu primeiro emprego.
O contacto com os cabo-verdianos hospedados no Grémio foi útil para o desenvolvimento e aprendizagem dos segredos da guitarra.
Adepto das suas convicções, Sebastião Matumona é fiel ao dogma e à liturgia da Igreja Tocoísta, e teve algumas retracções quando foi convidado a mergulhar no universo da música profana, primeiro no “Asa Negra”, com Joffre Neto (vocalista), Sebastião Matumona (viola solo) e Ressureição (percussão). Saliente-se que integraram inicialmente o conjunto Ngoma Jazz, Mangololo, Caetano, Ferreira e Pedro Augusto.