Criada há sensivelmente três anos, pelo actor e produtor Meirinho Mendes, tem como o objectivo impulsionar o desenvolvimento da Cultura Nacional e Internacional, localizada na Rua Heróis de Mucaba, em Luanda.
O projecto nasce com o propósito de dar resposta às várias iniciativas, ideias ou necessidades de particulares ou colectivos no âmbito da gestão, programação e produção cultural.
Visa ainda conferir a Cultura de Gestão e Contenção de Recursos, daí designação de Kafokolo 5, o que significa bolso pequeno (cabolcinho), uma forma de ajudar os artistas com poucos ou sem recursos.
Abriu as suas portas ao público com uma exposição de pintura de Wara Wata, um dos mais criativos, transgressivos e desconcertantes pintores do meio underground luandense, com o título “Pedra no Charco”.
Com essas acções, a Kafokolo 5 tem procurado trazer à tona trabalhos relacionados com a qualidade dos conteúdos culturais que tem estado a produzir no país, abordando a cultura, de uma forma mais abrangente, nos seus diferentes segmentos.
Para se ter uma ideia generalizada do funcionamento deste empreendimento e do impacto dos serviços que tem prestado em vários domínios, visitamos o recinto e abordamos Meirinho Mendes, actor, produtor e director do projecto.
No espaço, a nossa visita começou na área expositiva, a primeira ligada às artes e cultura, onde encontramos uma série de obras, resultantes da primeira residência artística da pintora Marisa Kingica e seguimos até a biblioteca, passando, por último, para o espaço cénico.
Mas, a nossa visita não parou por aí. Prosseguiu noutros compartimentos. Cada uma dessas áreas tem um objectivo específico e a formação é a força maior, por manter o artista em constante actualização.
Meirinho Mendes, o anfitrião da Kafokolo 5, indagado quanto ao impacto do projecto e dos seus resultados nas diferentes áreas de intervenção, considerou satisfatórios, visto que, mesmo depois do artista ter passado as etapas de formação académica, a produtora prossegue a sua acção formativa com workshops, oficinas e cursos de superação.
“Tanto a nossa área, como nas outras, especificamente, da interpretação e da produção cultural, têm estado sempre activas e focadas nessa questão de superar a maneira da formação”, disse Meirinho.
Ainda no que ao impacto do projecto se refere, Meirinho realçou que a acçãovisa dar resposta às iniciativas e ideias individuais ou colectivas, no âmbito da gestão da sua programação e produção cultural.
O também actor e produtor recordou que a Produtora Kafokolo 5 nasce com esta denominação por acreditarque, por vezes, de pequenos projectos de bolso criam-se grandes iniciativas que podem impulsionar o desenvolvimento da cultura nacional e internacional.
Realçou que no quadro das suas acções, a Kafokolo 5 tem procurado trazer à tona trabalhos relacionados com a qualidade dos conteúdos culturais que tem estado a produzir no país, abordando a cultura, de uma forma mais abrangente, nos seus diferentes segmentos.
Por essa razão, acrescentou, a Kafokolo 5 expandiu-se em cinco linhas de acção, na fase inicial, com o intercâmbio, arte e cultura, formação, comunicação e comércio.
“Nós ficamos em cinco linhas de acção, nesta fase inicial, que são intercambio, a arte e cultura, resultante daquilo que produzirmos”, disse. Já no que a questão da arte e cultura se refere, Meirinho Mendes referiu que se trata de uma vasta área a qual priorizam as residências artísticas, no âmbito das artes plásticas.
A par das artes plásticas, a área de intervenção, segundo Meirinho, estende-se até à música, à literatura e à tradição oral, bem como às artes cénicas.
“Os resultados têm sido satisfatórios porque trabalhamos com artistas que não estão no topo, são artistas a emergir e, então, damos este suporte. Entramos com o suporte do material, o espaço e algum fio para o artista poder movimentar-se ao local e alimentar-se”, realçou.
Trabalhar com artistas da diáspora
O actor recordou que, no ano passado, trouxeram para Angola um monólogo de actores lusófonos. Disse que a ideia é trazer destas diásporas os seus trabalhos e, de certa forma, criar um equilíbrio entre estilos e universos fora de África.
“Criamos este projecto para aproximar os africanos fora da África ao nível cultural. Este ano, voltaremos a ter o Ângelo Torres e a Aurora Negra, que vêm para o Festival de Cultura e Artes do Elinga Teatro”.
Quanto se sabe, disse, as artes plásticas são as que mais se destacam, havendo neste um ascendente em termos de produção no que a arte feita em Angola diz respeito. “Neste momento, a área mais solicitada é das artes plásticas.
Há um ascendente em relação às artes plásticas em Angola, feita por angolanos. É como se estivéssemos a viver uma fase em que os grandes mestres passaram uma mensagem importante, e hoje temos uma nova geração muito potente”, disse Meirinho, recordando-se dos veteranos Fernando Alvim, Faria, Kapela, Van, Etona e Tirso do Amaral, que muito fizeram em torno do desenvolvimento das artes no país.
O responsável afirmou igualmente que têm estado acompanhar o referido processo e sente a necessidade de abrir o espaço para os artistas emergentes que muitas vezes têm talento, mas não apoios.
Meirinho destaca Mestre Kapela, de feliz memória, como uma espécie de suporte a esses artistas mais desprezados pela sociedade. “Os artistas fazem as suas residências artísticas, expomos o produto resultante desta Residência, comercializamos e dividimos os lucros com o artista, daí essa ideia de dar a mão ao arista” realçou Meirinho.
Dificuldades na execução dos projectos
O produtor admite que, como artista, também já teve momentos que enfrentou inúmeras dificuldades, mas na luta incessante em busca de soluções, conseguiu chegar a um nível ainda não muito desejado, mas dá para caminhar.
“Temos apostado na questão da qualidade, e não só podemos trabalhar com homens e deixar as mulheres de parte. Temos um vasto universo de artistas femininas em Angola e acho que é chegado momento para apoiarmos essas jovens talentosas, por existir de facto uma certa discriminação, não sónas artes plásticas, mas também no cinema e no teatro”, admitiu o produtor, sublinhado que, neste quesito, a mulher vem sempre em segundo plano, havendo por isso necessidade de se liberar desse preconceito.
Exposições no Espaço
No capítulo de exibições, o produtor Meirinho Mendes justificou que a par de outros artistas que pelo Kafokolo passaram o jovem Wara Wata que foi o primeiro a registar o seu nome no Espaço, com uma exposição intitulada “Pedra no Charco”.
É uma colecção que incorpora tendências e influências de estilos (e personagens) que se entrecruzam, como a Pop Art Underground e Arte Urbana, destacando ícones da Cultura Pop Internacional e Símbolos da História e Cultura Nacional.
A mostra é o resultado de uma Residência Artística realizada no mesmo recinto. Indagado quanto à situação actual do artista, Meirinho realçou que nos últimos tempos, o mesmo não tem estado.
Trabalhar com os munícipes
A formação assume-se como vector principal na edificação e suporte dos povos, visto que a partilha e o intercâmbio sociocultural, da história e suas vivências, assume-se como uma mais-valia para o crescimento e preservação da identidade e ancestralidade.
O produtor recordou, que a partir do momento em que a população da zona apercebeu-se do projecto e dos seus objectivos, face aos seus resultados, passou a dar mais importância, visitando o Espaço.
“A população começa a perceber realmente a importância e os objectivos do Espaço, e vai aderindo às actividades, mostrando curiosidades, manifestando o desejo de nelas participar”.
O actor e produtor manifestouse satisfeito por empreender nesta área e gostaria de se focar mais na formação das artes cénicas, representação e comunicação.
Neste caso particular, acrescentou Meirinho, as áreas de formação têm-se destacado com pequenas acções e metas que vão dos 45 a 90 dias, para obtenção de resultados imediatos.
Ainda no que as artes cénicas diz respeito, Meirinho argumentou que a produtora tem implementado um curso para actores, principiantes e já conta com protagonistas feitos.
“Já fizemos uma experiência com o Rúben e agora vamos fazer um segundo módulo, já com outros objectivos, que, na verdade, também vão tentar criar um pequeno núcleo de teatro experimental, sublinhou Meirinho, acrescentando que pode o sector formativo ter actores para satisfazer as demandas das novelas do grupo, de peças teatro que precisam, até mesmo figurações de cinema ou papéis de cinema.
A ideia, segundo ele, é criar alguma sustentabilidade para projectos futuros com estas formações. Na área da comunicação, por exemplo, Meirinho disse estarem a entrar um pouco para aquilo que são os anúncios publicitários, quer ao nível televisivo, quer ao nível de rádio.
A produtora está neste momento a trabalhar na montagem de uma peça teatral, cuja apresentação ao público está prevista para princípios do mês de Junho. “Queremos apresentar uma peça, temos estado a trabalhar com núcleos e grupos de teatro dentro e fora de Angola”, frisou.
Primeira residência feminina
No quadro do ciclo expositivo e residências, a par de Wara Wata, a jovem artista plástica e docente, Marisa Kingica, foi a primeira a realizar uma Residência Artística de 30 dias, naquele Espaço, no âmbito de uma série de investigações de âmbito cultural, que efectuou recentemente nas províncias do Namibe, do Huambo, de Cabinda e do Uíge, em museus, estações arqueológicas, cavernas e algumas aldeias, com tradições muito fortes e restritas.
A mostra, que terminou no mês transacto, intitulou-se “Rupestrando em Contos e Realidades”, cujo conteúdo será condensado em livro, exposições fotográfica e de pintura, dando maior realce ao livro, que se espera lançar no próximo mês de Junho.
Questionada quanto a experiência obtida durante a Residência Artística, na Produtora Kafokolo 5, Marisa considerou que teve a oportunidades de aprender um pouco mais sobre o que é ser artista, como funciona o agenciamento ou como é a relação produtora, produção e artista.
“Foi uma experiência muito boa, algumas vezes chata, mas, reconheço que tudo faz parte do processo e cada Espaço tem sua complexidade, e sua maneira de resolver e lidar com as adversidades”, disse.
Marisa considerou a Residência Artística como uma das melhores formas e oportunidades que o Espaço ofereceu para poder mostrar o resultado daquilo que foram as suas pesquisas e enaltecer o quão esforço fez para poder estar nos vários locais a procura de dados e conteúdos.
“A minha experiência na Kafukolo 5 foi boa, pude aprender mais um pouco sobre Ser Artista, como funciona o agenciamento ou como é a relação produtor, produção e Artista”.
“Kafokolo” é uma produtora do ramo cultural criada a 12 de Maio de 2022, um projecto que nasce com o propósito de dar resposta a várias iniciativas, ideias ou necessidades de particulares ou colectivos no âmbito da gestão, programação e produção cultural.