Com 80 páginas, o livro “Kitota, Recuos e Avanços” do escritor Soberano Kanhanga, disponibilizado aos leitores, aborda os seus momentos vividos durante a infância e o início da adolescência, entre 1984 e 1990
A obra retrata estórias reais vividas pelo autor durante a guerra civil e após a assinatura da paz de 2002, ainda em tenra idade no município do Libolo, província do Cuanza Sul.
“Não se trata de ficção, mas sim de histórias realísticas com nomes de registo oficial, apelidos de guerra ou “de casa”, (nas aldeias temos nomes de casa e nome da escola) estão muitas pessoais ainda presentes”, disse o autor.
Inicialmente, o livro será comercializado em Luanda.
Mas, em função do interesse dos leitores poderá chegar às demais províncias.
Segundo Luciano Canhanga, que tem como nome literário Soberano Kanyanga, decidiu trazer as memórias em livro para que os jovens possam ler sobre a triste história da guerra civil, os factos nús e crús, narrados na primeira pessoa.
“Quero mostrar o que sofri e despertar aos lúcidos que o país, que é feito pelos cidadãos, devia retirar do seu léxico a expressão “vamos à guerra”, disse.
Canhanga explicou que, quando escreve sobre ficção é inspirado pela sociedade e a forma como projecta uma vivência futura, bem como a própria interacção entre as pessoas, com a excepção do livro “Kitota, Recuos e Avanços”.
Para o escritor, os jovens que nasceram após a “paz do Kamorteiro” agem de forma muito emocional, fazendo apelos à rebelião, à guerra, como se fazer guerra fosse assistir a um filme, facto que o preocupa.
Daí a necessidade de exteriorizar momentos vividos no seu diário de infância e adolescência.
“A vida é curta e os miúdos de hoje, a começar pelos meus filhos e sobrinhos, acham determinadas narrativas verdadeiras como se de ficção se tratasse.
A guerra comeu pessoas e não capim”, salientou.
Questionado sobre a dificuldade de publicar livros em Angola, Soberano Kanyanga disse que “os livros ainda não são produtos comerciais muito procurados e que tem sido difícil publicar, pelo facto de não existir uma relação intensa entre as editoras e os leitores.
Caso houvesse maior interação haveria mais livros publicados”, sublinhou.
Biblioteca MARIA CANHANGA pode ser inaugurada ainda este ano
Segundo o escritor, se tudo correr como previsto, a biblioteca denominada Maria Canhanga, em homenagem à sua mãe, será inaugurada até ao final do ano, na aldeia “Pedra Escrita” para atender a população, os estudantes da região e não só “As obras da futura biblioteca estão avançadas, quer do ponto de vista da obra física e apetrecho, temos alguns livros doados pela Biblioteca Nacional de Angola e outras ofertas, desde livros infantis, didácticos e outros ”, explicou.
Consta que, em acto de pré-lançamento foram oferecidos alguns exemplares da obra “Kitota, Recuos e Avanços” aos estudantes que maior desempenho tiveram na disciplina de Língua Portuguesa, na aldeia “Pedra Escrita”, município do Libolo, província do Cuanza Sul, onde o escritor está a construir uma biblioteca.
De lembrar que, em 2010, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) publicou o seu primeiro livro de ficção literária e tem já oito livros editados.
Jornalista de profissão, e agora virado para assessoria de imprensa, Luciano Canhanga passou parte da sua infância no município do Rangel, onde leccionou nalgumas escolas.
Na igreja Metodista, da qual é membro, esteve à frente de um projecto jornalístico ligado à formação.
Por: Patrícia de Oliveira