A iniciativa é da Fundação de Arte e Cultura, entidade privada focada na promoção da cultura nacional, incentivo à educação para as artes. Para dar mais força anímica a actividade, juntar-se-ão à festa os cantores António Morango e Jovaldo Falne IV, e das artes cénicas o grupo teatral Jovens da Mulemba
O escritor Manuel Rui Monteiro será homenageado esta Quarta-feira, 25 de Janeiro, na primeira edição “Noite de Poesia de 2023”, evento literário que terá lugar no Wyza Anfiteatro da Fundação Arte e Cultura, Ilha de Luanda.
A actividade, com entrada grátis, terá início às 18 horas com um recital em torno das obras do escritor e prolongar-se-á até às 20 horas e 30 minutos.
A noite será ainda abrilhantada pelos poetas Kiocamba Cassua, Poeta Gago, Kapa Afonso, Ernesto Monteiro, Olívia Gomes, Waletcha Neto, Luzineide Tomás, Delmira Dinis, Quissanga Juliana e Universo Mavambo.
Para dar mais força anímica ao evento juntar-se-ão à festa os cantores António Morango e Jovaldo Falne IV, assim como encenação teatral do grupo teatral Jovens da Mulemba.
Obras
Manuel Rui Monteiro é autor de vários contos, poesias, romances e obras de teatro, entre as quais “Assalto”, “Sem Data” e “Lisboa”, editados pela Plátano Editora. É também autor dos “11 Poemas em Novembro (Ano Oito), “Cinco Vezes Onze Poemas em Novembro”, incluindo cinco primeiros livros da série 11 Poemas em Novembro, aos quais juntam-se também os “11 Poemas em Novembro (Ano Sete), “11 Poemas em Novembro (Ano Seis) e tantos outros.
O impacto de “Quem Me Dera Ser Onda” nos mais novos leitores
Esta obra, que por sinal foi publicada 1982, com uma reedição recente pela União dos Escritores Angolanos, é, aparentemente, uma história infantil. De facto, tendo em conta que as personagens principais são duas crianças e um animal – um porco – é natural que a primeira impressão dada pela obra seja o relato de uma história infantil.
O argumento principal centra-se exactamente nestas figuras – duas crianças e um porco. Delas nasce uma relação que era perfeitamente possível num tempo já esquecido pelos adultos desta sociedade tão alienada pelo sistema colonial – aquele tempo em que homens e animais conviviam em plena harmonia, numa relação extremamente humana.
Agora, num tempo e numa sociedade em que os adultos perderam, por força de um sistema alienante, a memória desses tempos, resta às crianças (que serão o futuro daquela Nação) restabelecer os laços com esse passado e reatar esse sentimento de fraternidade e harmonia entre os dois mundos: o mundo dos homens e o mundo dos animais.
O escritor
Poeta, contista, ensaísta, crítico literário, Manuel Rui Alves Monteiro nasceu a 4 de Novembro de 1941, na província do Huambo, ex- Nova Lisboa.
Desde cedo envolveu-se na política e emocionalmente com a causa do seu povo.
Foi para Portugal fazer os seus estudos universitários, permaneceu durante alguns anos dedicado- se à sua profissão de advocacia e à luta pelos seus ideais, que eram os mesmos do povo angolano, que há muito tinham despertado e cada vez mais se intensificavam.
Manuel Rui permanece em Portugal até à Independência de Angola, optando posteriormente por regressar ao seu país natal, Angola e levar em frente as suas intenções de continuar uma luta por uma Angola livre.
Tal como este escritor, muitos outros da sua época, e outros ainda que se lhe seguiram, tinham em mãos a nobre tarefa de dar voz aos angolanos, falar – através da literatura, a sua melhor forma de manifestação – da nova forma de ser angolano.
Explosão cultural
A explosão cultural que Angola passou a viver logo após a Independência propicia o aparecimento de uma vaga de novos escritores, novas vozes de toda uma “jovem” cultura angolana que se vai, então, manifestar nas suas mais diversas formas.
Manuel Rui é uma dessas “novas” vozes que, através da literatura, tenta contribuir para a afirmação de uma cultura de raiz verdadeiramente angolana.
A sua expressão assenta, sobretudo, no uso de expressões e vocábulos surgidos na dinâmica da guerra. É uma literatura marcada pelos anos de luta armada, de reivindicação por uma independência, por uma voz própria.
Como tal, o seu conteúdo, a sua temática, as suas preocupações são as de falar e dar vida à expressão nova de um povo recentemente libertado.
A linguagem usada é, sem dúvida, o português; mas é já um português mesclado com as tais expressões e vocábulos típicos, regionais e nacionais que imprimem a esta “nova” literatura uma dinâmica muito própria que traz a esta nação a expressão colectiva do povo que pretende, assim, afirmar uma identidade própria.