Na semana em que se assinalou o Dia Mundial do Voluntariado, Kikas Machado, chefe nacional da Associação dos Escuteiros de Angola, falou ao OPAIS sobre a situação do voluntariado em Angola, dos aliciamentos políticos em torno da actividade, da Lei do Voluntariado e de uma importante parceria com o Ministério da Educação, que vai permitir levar o ensino do escutismo e do voluntariado às escolas do país. Na entrevista, o líder associativo fala ainda, sem tabus, dos casos de promiscuidade envolvendo membros e dirigentes do escutismo, alertando que a associação tem sido implacável na responsabilização dos que enveredam nesta prática
Foi comemorado, recentemente, o Dia Mundial do Voluntariado. Como avalia este movimento em Angola?
É um movimento que tem estado a crescer no nosso país, dado a consciencialização que as pessoas vão tendo em ajudar o próximo.
Mesmo em tempo de crise?
Sim, naturalmente. Aliás, é nesta fase de crise que se deve mostrar o amor às pessoas.
Mas também se nota um certo aproveitamento de grupos e pessoas, sobretudo nessa fase de Dezembro, com campanhas de solidariedade com fins meramente definidos. Isso não constitui preocupação?
Essa questão dos interesses e aproveitamentos vai sempre existir na cabeça de certas pessoas, mas nós que já temos o dom para o voluntariado e fomos educados a isso é que não devemos perder o foco.
Até que ponto?
Por exemplo, nós, a nível da Associação dos Escuteiros de Angola, temos o nosso foco bem orientado, que é contribuir para a educação dos jovens e da nova geração. E fizemos isso porque temos os nossos educadores voluntários. Só nesse momento, temos a maior bolsa de voluntários de Angola.
E esses dados estão assentes em que critérios?
É com base nos nossos dados. Só para situar, temos cerca de 6 mil voluntários adultos em todo o país. Portanto, olhando para a nossa realidade, não há organização com tantos voluntários assim. E esses voluntários prestam, em média, duas horas de voluntariado semanal, o que perfaz, ao todo, uma média de 60 mil horas de voluntariado por ano.
Considera esses números determinantes para aquilo que é a acção do vosso trabalho?
Naturalmente que sim. E importa referir que aqui só estamos a falar de adultos. Se for acrescer os jovens, vamos ter números acima dos 7 mil voluntários registados na nossa base de dados e que são úteis à sociedade.