O volume, com o sugestivo título, “Os Passos Decisivos da Rainha Njinga”, é a terceira obra da trilogia do autor, um romance que retrata a trajectória da Rainha Njinga Mbande, a soberana do Reino do Ndongo e da Matamba
“Os Passos Decisivos da Rainha Njinga” é o título do mais recente trabalho literário do escritor, docente e investigador, John Bella, pseudónimo de Jorge Marques Bela, a ser lançado esta Sexta-feira, 3 de Fevereiro, às 15 horas, no Restaurante Pôr do Sol, Distrito Urbano do Benfica, município de Belas, em Luanda.
O livro, com ilustração do artista plástico Nelo Tumbula, tem a chancela da Editora das Letras “Pensando o Futuro”, e será apresentado pelo também escritor e Professor de História, Bendinho Freitas. É um romance, uma trilogia do autor, retratando a trajectória da Rainha Njinga Mbande, a soberana do Reino do Ndongo e da Matamba.
O volume tem o prefácio assinado pela escritora e historiadora brasileira, Mariana Bracks Fonseca, por sinal, autora de três livros didácticos sobre a Rainha Njinga, nomeadamente “Nzinga Mbandi e as Guerras de Libertação em Angola”, “Rainha Ginga: Guerreira de Angola” e “Ginga de Angola: Memórias e Representações da Rainha Guerreira na Diáspora”.
A Trilogia, segundo o autor, começou em 2011, com o lançamento do primeiro volume com o título, “Os Primeiros Passos da Rainha Njinga”, de 236 páginas, publicado sob a égide da Editora “O Cão Que Lê”. Socorrendo a concepção espaço-temporal de certa verdade oral, nesta obra, é narrada a história de uma Rainha, filha de escrava, desde o seu nascimento, em 1582.
Esta menina de beleza felina, educada entre duas culturas, transforma-se numa defensora da soberania do reino onde nasceu, superando nesse percurso de vida, as mortes dos seus parentes mais próximos.
O segundo surge no ano seguinte, 2012, com o título “O Regresso da Rainha Njinga” e foi apresentado no mês de Dezembro, por ocasião do 349º aniversário da morte da soberana do império Ngola.
É um romance focado no poder e na representação feminina de Njinga Mbande, que exerceu uma grande importância para o seu povo contra a dominação do povo Mbundu pelos portugueses que ocuparam os seus territórios, propagando a Fé Católica como forma de dominá-los.
O terceiro
Já o terceiro e o mais recente desta trilogia intitula-se “Os Passos Decisivos da Raínha Njinga” e tem o lançamento marcado para esta Sexta-feira,3, no Restaurante Pôr do Sol, Distrito Urbano do Benfica.
O livro narra a trajectória de Nzinga, nascida em 1582, também conhecida por Jinga ou Ginga, a Rainha dos Reinos do Ndongo e da Matamba, no século XVII, que governou essas localidades por um período de aproximadamente 40 anos – depois do seu pai, Mbande a Ngola, e do seu irmão, Ngola Mbande.
Investigação e contribuições
Para dar maior sustentação às obras, o escritor resolveu alargar a sua pesquisa por via de um recurso a bibliografias no Brasil e Portugal.
Esta acção investigativa de John Bela foi extensiva às localidades de Massangano, Kambambe e à Ilha de Ndala a Ngonga, na província do Cuanza Norte, este último, por sinal, o lugar onde a Rainha deixou ficar as suas jóias.
Ainda no quadro desta investigação, o escritor recordou que voltou a escalar as Pedras de Mpungu a Ndongo, onde teve um contacto prévio com ilustres figuras conhecedoras orais da vida da soberana do Reino do Ndongo e da Matamba, das quais, o Clérigo Inácio e o Rei do Ndongo.
O escriba disse ter ido também a Kakulu Kabassa, uma das capitais do Reino do Ndongo, socorreu-se da releitura de livros e o resultado dessa pesquisa não coube em apenas mais um livro.
Os trabalhos de pesquisa do autor permitiram assim conhecer a história de outros países como a Holanda, a luta pela restauração de Portugal que culminou com a independência da Espanha, a 1 de Dezembro de 1640, assim como o período da escravatura no Brasil, com Ascensão do Kilombo dos Palmares por Nganga a Nzumba.
Fascínio pela escrita
John Bella, pseudónimo de Jorge Marques Bela, nascido a 30 de Setembro de 1968, no município do Sambizanga, em Luanda, começou a escrever aos 12 anos, tendo ingressado na Brigada Jovem de Literatura em 1984.
Escritor e jornalista, formou-se em Jornalismo no Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEI) e veio a exercer a docência, como professor primário na capital do país.
Membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA) exerceu funções de secretário para a Esfera Cultural e Financeira.
Integrou, como muitos outros jovens escritores seus contemporâneos, o colectivo literário “Ohandanji”.
Enquanto jornalista colaborou em vários jornais e revistas nacionais, nomeadamente o suplemento do Jornal de Angola intitulado “Vida e Cultura”, o Semanário Correio da Semana e a Revista Mwanya, órgão literário da BJLA.
Escritor da “novíssima geração”, denominada por Luís Kandjimbo como a “Geração das Incertezas”, Jonh Bella reflecte, na sua poesia, as angústias e desilusões decorrentes de uma situação de fome, de miséria, de corrupção e de opressão que a Independência do país já deveria ter banido.
Na linha dos poetas da sua geração, os seus textos são perpassados por um núcleo temático recorrente, assente numa desilusão angustiante do “eu lírico” e que resulta de uma crise profunda face à utopia de uma Angola livre e independente, capaz de proporcionar os mais elementares direitos aos seus cidadãos.
Com uma visão crepuscular da realidade, e como a grande maioria dos poetas da geração de 80/90, o autor recorre à metáfora do mar como o espaço privilegiado de confidências e de lamentações.
Associado ao mito de Kianda (a deusa das águas), este espaço surge em John Bella como o espaço tumular que simultaneamente é capaz de conter os “poderes mágicos” que dão vida aos cultos africanos: “O mar/esqueleto da vida/vem beber na pedra da saudade(…)”. Desta forma, mar e mulher, unidos como um só elemento, simbolizam, por um lado, a frustração e desânimo do sujeito poético e, por outro, a esperança do cumprimento da utopia.
Membro da União de Escritores Angolanos (UEA), escritor e jornalista prestigiado, colabora nos programas radiofónicos “Boa Noite Angola” e “Um Jovem, Uma Cultura” da Rádio Nacional de Angola (RNA) e no programa televisivo “Njila”, falado em kimbundu (língua nacional), da Televisão Pública de Angola (TPA).
A sua obra figura em várias antologias, entre as quais a Antologia do Mar na Poesia Africana de Língua Portuguesa do Século XX, coordenada por Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco e editada pela Editorial Kilombelombe, aquando das comemorações do 25.º aniversário da independência de Angola.
Em 1995, publicou o livro de poesia Água da Vida, prefaciado pelo reconhecidíssimo escritor angolano Uanhenga Xitu, com o qual ganhou o prémio Galax, em 1996. Em 2001, publicou Panelas Cozinharam Madrugada e o conto infantil Caixa Mágica, e, em 2003, lançado em Luanda, o Cântico Romântico à Paz. Autor de vários livros de poesia, com enfoque na literatura infanto juvenil, John Bella estreiouse no género romance, em 2011, com a obra “Os Primeiros Passos da Rainha Njinga”, tendo, no ano seguinte, lançado o segundo romance intitulado “O Regresso da Rainha Njinga”.