Em entrevista exclusiva ao Jornal OPAÍS, a directora do GoetheInstitut Angola, Júlia Schreiner, destaca o empenho da sua instituição no domínio dos reforços de cooperação bilateral entre os dois países, no campo cultural e da educação artística.
Na liderança da instituição desde 2022, Júlia Schreiner mostrase engajada em dar continuidade à matriz do Goethe-Institut no que diz respeito ao estreitamento dos laços culturais entre Angola e Alemanha, fazendo com que ambas as nações bebam um pouco cada uma da história e das raízes culturais da outra.
Ao fazer uma radiografia daquilo que são os 15 anos de existência do Goethe-Institut em território angolano, a directora afirma que a instituição tem conseguido estabelecer cada vez mais o estreitamento das relações entre Angola e a República Federal da Alemanha, propiciando o intercâmbio internacional no campo cultural e educacional.
A responsável avança que este intercâmbio, baseado na promoção de projectos socioculturais locais, e que tem permitido gerar colaborações entre artistas angolanos e alemães, tem sido o objecto central dos trabalhos do Goethe-Institut Angola desde a sua fundação.
“O Goethe-Institut é uma organização internacional com representação em mais de 90 países. Ele foi criado com o propósito de promover a cultura alemã, por um lado, e, por outro, que é o foco principal, de criar parcerias e colaborações no domínio das artes com os países em que nós estamos inseridos”, começou por explicar a responsável.
Por outro lado, esclarece que as cooperações são feitas com dois propósitos fundamentais: promover o intercâmbio cultural e expandir a língua alemã, como fermenta de expressão artística e de interacção entre cidadãos de diferentes países.
“Além da cultura, desde o início que também ensinamos a língua alemã. Acreditamos que as competências linguísticas contribuem para a compreensão e maior intercâmbio entre os cidadãos”, salientou a diretora.
Formação artística de abrangência internacional
Júlia Schreiner afirmou que a instituição tem procurado trabalhar directamente com os artistas de diferentes áreas e disciplinas artísticas, estudantes de artes, instituições de ensino artístico e organizações ligadas às artes, com o bjectivo de formar e/ou aprimorar as habilidades artísticas dos jovens talentosos no quadro das cooperações entre Angola e Alemanha.
Segundo a mesma, neste domínio, o Goethe-Institut tem proporcionado viagens para jovens artistas angolanos com destino à Alemanha e outros países da Europa, participando em festivais e excursão de artes que os permita aprimorar os seus conhecimentos ou trocar experiências com outros artistas.
Além da Europa, artistas angolanos têm participado em eventos multiculturais de grandes dimensões a nível do continente africano. Países como África do Sul, Namíbia, Zâmbia, RDC (República Democrática do Congo), Moçambique, Cabo-Verde, Guiné e outros fazem parte dos diferentes palcos em que os jovens artistas angolanos já tiveram o prazer apresentar a sua arte, participando em festivais, eventos culturais ou em oficinas de artes realizadas pelo Goethe-Institut ou por instituições parceiras.
Para este ano, por exemplo, a directora fez saber que estão em curso programas específicos que vão permitir que artistas nacionais possam viajar para diversos países africanos e europeus, com vista a criar intercâmbio artístico.
“Este ano temos muitos programas para artistas angolanos que queiram viajar para países africanos ou da europa, em particular na Alemanha.
Estas viagens são promovidas pelo Goethe-Institut de forma geral e são para criar um intercâmbio entre artistas angolanos e alemães ou de outros países onde actuamos”, adiantou.
Em termos gerais, segundo a directora, os projectos de viagens de formação artística já puderam abranger mais de 40 artistas, desde finais de 2022.
Apoio a festivais culturais locais
A par da promoção do intercâmbio cultural com dimensão internacional, o Goethe-Institut tem procurado formas de apoiar projectos de fomento às artes a nível local ou regional, que são desenvolvidos por iniciativas colectivas ou individuais que possam beneficiar as comunidades.
Denominado “Edital”, tratase de um financiamento em torno de dois milhões de kwanzas que visa apoiar projectos específicos de diversas naturezas artísticas e culturais nas comunidades a nível das 18 províncias do país.
Lançado em Março do corrente ano, o objectivo dos editais, segundo a directora, é levar às comunidades os programas de apoio de desenvolvimento artístico, assumindo-se com um esforço que procura congregar a todos, em especial as populações que vivem em aldeias e regiões longínquas, dentro e fora de Luanda.
De acordo com Ngoi Salucombo, coordenador de programação cultural do Goethe-Institut Angola, podem candidatar-se aos editais produtores de eventos culturais residentes no país, colectivos culturais e produtoras de eventos.
“Esta é uma maneira que nós encontramos de fazer com que os nossos trabalhos, aquilo que nós temos feitos enquanto Goethe-Institut chegue, àquelas comunidades que vivem em zonas mais recônditas.
É uma iniciativa acima de tudo inclusiva, que apoia festivais culturais que têm impacto directo na vida das comunidades”, explicou o responsável, em auxílio à directora Júlia Schreiner.
Por outro lado, destaca que o edital visa, sobretudo, reduzir os custos inerentes à produção de festivais em Angola, sendo uma forma que a instituição cultural alemã achou de ajudar a promover os eventos que visam dar maior expressão à cultura nacional e valorizar os trabalhos desenvolvidos pelos mesmos.
Esclareceu que os apoios estão direccionados aos eventos realizados nas seguintes categorias: cinema, música, banda desenhada, dança, literatura, spoken word/slam, teatro e performance (que é a mistura de várias artes, tendo como pano do fundo a arte visual e representativa).
Fez saber ainda que esta é a segundo vez que a instituição lança um edital, sendo que, no ano passado, foram realizados dois editais, um sobre arquitetura urbana de Luanda e outro sobre design gráfico.
Festival dos 15 anos de existência
Em celebração dos 15 anos de existência e actuação em território angolano, o Goethe-Institut Angola tem elaborado um extensivo programa de actividades que arrancou em 15 do corrente mês e se estende até 28 de Julho próximo, com várias acções voltadas às artes.
Com o título “O Futuro já era”, o festival vai albergar mais de 30 artistas, entre angolanos e alemães, que actuam em diferentes disciplinas artísticas, como cinema, música, banda desenhada, dança, literatura, pintura, fotografia, spoken word/slam, teatro e artes visuais.
A directora avança que a intenção do festival, que decorre no Cine São Paulo, em Luanda, é congregar o maior número possível de pessoas para celebrar a arte, a cultura e o intercâmbio entre os dois povos e o resto do mundo.
Frisou ainda que o título e o local escolhido estão relacionados com a ideia principal expressada nos projectos anteriores: fazer uma reflexão em torno do projecto arquitectónico da cidade de Luanda.
“Com este festival, queremos analisar a substância arquitectónica de Luanda; que visões arquitectónicas existem depois do estilo colonial português, uma reflexão do modernismo tropical e dos ‘arranha-céus’ e a organização urbana da própria cidade.
É uma forma de perguntarmos a nós mesmos se o futuro já era ou se estamos vivendo constantemente presos ao passado”, enfatizou.
Mais de 30 artistas
Mais de 30 artistas, entre angolanos e alemães, vão desfilar suas habilidades artísticas durante as seis semanas de festival, no Cine São Paulo.Entre os artistas a exibirem os seus trabalhos no festival destacam-se nomes como Jay-Lourenço, Débora Makiese (música), Gegé M’bakudi, Jamil Praasol, Mussunda Mazombo (artes visuais), Lukeny Bamba (spoken-word), Eltina Gaspar, Nark Luenzi, Banda Kosmik, Ricoh Geral, Jennz Mezil, sabine Zahn, Erik Gongich, e tantos outros.
Reforçando o intercâmbio cultural
Júlia Schreiner afirma que o festival é uma ‘janela’ oportuna para se reforçar os laços de cooperação e intercâmbio cultural entre Angola e Alemanha, fazendo com que artistas e cidadãos alemães venham para Angola (e vice-versa) para conhecer e apreciar de perto a dimensão cultural angolana e estabelecer parcerias entre artistas e apreciadores de arte.
“O Festival não é, portanto, uma oportunidade para se reforçar o intercâmbio internacional e cultural, criar debates e workshops e discussões profundas que podem ajudar a melhorar a percepção que os outros povos têm sobre a cultura de Angola e não só”, assinalou.
Estimado a durar cerca de seis semanas, de cordo com a programação, o festival contará com oficinas ligadas a diversas áreas artísticas, sessões de cinema, com exibições de filmes angolanos e alemães, concertos musicais (com artistas nacionais e da Alemanha), exposição, teatro, literatura, dança, pintura, oficinas criativas para crianças e aulas magnas de alemão destinadas a jovens e adultos.
Breve histórico do Goethe-Institut Angola
Fruto de um acordo de cooperação no domínio da cultura, educação e ciências, assinado entre Peter Amnon, antigo secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemnha, e Assunção dos Anjos, antigo ministro das Relações Exteriores de Angola, surge o Goethe-Institut Angola.
A 15 de Junho de 2009, é dada a inauguração oficial da instituição, sendo o primeiro e, até agora, o único GoetheInstitut existente num país da África lusófona.
Desde a sua fundação até ao momento, já passaram quatro directores naquela instituição cultural alemã, sendo Júlia Schreiner a quinta entidade a dirigir o referido instituto, após substituir no cargo Gabriele Stiller Kern, que liderou a instituição entre 2018 e 2022.